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A relevância e o interesse da Jacobin dependem completamente do movimento socialista. À medida que ele prospera, nós também prosperamos. Se ele morrer, provavelmente esta revista também morrerá.

Feliz aniversário, Jacobin! Um brinde por mais dez anos de luta.

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Tradução
Deborah Almeida

Conheça a história da revista Jacobin, fundada neste mês em 2010, que conquistou o coração de muitos militantes que hoje defendem abertamente o socialismo e prometem mudar o velho mundo - que está cada dia mais decrépito.

Este mês é o décimo aniversário da revista Jacobin. Para marcar a ocasião, estamos publicando alguns artigos de colaboradores e solicitando seu apoio para que possamos sobreviver por pelo menos mais uma década. Considere se tornar um assinante ou doar para a Jacobin Brasil clicando aqui.


Quando Bhaskar Sunkara decidiu, há dez anos, começar uma revista socialista, nós, jornalistas socialistas mais velhos, ficamos impressionados e também nos divertimos. Admiramos sua coragem. O garoto ainda não tinha se formado na faculdade e ele não parecia perceber o quão marginal era o socialismo. Ou talvez, como um fã dos Knicks, ele estivesse apenas filosofando sobre a derrota.

Conversamos sobre o projeto. Conseguimos que nossos amigos se inscrevessem. Oferecemos orientação quando nos solicitaram. Nunca pensamos que a Jacobin duraria dez anos – muito menos que se tornaria tão lida e influente como é hoje.

Ainda assim, a Jacobin parecia incrível, graças aos grandes designers do projeto. Era inteligente e intelectual, evitando chavões e clichês de esquerda, mas também acessível. Também era franca e assumidamente socialista.

Na época, quase não havia mídia socialista nos EUA. Havia mídia “independente” ou “alternativa”, palavras cautelosas que refletiam a natureza camuflada do discurso de esquerda desde a era Reagan. Quase não usávamos a palavra “esquerda” naquela época, muito menos “socialista”. Havia semanários alternativos como Village Voice da cidade de Nova York ou City Paper da Filadélfia, que, em sua maioria, não eram tão radicais (embora fornecessem uma cobertura local e análises culturais inestimáveis, seu desaparecimento da paisagem foi uma perda genuína). Menos inspirador, haviam trapos cheios de erros de digitação, como a revista Z. Há a revista liberal The Nation, que publicou muitos escritores socialistas (incluindo quem vos fala).

Um punhado de pequenas organizações socialistas e pessoas afiliadas a elas dirigiam publicações, das quais a mais duradoura e essencial era (e ainda é) Labor Notes.

Sempre havia algum texto mais animado na The Nation e nos outros semanários, bem como em alguma blogosfera liberal dos primórdios da internet, mas, por outro lado, a maioria das publicações “independentes” eram um tédio e uma tarefa árdua de ler, bem como, em termos de design, uma monstruosidade. Mas, de certa forma, isso não foi inteiramente culpa deles. Sua aparência e tom hostis refletiam a causa perdida desencorajadora que era a esquerda (além disso, eles não tinham Remeike Forbes para ressuscitar o senso estético outrora lendário dos radicais).

Algumas capas da revista.

Para ser relevante, encontrar um público e, acima de tudo, encontrar qualquer coisa para cobrir além de como tudo é terrível, a mídia dissidente precisava de movimentos mais vibrantes. Sem esses movimentos, a mídia, por mais bem produzida ou bem escrita, tem pouco ou nenhum impacto no mundo além de “aumentar a conscientização”. Este objetivo nebuloso e desanimador (mas amigável ao financiador!) justificou a existência da mídia “alternativa” (e muito “ativismo” progressista, especialmente no complexo industrial sem fins lucrativos) ao longo dos anos 90 e início dos anos 2000.

Não havia um movimento socialista significativo quando a Jacobin começou. A esquerda estava fraca e desmoralizada. Desde o declínio das lutas antiglobalização dos anos 90 e a organização anti-guerra da próxima década, parecia que não podíamos mais organizar protestos de massa, muito menos competir pelo poder do Estado, afetar o imaginário popular, expandir nosso front de lutas ou obter vitórias.

Em 2011, um ano após o início da Jacobin, o Occupy Wall Street começou. Embora as ocupações – perto de Wall Street, na cidade de Nova York, mas também em todo o país – não tenham durado muito, elas canalizaram e organizaram o descontentamento com nosso sistema econômico e politizaram inúmeros jovens. Mesmo que de forma um tanto imprecisa, o Occupy começou a descrever o problema e sugerir o remédio: 1% da população estava acumulando poder e dinheiro, enquanto, lamentavelmente, os outros 99% tinham cada vez menos – mas reuniam o poder para mudar a situação porque eram a esmagadora maioria.

No ano seguinte, 2012, um garoto de dezessete anos chamado Trayvon Martin foi morto por um segurança racista, desencadeando um movimento de protesto em defesa da vida dos negros que tem ocorrido de forma intermitente desde então, culminando talvez no maior levante de nossa nação nos últimos anos. O Occupy pode ter durado pouco, mas depois de Trayvon, os norte-americanos passaram o resto da década mostrando que havíamos aprendido a voltar às ruas.

Enquanto isso, milhões em todo o mundo começaram a sofrer, testemunhar e antecipar a devastação da mudança climática, levando muitos a questionar a crueldade de um sistema que valoriza os lucros sobre todas as formas de vida, incluindo a de milhões de seres humanos. As pessoas começaram a colocar seus corpos no caminho de projetos que usavam combustíveis fósseis, muitas vezes impedindo-os. Um dos mais famosos desses protestos aconteceu no Oleoduto de Dakota construído a reserva indígena Standing Rock.

Então Bernie Sanders concorreu à presidência se auto-declarando ser um socialista democrático. Embora ele não tenha vencido as primárias de 2016 ou 2020, ele conquistou incontáveis ​​corações, convertendo-os à ideia de socialismo e transformou tantos observadores passivos de esquerda em ativistas sérios. Os Socialistas Democráticos da América (DSA) explodiram com o aumento de membros naquele ano. Dois anos depois, uma jovem barman e organizadora chamada Alexandria Ocasio-Cortez, que protestou em Standing Rock, concorreu ao Congresso e ganhou. O número de membros da DSA cresceu com dezenas de milhares de pessoas e chegou a setenta mil militantes.

Jacobin prosperou durante este tempo, como a publicação certa para este momento socialista. Mas também, durante esses anos, o ecossistema da mídia socialista mudou completamente. A Jacobin foi acompanhado por novas publicações de esquerda como Current Affairs, Damage e Viewpoint, bem como por mais podcasts socialistas do que posso citar aqui. Essas publicações e podcasts não sofrem com a monotonia e a previsibilidade associadas à mídia de esquerda pré-Occupy. Muitos são engraçados e resistem à piedade da esquerda. Gostando deles ou não, junto com toda a organização, ajudam a conquistar adeptos para a causa socialista. Também estamos vendo a ascensão do YouTube socialista, um contra-ataque necessário ao YouTube dos incels de direita. Agora, Jacobin até hospeda podcasts e um programa de vídeo próprio.

Os socialistas estão concorrendo em eleições municipais e estaduais – e vencendo. Eles estão lutando pela proteção dos inquilinos e vencendo. Eles estão se organizando para implementar o Medicare for All, indo às ruas por justiça racial e climática e se organizando contra locais de trabalho inseguros. À medida que fazemos esse trabalho, nossos números continuam crescendo.

A relevância e o interesse de Jacobin dependem completamente deste movimento socialista. À medida que ele prospera, nós também prosperamos. Se ele morrer, provavelmente esta revista também morrerá. Mas, no momento em que escrevo, estamos otimistas de que o movimento continuará. Continuaremos tentando contribuir da melhor maneira possível.

Sobre os autores

é colunista da Jacobin, jornalista freelancer e autora de "Selling Women Short: The Landmark Battle for Workers’ Rights at Wal-Mart".

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Published in América do Norte, Arte, Livros and Notícia

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