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Militante inglês e autor Edward Carpenter (1844-1929). (Frederick Hollyer / Arquivo Hulton / Getty Images)

A vida e o amor de Edward Carpenter

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Tradução
Gercyane Oliveira

O poeta socialista e um dos primeiros militantes na luta pelos diretos LGBT, Edward Carpenter, faleceu neste dia em 1929. A historiadora Sheila Rowbotham lembra como ele sobreviveu e se destacou com seus livros em meio à repressão da Inglaterra vitoriana.

Edward Carpenter foi um dos primeiros socialistas na Grã-Bretanha. Em 1883, Henry Hyndman, o fundador da Federação Social Democrática Marxista (SDF), o levou a uma reunião de revolucionários em Westminster Bridge Road, onde conheceu William Morris. Eles eram um dos vários grupos de ativistas fervorosos. As coisas estavam se movendo rapidamente – segundo o anarquista Peter Kropotkin, apenas dois anos antes, quando Hyndman chamou um “Congresso Socialista”, o evento havia sido tão pequeno que a maioria dos delegados pôde se reunir na casa da Hyndmans.

Edward Carpenter não era um recruta óbvio para a luta de classes. Nascido em 1844, ele havia sido criado em uma família Brighton de alta classe e se formou em Cambridge, tornando-se primeiro um coadjutor anglicano e depois um professor de Extensão Universitária, um movimento de educação para adultos. Suas palestras levaram Carpenter ao norte da Inglaterra, onde conheceu tanto feministas de classe média como Isabella Ford e estudantes da classe trabalhadora. Desconfortavelmente alienado de sua própria origem, ele se estabeleceu em uma casa de pedra, em Millthorpe, no Vale Cordwell, nos arredores de Sheffield. Seus novos amigos eram pessoas locais, fazendeiros, operários e um moedor de lâminas chamado George Hukin, por quem Carpenter se apaixonou.

Em sua autobiografia, My Days and Dreams (1916), Carpenter expressa seu repúdio ao mercantilismo na vida pública, a divisão de classes, a subordinação das mulheres, “a adoração de ações, a fome do coração humano, a negação do corpo e de suas necessidades”.  Ao contrário do capitalismo, ele adotou uma alternativa do “faça você mesmo”: a vida simples, e com isso fez uma crítica à devastação do meio ambiente pela industrialização. Ele ajudou a construir a independente organização Sociedade Socialista de Sheffield, difundindo-a pela Grã-Bretanha.

Durante os anos 1890, Carpenter sentou-se num barracão de madeira em seu jardim em Millthorpe, escrevendo sobre suas visões de uma sociedade melhor. Em seu relato advindos de uma longa viagem à Índia e Sri Lanka, Do Pico de Adão ao Elefanta: Esboços no Ceilão e na Índia (1892), ele se divertiu com os representantes portentosos do Raj e descreveu que, guiado por Ponnambalam Arunachalam, seu amigo de Cambridge, aprendeu muito com o Gnani Ramaswamy.

Entre 1893 e 1895, ele produziu três panfletos sobre sexo nos quais ele contestava tanto a supremacia masculina quanto o segredo prevalecente sobre as relações sexuais. A romancista Edith Ellis, que era casada com a psicóloga sexual Havelock Ellis, mas atraída pelas mulheres, aguardava ansiosa por suas “explosões sexuais”. Elas eram realmente explosivas, especialmente a terceira, o Amor Homogêneo e seu Lugar em uma Sociedade Livre, que foi impressa apenas para circulação privadamente, porque o amor entre pessoas do mesmo sexo não era considerado apenas como indecente – era ilegal.

Em Amadurecimento do amor (1896), Carpenter saúda as novas mulheres, intelectualmente inquietas e sexualmente rebeldes, que ele observava viajando desacompanhadas em ônibus e trens ou andando de bicicleta. Esta minoria resistente opinava com contundência contra o confinamento da era vitoriana.

O próprio Carpenter havia se apaixonado por um jovem chamado George Merrill, de uma família pobre de Sheffield. Atraídos desde seu primeiro olhar, em 1891, em um trem para Totley, os dois homens iriam se tornar companheiros para a vida toda. Os tabus sexuais não eram limites a serem contornados por Merrill; ele simplesmente ignorava a existência deles. E. M. Forster relataria mais tarde como, em uma visita a Millthorpe em 1914, que Merrill havia tocado seu “traseiro” e lhe libertou a capacidade de escrever seu romance Maurice.

No final da década de 1890 e início do século XX, a casa de Carpenter foi visitada por tropas de rebeldes e reformistas, conservadores da natureza, jardineiros da cidade, sindicalistas, ciclistas socialistas de Clarion, feministas, defensores do controle de natalidade, vegetarianos e cristãos radicais como o jovem Fenner Brockway, que era membro do Partido Trabalhista Independente (ILP). Mais tarde, Brockway descreveria como os membros do ILP como ele mesmo leram avidamente o longo poema de Carpenter, Rumo à Democracia, “naqueles momentos em que queríamos nos aposentar da excitação de nosso trabalho socialista, e em quietude buscar a calma e o poder que só por si dá força de sustentação”.

O amigo socialista de Carpenter, Robert Gilliard, refletia que havia “um lado do socialismo de pão e queijo e… um lado muito mais profundo e amplo”. Este último assumiu várias manifestações, desde a ética humanitária da Brockway até uma fusão de espiritualidade e revolução criativa em torno da revista New Age, de vanguarda. Quando um tímido Lowes Dickinson perguntou a Carpenter como ele fundia seu interesse pela experiência humana, misticismo e socialismo, ele “respondeu que gostava de pendurar sua bandeira vermelha no andar térreo e depois subir para ver como ela ficava”.

Carpenter continuou escrevendo até o final da década de 1920, adquirindo um público internacional e ampliando seu alcance na antropologia, religiões pagãs, reforma agrária e democracia industrial. Ele defendia o poder dos trabalhadores não apenas nas minas e ferrovias, mas também no exército e na polícia. Após sua morte, sua influência diminuiu, embora ele continuasse a ser lembrado pela população local no campo perto de Millthorpe, por socialistas mais velhos e por alguns militantes gays que começaram a se organizar nos anos 60 e 70.

Eu o encontrei quando tinha 16 anos, em uma biografia sobre Havelock Ellis. Alguns anos depois, através do historiador E. P. Thompson, soube que o organizador e poeta Tom Maguire havia sido influenciado por Carpenter. Em meados dos anos 60, li os trabalhos de Carpenter na Biblioteca Sheffield e fiquei viciado, escrevendo sobre ele e o livro Socialismo e na Nova Vida com Jeffrey Weeks (1977) e eventualmente escrevendo uma biografia dele. Fui atraído por seu humor seco e coragem cautelosa e inspirado por sua versão de utopia – pés no chão e olhos nas estrelas.

Sobre os autores

é uma historiadora feminista socialista que foi fundamental no Movimento de Libertação das Mulheres na Grã-Bretanha. Seus livros incluem Women, Resistance and Revolution e Beyond the Fragments: Feminism and the Making of Socialism.

Cierre

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Published in Cultura, Europa, Livros and Perfil

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