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Fundador e CEO da Amazon.com, Jeff Bezos, em Seattle, Washington, 2014. (David Ryder / Getty Images).

Empresas como Amazon contratam espiões para reprimir formação de sindicatos o tempo todo

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Tradução
Rafael Grohmann e Lucas Milanez

A Amazon foi pega em flagrante contratando especialistas para espionar seus trabalhadores. Infelizmente, a prática é comum - a maioria das grandes empresas multinacionais tem divisões de vigilância que se confundem com as agências de inteligência dos governos, criando um aparato de segurança poderoso à disposição do governo federal e das empresas privadas para usar coagir os trabalhadores.

Recentemente a VICE noticiou que a Amazon abriu duas vagas de empregos para “analistas de inteligência” destinados a monitorar ameaças que, entre outras, incluía a organização dos trabalhadores. A empresa imediatamente retirou a postagem, alegando que foram feitas por engano, mas as capturas de telas mostram a Amazon explicitamente procurando por especialistas para monitorar “trabalho organizado, grupos ativistas, líderes políticos hostis”, entre outros.

Os trabalhadores da Amazon não são sindicalizados e a empresa quer mantê-los assim. Jeff Bezos não seria o homem mais rico do mundo se não fosse versado nos fundamentos da maximização do lucro – entre eles, a supressão dos custos do trabalho e a fuga das regulações. A sindicalização é antitética a esse objetivo porque os sindicatos existem para garantir melhores salários e condições de trabalho mais seguras e confortáveis, o que eleva os custos do trabalho e diminui os lucros. Se Bezos conseguir o que quer, nunca haverá um galpão sequer com trabalhadores sindicalizados na Amazon.

A oposição da Amazon à sindicalização e a outras formas de ativismo trabalhista é bem conhecida. A empresa não tem vergonha de esconder isso, como quando, no início deste ano, demitiu o gerente de um galpão, Christian Smalls, por organizar trabalhadores contra práticas que os colocaram em risco por causa do coronavírus no local de trabalho. Então, os executivos da empresa traçaram um plano secreto para difamá-lo. Em uma estranha reviravolta lógica, acusaram-no de colocar seus colegas de trabalho em perigo ao retornar para o prédio e possivelmente expo-los à Covid-19.

Não deveria ser surpresa que uma empresa anti-trabalhadores gaste dinheiro para espionar ativistas e políticos críticos (Alexandria Ocasio-Cortez e Bernie Sanders são exemplos que logo vem à mente). As corporações têm recrutado investigadores particulares e formado suas próprias milícias para monitorar e suprimir a organização dos trabalhadores desde os primórdios do capitalismo industrial. Em 1907, o taquígrafo infiltrado na agência de detetives Pinkerton escreveu um livro revelador, The Pinkerton Labor Spy, expondo as atividades de seu ex-chefe. A capa do livro retrata um lobo em pele de cordeiro. As atividades detalhadas nele eram parte do curso normal das coisas – o único detalhe era que alguém havia decidido divulgá-las.

A espionagem profissionalizou-se após o fim da Guerra Fria, quando espiões da CIA, do FBI e da NSA fundaram associações profissionais para se firmarem no setor privado. As primeiras empresas multinacionais a contratar esses especialistas treinados pelo governo focaram na coleta de informações confidenciais sobre concorrentes empresariais. Isso evoluiu para uma verdadeira corrida em relação à espionagem corporativa, em que as empresas foram cada vez mais compelidas a criar setores semelhantes como uma questão de autodefesa e para se manterem competitivas.

Nas grandes empresas, a proliferação de especialistas da inteligência treinados pelo governo aumentou a capacidade das empresas espionarem qualquer um que ameace seus resultados financeiros, desde grupos de defesa do meio ambiente e dos direitos humanos até delatores, jornalistas e, é claro, sindicatos e trabalhadores que demonstrem vontade em se organizarem. Se uma pessoa ou organização se manifesta abertamente por melhorias salários ou regulações mais rígidas, as maiores corporações do mundo estão de olho neles, e elas estão contratando ex-funcionários do governo para fazer isso. 

Muitas empresas multinacionais agora têm seus próprios setores de segurança global, que, por sua vez, rivalizam com as agências de inteligência de vários países. Para formar essas divisões, empresas como Amazon, Coca Cola, Walmart, McDonald’s e Monsanto misturaram-se com equipes de especialistas em vigilância treinadas pelo governo. A unidade de inteligência do Walmart, por exemplo, que emprega 400 pessoas, é composta em grande parte por ex-agentes de inteligência do governo e está sob a direção de um ex-agente do FBI. A unidade também trabalha com a fabricante de armas Lockheed Martin – que é conhecida por se aliar ao FBI, à CIA e à NSA em operações de vigilância – para monitorar as atividades dos trabalhadores. 

Em última análise, não estamos apenas olhando apenas para uma porta giratória que mistura o público com o privado, mas para uma relação totalmente promíscua em que um nebuloso e singular aparato de segurança, que está tanto no governo dos EUA quanto nas empresas multinacionais, atua para coagir trabalhadores simultaneamente.

Trabalhadores organizados estão, naturalmente, na mira desse aparato, porque os sindicatos existem para representar os interesses dos trabalhadores, os quais são diametralmente opostos aos interesses dos capitalistas. Quanto mais os trabalhadores produzem e menos são pagos por isso, mais as corporações lucram. As empresas, portanto, sempre procuram minar e frustrar manifestações pró-sindicalização – elas sempre farão assim e a espionagem é parte integral desse trabalho.

As listas de vagas da Amazon estão recebendo muita atenção da imprensa. Esta é a boa notícia. A má notícia é que esta é só a ponta do iceberg.

Sobre os autores

faz parte da equipe de articulistas da Jacobin.

Cierre

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Published in América do Norte, Análise, Corrupção and Tecnologia

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