Tudo começou em 1940.
Em São Paulo, o recém-inaugurado Pacaembú ia receber a partida entre os times masculinos de São Paulo e Flamengo para um amistoso. A promessa era de um grande público para o jogo. Mas a grande novidade era a partida preliminar: o Sport Clube Brasileiro e o Casino de Realengo, dois clubes do subúrbio carioca, que iam se enfrentar também para um amistoso. A diferença é que, pela primeira vez, ambos os times eram inteiramente formados por mulheres.
O jogo rolou e, com isso, 65 mil torcedores presenciaram a vitória do Sport por 2 a 0. Gols de Zizinha e Sarah. Era a primeira partida de futebol feminino da história disputada no Brasil.
Mas antes mesmo do jogo acontecer a polêmica já estava instaurada. Diversos setores da sociedade e da imprensa faziam um escândalo contra a possibilidade de uma partida dessas ocorrer. José Fuzeira, um cidadão carioca, enviou um carta diretamente para Getúlio Vargas condenado o ocorrido:
“A mulher não pode praticar esse esporte violento sem afetar seriamente o equilíbrio psicológico das funções orgânicas, devido à natureza que a dispôs a ‘ser mãe’.”
Depois do jogo, a pressão não diminuiu. Setores poderosos da sociedade continuaram se manifestando contra essa “prática antinatural”.
No ano seguinte, Vargas toma a decisão e assina o decreto 3.199 tratando da situação”
“Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país.”
O decreto durou quase 40 anos e o futebol ficou durante décadas restrito aos homens. A revogação veio em 1979. A prática só voltou realmente à legalidade em 1983.
Nos últimos tempos, o futebol feminino tem avançado em pautas importantes para se estabelecer de vez e receber o devido respeito e investimento.
Mas a luta ainda é longa para superar quatro décadas de defasagem.
Sobre os autores
torce pro Atlético-MG e escreve para @PELEJA.