UMA ENTREVISTA DE
Marcel BoisBrigitte Studer é um dos historiadores mais versados no tema do socialismo no mundo germanófono. Seu último livro, Reisende der Weltrevolution: Eine Globalgeschichte der Kommunistischen Internationale [Viajantes da Revolução Mundial: Uma História Global da Internacional Comunista] – lançado em alemão no ano passado – pinta um retrato detalhado de um grupo de comunistas transnacionais de 1920 em diante. Servindo como funcionários e agentes da Internacional Comunista – ou Comintern – de Moscou a Berlim e Tasquente a Wuhan, esses dedicados comunistas fizeram tudo a seu alcance para levar adiante a revolução mundial.
Um século depois, o que resta da luta deles? E por que vale a pena estudar o Comintern em um mundo que mudou tão radicalmente desde o ápice do movimento comunista? Marcel Bois conversou com Studer acerca das esperanças e decepções desses militantes que encontraram no Comintern uma força que lhes deu sentido na vida – e um trabalho.
MB
Seu novo livro, Reisende der Weltrevolution, examina a Internacional Comunista nos anos 1920 e 1930 como um espaço de trabalho. O Comintern era um bom empregador? Era lucrativo ser um revolucionário profissional?
BS
Não, certamente não era lucrativo no sentido de ter uma renda elevada, muito menos para angariar economias significativas. O que fazia ser atraente trabalhar no aparato do Comintern era a perspectiva de ativismo político em tempo integral combinada a um grau de segurança financeira.
Não é fácil encontrar fontes a respeito desse aspecto, mas os documentos que temos sugerem que, a princípio, os funcionários do Comintern de meados dos anos 1930 – recebiam o mesmo salário de um trabalhador qualificado. Eles também deixam claro que tudo era regulado com muita precisão, assim como as despesas extras ou as condições nas quais os funcionários eram autorizados a ir a viagens de negócios. Nesse sentido, o Comintern já era um empregador bastante moderno.
MB
O trabalho dos funcionários do Comintern era parecido com o quê?
BS
O Comintern rapidamente cresceu como um complexo aparato com múltiplas ramificações. Existiam vários departamentos em Moscou, incluindo um grande departamento de tradução. O trabalho era dividido em tarefas políticas e técnicas – os primeiros, em geral, eram designados aos homens, e os últimos às mulheres, ainda que existissem exceções.
O que é impressionante é como os papéis das pessoas no aparelho mudavam rapidamente, a depender de onde o trabalho era necessário em um dado momento. Havia emissários que assumiam tarefas de supervisão, bem como instrutores mais técnicos. Muitas vezes, as mulheres eram leitoras, mensageiras, estenotipistas e secretárias, mas também trabalhavam como editoras ou espiãs. A maioria delas era posta para arquivar incontáveis relatórios, mesmo em missões estrangeiras.
MB
A partir do trabalho de outros historiadores, sabemos que era bem difícil para as pessoas que trabalharam para o Partido Comunista da Alemanha nos anos 1920 encontrar empregos no mercado de trabalho regular. Acontecia o mesmo em outros países?
BS
Sim, definitivamente. Essas pessoas eram estigmatizadas. Elas ficavam marcadas como comunistas – como extremistas políticos, por assim dizer – e, dessa forma, não eram exatamente populares com seus empregadores.
Além disso, trabalhar para o Comintern implicava regras e condições de trabalho exclusivas que alienavam seus funcionários de uma vida normal da classe média. Ainda que eles, em geral, trabalhassem muito, não estavam sujeitos a um cronograma rígido – ao contrário, digamos, dos operários de fábrica. Agentes em missões estrangeiras, por exemplo, não tinham horas de trabalho regulares. Eles eram bem mais livres, ao menos em termos de como eles estruturam suas vidas cotidianas – ideologicamente, é claro, isso não era o caso.
Até certo ponto, trabalhar para o Comintern se assemelhava à precariedade e à incerteza da vida de um artista: hoje você está em um lugar e amanhã em outro lugar. Um dia de trabalho tinha início de manhã, outros dias de reuniões eram à noite. Você precisava tomar decisões e trabalhar com várias pessoas diferentes. Nesse sentido, o trabalho exigia inúmeras habilidades. Ao mesmo tempo, a depender do contexto, permitia também um grau de autonomia.
MB
Pelo que você nos contou até o momento, parece que você assume uma abordagem bem diferente no estudo sobre o Comintern do que têm os estudos anteriores.
BS
Isso é verdade. A maioria das histórias do Comintern lida principalmente com resoluções políticas, reuniões e estruturas. Esses autores buscam descobrir como era a estrutura da organização ou quantos membros ela tinha. Sem dúvida, isso é importante e um trabalho necessário, mas gostaria de mostrar como esse tipo histórico específico de ativismo político tomou forma. Como foi a experiência desse grupo de pessoas?
Queria saber não apenas quais eram as convicções dessas pessoas, mas também como eles tentaram traduzi-las em ação – e em muitas mudanças. Como eles lidavam com as diretivas políticas e padrões de ação que deveriam se aplicar em um ambiente estrangeiro? Nesse sentido, meu livro é uma história de práticas comunistas.
MB
Que descoberta mais lhe surpreendeu?
BS
O alto grau de improvisação. Muito do que nós percebemos como algo bastante ordenado e estruturado foi, na verdade, realizado de forma bem experimental pelos envolvidos naquela época. Os protagonistas tinham que assumir as atividades deles e perguntar a si próprios: o que é isso e como posso agir aqui?
Além disso, tinham que continuamente negociar como uma resolução política poderia ser botada em prática – com seus parceiros, com seu ambiente e com outros funcionários da Comintern. Não havia modelos nem treinamento formal, exceto talvez mais tarde a Escola Internacional Lênin em Moscou, que só foi fundada em 1926. De início, processos de aprendizagem individuais dentro de um coletivo estavam na ordem do dia.
MB
A perspectiva do seu livro é centrada fortemente nos próprios atores. O que significava ser comunista nos anos 1920?
BS
Isso depende do país em que uma pessoa estava ativa. Minha pesquisa analisou os ativistas internacionais do Comintern, não funcionários individuais de partidos nacionais. Para esses ativistas do Comintern, a atividade deles implicava uma espécie de alienação de sua antiga pátria. Eles tinham que se definir como internacionalistas na prática e agir de acordo.
Ao mesmo tempo, o trabalho significava também fazer parte de uma comunidade. Isso ajuda a explicar por que muitos se mantiveram comunistas, apesar de todas as dificuldades e adversidades que enfrentaram. Eles pertenciam a uma comunidade e encontraram bastante solidariedade por lá, mas também conflitos e ciúmes – como em qualquer meio fechado. Essa sensação de pertencimento deu significado à vida deles.
Para alguns, o trabalho também lhes concedeu um status profissional que, de outra forma, nunca teriam obtido. Trabalhar para o Comintern era bem diferente de trabalhar em uma fábrica. Aqui era possível ascenderem, ganharem reconhecimento e, como diria Pierre Bourdieu, acumularem capital político. Enquanto isso, todas as pessoas envolvidas trouxeram com elas um capital ativista. Ninguém que se juntou ao aparelho de Comintern era um novato político. Eles já tinham experiência em conflitos políticos, greves e revoluções, como na República Soviética da Baviera em Munique.
MB
A partir disso, é possível afirmar que os intelectuais que tinham perspectivas de carreira além do Comintern eram mais propensos a romper com o aparelho do que as pessoas cuja única opção era voltar para a fábrica?
BS
Não necessariamente. Afinal, o trabalho representava frequentemente um profundo compromisso pessoal. Desse modo, para muitas dessas pessoas, a ruptura com o comunismo representava um rompimento consigo mesmas. Era experimentado como uma traição a seus ideais – tão grave quanto o fracasso pessoal. Os muitos anos de compromisso e os muitos sacrifícios teriam sido em vão.
A esse respeito, não necessariamente era mais fácil para os intelectuais romperem com o Comintern, sobretudo porque eles também foram politicamente marcados e encontrariam dificuldade em caminhar profissionalmente em outro lugar. Talvez seja mais fácil para um músico que para um escritor.
Podemos dizer basicamente que tal forma de ativismo englobava o próprio indivíduo por inteiro. Não era uma atividade política como, por exemplo, a filiação ao Partido Social-Democrata (SPD) é hoje. Se você renunciar a ele, vida que segue. Contudo, ao deixar o Comintern, a pessoa perdia não somente seu senso de significado da vida, mas todo o seu mundo. Isso é difícil para qualquer um.
MB
Você conta a história do Comintern como uma história da vida em interseção de aproximadamente duas dúzias de indivíduos, todos tendo o que você chama de “biografia transnacional”. O empresário de mídia de Berlim Willi Münzenberg é uma dessas pessoas, tal qual a fotógrafa italiana Tina Modatti ou o comunista indiano Manabendra Nath Roy. Como você escolheu em quem se concentrar?
BS
Minha ideia era, de fato, escrever a história do Comintern com base em três revoluções do período entreguerras: o miserável fracasso que foi a Revolução Alemã em 1923, a Revolução Chinesa em 1927 e a Revolução Espanhola em 1936. Por isso, busquei protagonistas que estiveram ativos nesses lugares durante esses três momentos. Como ficou demonstrado, a permanência desse ativismo era rara – só alguns indivíduos muito interessantes eram ativos de verdade nas linhas de frente durante o período deles de Comintern.
Assim, eu adicionei mais ativistas à amostragem. Eles precisavam ser pessoas a respeito dos quais eu poderia procurar fontes e literatura acadêmica, de preferência de uma língua que falasse. A faceta chinesa do meu livro é claramente contada a partir do ponto de vista ocidental, não dos comunistas chineses, simplesmente porque não consigo ler suas fontes.
Além disso, busquei pessoas que refletissem a diversidade do começo do Comintern. E por último, mas não menos relevante, para mim era importante que meus protagonistas topassem um com o outro por diversas vezes. Dessa maneira, eles poderiam aparecer em vários lugares no livro.
Eu mesmo fiquei surpreso com a quantidade de espaços em que os caminhos de vida se cruzaram. Berlim, terra-natal do sexólogo alemão Magnus Hirschfeld, por exemplo, foi um desses lugares. Willi Münzenberg e Babette Bruto moraram temporariamente lá, enquanto diversos outros comunistas proeminentes foram e voltaram para lá, tais quais Heinz Neumann, Georgi Dimitrov e Manabendra Nath Roy. Todos eles se conheciam e alguns deles se apaixonaram um pelo outro. Achei isso interessante.
MB
Amor entre os comunistas? O que você pode nos contar a respeito dos relacionamentos deles?
BS
Eles cultivavam estilos de vida bastante livres até certo ponto, o que é algo que a gente realmente não associa com o comunismo tanto quanto com o feminismo dos novos movimentos sociais dos anos 1970. Não quero só afirmar que as mulheres eram sexualmente mais livres, mas também que viviam em relacionamentos bem incomuns. A agente secreta soviética Ruth Werner, por exemplo, tinha filhos de três homens diferentes, dois dos quais eram temporariamente cuidados por seu antigo marido. Nesse sentido, formas muito modernas de vida já vinham sendo praticadas.
Essa fase inicial do Comintern é relevante para a história mais ampla do século XX, visto que acredito que os modelos culturais foram tentados aqui e que, mais tarde, passaram a ser praticados – não diretamente, é claro, mas tiveram um impacto.
MB
Vamos dar um passo de volta no tempo. Em primeiro lugar, por que o Comintern ascendeu?
BS
A Internacional Comunista foi fundada logo em seguida ao término da Primeira Guerra Mundial – em outras palavras, em um momento de grande sublevação social, agitação e conflito. Milhões morreram nessa guerra, e muitos mais foram submetidos à pobreza. Desse modo, a rejeição à guerra era muito forte: muitas pessoas consideraram os regimes que provocaram a guerra responsáveis pelas condições que agora prevaleciam. Isso levou a uma radicalização em larga escala da população na Europa Central, sobretudo o movimento dos trabalhadores – também inspirado pela Revolução Russa de 1917.
Fortes movimentos sociais emergiram e a monarquia foi derrubada na Alemanha e na Áustria-Hungria. Aqui os bolcheviques viram uma janela de oportunidade para consolidar seu próprio regime – ou menos para impô-lo em termos de poder e geopolítica e mais para transformar as condições sociais por meio de uma revolução proletária a nível global. Esse era o momento político por trás da fundação do Comintern.
MB
Que impacto teve o colapso da Internacional Socialista?
BS
Foi algo central. Os bolcheviques viram que o vento soprava e tentaram construir um novo internacionalismo no momento certo, já que, durante a guerra, a Internacional Socialista havia ruído após seus partidos-membros optarem mais pela solidariedade nacional que pela internacional.
Este foi precisamente o vácuo que o Segundo Congresso Mundial de Comintern em Moscou em 1920, que eu considero como seu verdadeiro congresso fundador, lançou sobre si mesmo. Delegados de quase todo o mundo se reuniram, às vezes com grande dificuldade, e puderam participar desse novo internacionalismo. Não devemos subestimar esse momento – a proclamação em si dele não criou uma Internacional, mas sim a experiência coletiva em Moscou, o ponto do encontro ser mais transnacional.
MB
O que você pode dizer sobre a composição do Congresso?
BS
A grande diversidade de participantes é impressionante. O espectro variou da pequena e desconhecida Hilde Kramer a Lênin e Trotsky – em outras palavras, de estenógrafos e intérpretes a personalidades renomadas e líderes do movimento internacional de trabalhadores.
Inúmeras mulheres participaram também do Congresso, algo que os pesquisadores dedicaram pouca atenção até agora. Elas eram minoritárias, cerca de 10% dos delegados segundo a ata, mas essas figuras não refletem toda a realidade. Afinal, alguém tal qual Kramer, que compareceu, mas não era uma delegada, não foi incluída nas estatísticas.
MB
Em geral, sua pesquisa inclui um número desproporcional de mulheres. Por que o gênero é uma perspectiva importante ao estudar a história da Internacional Comunista?
BS
Sabemos os nomes de um total de 30 mil funcionários da Comintern. Destes, cerca de um sexto eram mulheres, ou 16%. Acho isso relevante, em primeiro lugar, como uma indicação de que o comunismo também levou em si uma esperança pela igualdade de gênero. Hoje, talvez usaríamos o termo “feminismo”, ainda que as comunistas dessa época não se chamassem feministas. Essa palavra foi reservada para o chamado movimento feminino “burguês”.
Queria retratar muitas mulheres porque elas tendem a ser sub-representadas em estudos sobre o Comintern. Muitas vezes, as mulheres não aparecem em fontes primárias e, assim, passam despercebidas nos estudos históricos. Denomino isso de “mimetismo historiográfico”: historiadores reproduzem a cegueira de suas fontes, repetindo-a, por assim dizer. Eu gostaria de corrigir e contrabalançar isso.
Além disso, eu queria demonstrar que, caso você queira estudar o Comintern como um aparelho, como uma organização global, você não pode só se concentrar nos secretários do Comitê Executivo. É preciso levar em conta a diversidade de funções que existiam dentro dele e a quantidade de tarefas diferentes com que lidava. As mulheres desempenharam um papel importante aqui. Nessa hierarquia funcional baseada em uma divisão do trabalho, elas eram chamadas especialmente para tarefas técnicas – ou seja, funções subordinadas que eram, todavia, indispensáveis para o funcionamento do todo.
MB
Em setembro de 1920, foi realizado em Baku o Congresso dos Povos do Oriente, com 1.900 delegados da Ásia e da Europa. Você escreve que seu impacto não deve ser subestimado, pois ele “estabeleceu a base para a integração de novos grupos à luta do movimento dos trabalhadores. Por meio do Congresso, o Comintern – que, até então, concentrava-se na categoria de classe – se abriu às categorias de gênero e ‘raça’ e suas interações”. Assim, o Comintern advogava a teoria da interseccionalidade antes de ela existir?
BS
[risos] Bem, certamente não de maneira explícita. Eu também diria que os líderes de Comintern tinham bastante dificuldade em pensar as diferentes categorias de discriminação juntas. Para eles, a classe sempre permaneceu na categoria central, mas eles viram que a opressão com base no gênero ou etnia exerce também um papel importante e buscaram integrar os grupos sociais afetados por ela.
O Congresso de Baku é interessante porque existia quase uma espécie de ação afirmativa: as mulheres foram deliberadamente eleitas para o Congresso Executivo, em alguns casos, tendo uma base de paridade, embora fosse realmente uma minoria bem pequena. Além disso, questões de igualdade de gênero tiveram bastante importância. Essa abordagem é notável, sobretudo quando levamos em conta o ambiente no qual aconteceu o congresso – uma parte do mundo de uma cultura islâmica, altamente patriarcal e conservadora.
Se essa abordagem foi bem-sucedida é outra questão. Em todo caso, os bolcheviques puseram as coisas em movimento. Foi um momento para reunir os movimentos de libertação ocidentais e orientais – embora em um ato voluntário.
MB
Muito espaço em seu livro é dedicado aos tópicos sobre anti-imperialismo e suas redes transcoloniais. Qual o papel elas desempenham para a política comunista no período entreguerras?
BS
O anti-imperialismo foi teoricamente um elemento importante da concepção política e teórica dos bolcheviques, mas se manteve bem abstrato – especialmente porque as ligações entre os atores anticoloniais e os centros de gravidade de Comintern, lugares onde ele teve uma presença forte, eram quase inexistentes. Havia ativistas anticoloniais na França que, por muito tempo, não tinham contato com os comunistas. Isso era desejado em teoria, mas a maioria dos partidos comunistas tinha outras prioridades. Eram necessários mediadores entre as ambições políticas e resoluções do Comintern e a prática política.
Um desses mediadores foi Willi Münzenberg, que se envolveu bastante e realizou também muitas coisas. Ele conseguiu estabelecer redes em escala global. Porém, sempre precisou justificar suas iniciativas e obter permissão – e, muitas vezes, era confrontado com um aparato que dizia: “Não, não estamos fazendo isso agora”.
Em parte, os medos de tomar a decisão política errada desempenham um papel. Às vezes, entretanto, havia também muito mais perguntas banais por trás disso, como o quanto custariam essas ações. Às vezes, simplesmente não havia recursos humanos, ou o aparelho optou por implantá-los em outro lugar. Considero bem interessante essa conexão entre os ideais e considerações tão pragmáticas e pé no chão.
MB
Os historiadores estudaram a stalinização do movimento comunista nos anos 1920 – a erosão da democracia interna, engessamento burocrático e também a crescente dependência de Moscou – por um longo tempo. Pode dizer que efeito esse processo teve sobre os ativistas cujas vidas você seguiu?
BS
Bem, em termos de como as coisas terminaram, um grande número daqueles que fugiram para a União Soviética e depois moraram e morreu lá como resultado do terror stalinista. O que, sem dúvida, é a parte mais trágica.
Todavia, mesmo antes disso, o trabalho deles ficou mais difícil. Por exemplo, as discussões dentro do Comintern se tornaram mais limitadas com o passar do tempo. Nem todas as posições eram aceitáveis, de modo que os protagonistas sempre tinham que sentir o caminho a seguir para descobrir o que ainda era possível ser dito ou quais opções eles poderiam propor.
Da mesma maneira, a hierarquia cada vez mais rígida influenciou suas possibilidades de ação. Você pode ver isso, por exemplo, com M. N. Roy. Ele foi enviado para ir a China mesmo preferindo lidar com a Índia, mas Stálin não lhe concedeu essa permissão.
O contraste com o início dos anos 1920 é impressionante. Por exemplo, as 21 condições de admissão à Internacional Comunista foram reforçadas pelos participantes não russos no Segundo Congresso Mundial. Em qualquer caso, os bolcheviques tiveram que fazer alguns compromissos. Isso não era mais necessário no começo dos anos 1930. Todos seguiam as diretrizes de Moscou – caso não o fizessem, seu financiamento seria cortado.