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Jogadoras australianas celebram sua vitória na disputa de pênaltis durante a partida das quartas de final da Copa do Mundo Feminina da FIFA entre Austrália e França no Estádio de Brisbane em 12 de agosto de 2023, em Brisbane, Austrália. (Elsa - FIFA / FIFA via Getty Images)

A seleção feminina de futebol da Austrália está fazendo história

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Tradução
Sofia Schurig

Desde que a equipe existe, as "matildas" têm enfrentado discriminação sexista e exploração. Agora, elas estão muito próximas de conquistar a Copa do Mundo Feminina.

No final de julho, a Copa do Mundo Feminina da FIFA começou com a equipe da Austrália, as Matildas, enfrentando a Irlanda. Nos dias que antecederam o jogo, havia apenas indícios no distrito central de negócios de Sydney de que um grande evento esportivo internacional estava prestes a acontecer. A mídia mal havia promovido a competição e, como descreveu um comentarista, havia “pouquíssima excitação no ar”. Isso era emblemático do descaso com os esportes femininos.

Apenas três semanas depois, as Matildas transformaram de maneira impressionante o cenário esportivo da Austrália com sua vitória nas quartas de final em 12 de agosto contra a França.

Agora, na véspera da semifinal das Matildas em 16 de agosto contra a Inglaterra, há uma eletricidade no ar que só pode ser gerada por um torneio internacional de futebol. Graças a performances brilhantes de jogadoras como Mary Fowler, Hayley Raso e Mackenzie Arnold, o futebol feminino passou da periferia para o centro.

De fato, se as Matildas vencerem, há uma chance real de que todos tenhamos folga em seu honra. Será uma vitória histórica para o esporte feminino e emblemática das habilidades das Matildas, seu compromisso com a solidariedade e sua postura combativa contra o sexismo.

O evento televisivo mais assistido desde a vitória de Cathy Freeman em 2000

O futebol nunca foi realmente uma parte aceita do cenário esportivo australiano. Historicamente, ele teve dificuldade em competir com o futebol australiano e o rugby. Isso se deve em parte ao racismo estabelecido que via o futebol como um esporte reservado para imigrantes europeus.

Também se deve ao fato de que o futebol simplesmente não combina com a tradição ultramacho de correr a toda velocidade em direção a outro jogador, derrubá-lo e chamá-lo de fraco se ele não se levantar e revidar. Com algumas exceções honrosas, o futebol masculino não desafiou essas atitudes regressivas, mas as acomodou.

Robbie Slater, ex-jogador da seleção masculina australiana, os Socceroos, e agora comentarista da Fox Sports, é um exemplo disso. Em 2022, a estrela das Matildas, Sam Kerr, quebrou o recorde de Tim Cahill, dos Socceroos, de mais gols marcados por um jogador australiano na competição internacional. Slater escreveu um artigo no Daily Telegraph argumentando que, como ela é uma Matilda e não um Socceroo, a conquista de Kerr “não é igual”, como se um gol no futebol feminino valesse literalmente menos do que o de um homem.

O sexismo de Slater não é uma aberração. Em vez disso, reflete um status quo misógino mantido tanto localmente quanto nos mais altos níveis do futebol internacional.

Nos primeiros anos das Matildas, as jogadoras tinham que lavar suas próprias roupas e distribuir panfletos para atrair público. De fato, o jogo feminino era tão marginalizado que, em 2015, os contratos da equipe — avaliados em torno da linha de pobreza, em AU$22.000; aproximadamente R$70.000 — tinham expirado, deixando as jogadoras sem pagamento e sem seguro médico.

As Matildas fizeram greve por dois meses para salvar suas carreiras no futebol e exigir acordos coletivos que lhes dessem paridade salarial com a equipe masculina, uma demanda que finalmente venceram em 2019.

A seleção também manteve seu compromisso com a solidariedade e contra o sexismo ao palco mundial. Em um vídeo produzido por seu sindicato, a Associação de Jogadores Profissionais da Austrália, as jogadoras relatam batalhas anteriores contra a FIFA, como em 2015, quando a liga tentou obrigá-las a jogar em campos com grama artificial.

Estendendo sua chamada à solidariedade aos 736 jogadores de futebol que competem na Copa do Mundo Feminina, a meio-campista Tameka Yallop explica que “a negociação coletiva nos permitiu garantir que agora tenhamos as mesmas condições dos Socceroos”. Como ela aponta, há “uma exceção – a FIFA ainda oferecerá às mulheres apenas um quarto do dinheiro do prêmio que oferece aos homens pela mesma conquista”.

É esse tipo de realidade discriminatória que sustenta atitudes como as de Robbie Slater. E é o compromisso das Matildas em ficar juntas e falar que explica sua popularidade.

De fato, 12 de agosto provou que as Matildas têm um apoio popular esmagador ao seu lado. O público australiano lotou a Praça da Federação, estádios e bares locais para assistir à partida, enquanto milhões assistiram em casa ou em seus smartphones. Com cerca de 4,17 milhões de espectadores em toda a Austrália, as quartas de final contra a França foram o evento de TV mais assistido na Austrália desde a vitória de Cathy Freeman nos 400 metros rasos nas Olimpíadas de 2000.

Queremos esse feriado público

Diz-se que o jogo mundial une pessoas através de fronteiras aparentemente intransponíveis. O sucesso das Matildas provou isso, com praticamente todos torcendo por elas. No entanto, quando se trata da questão de criar um feriado público para celebrar a vitória da Copa do Mundo das Matildas, as divisões de classe são claras como o dia.

Pequenos empresários, em particular, ficaram loucos com a possibilidade, lembrando-nos de que “feriados nos custam dinheiro”, seja porque o trabalho para ou porque os empregadores são obrigados a pagar taxas extras aos trabalhadores por trabalhar no feriado. Paul Zahra, CEO da Associação de Varejistas da Austrália, reclamou que a Austrália já tem um número de feriados públicos com base em esportes e que mais um deixará as empresas com prejuízo.

Os partidos da coalizão correram para apoiá-los, apesar do fato de que no sábado, o ex-líder desacreditado dos Nationals, Barnaby Joyce, conseguiu assistir ao jogo errado. Enquanto milhões ao redor do país assistiam à vitória das Matildas contra a França, Joyce se viu assistindo a um replay de um jogo amistoso que elas jogaram em julho por acidente.

Enquanto isso, em uma jogada certamente para aumentar a popularidade minguante de seu partido entre as mulheres, o líder liberal Peter Dutton rotulou a demanda por um feriado de “truque” e uma “viagem de ego” que poderia custar até 2 bilhões de dólares.

O argumento empresarial contra um feriado público é mais do que um pouco hipócrita. Desde que as taxas extras foram reduzidas em 2017, as empresas desfrutaram de reduções significativas em suas contas de salário de feriado público. E as Matildas impulsionaram a economia nacional em pelo menos 7,6 bilhões de dólares, que serão principalmente destinados ao varejo e às viagens.

De qualquer forma, estamos em uma crise de custo de vida. Onde estão esses heróis econômicos quando os trabalhadores são atingidos por aumentos nas contas de serviços públicos e compras, ou aluguéis e pagamentos de hipoteca em alta?

Em contraste, o Partido Trabalhista assumiu a demanda por um feriado público – mas apenas com muitas desculpas, ressalvas e apelos à situação do proprietário do negócio. Por exemplo, o primeiro-ministro de Nova Gales do Sul, Chris Minns, defendeu um feriado público e um desfile – mas não no dia seguinte à Copa do Mundo, porque isso seria muito disruptivo. E não se as Matildas perderem, porque não valeria a pena elogiar os esforços da equipe se elas quase conseguirem.

Outros premiês trabalhistas foram ainda mais hesitantes em se comprometer. O governo da Austrália Meridional sugeriu que o estado pode não seguir o exemplo de Nova Gales do Sul em conceder um feriado público, mas em vez disso aumentará o financiamento para os esportes femininos de base em 18 milhões de dólares.

Os premiês trabalhistas de Victoria e Queensland, Daniel Andrews e Annastacia Palaszczuk, adotaram uma abordagem mais cautelosa, afirmando que não querem dar azar às Matildas. Arriscando parecerem cínicos, você não pode deixar de pensar que eles simplesmente não querem prometer aos trabalhadores um dia de folga.

Felizmente, porém, é uma questão sem importância. O forte sistema federal da Austrália garantirá que o primeiro-ministro Anthony Albanese — que apoiou a iniciativa do feriado — convença seus colegas estaduais a aderir e nos dar esse feriado.

Isso levanta uma pergunta, no entanto: se é tão fácil anular as decisões dos estados, por que ele se recusa a forçá-los a limitar os aumentos nos aluguéis?

Mais do que um feriado!

Se as Matildas vencerem, devemos ter um feriado público e aumentar o financiamento para o esporte feminino. Todo político e empresário que discordar é um estraga-prazeres e um patife. E, mais importante, depois de celebrarmos intensamente, devemos fazer um balanço da conquista monumental que está acontecendo diante de nossos olhos.

O sucesso das Matildas não foi garantido. Elas são heroínas nacionais e compreendem que os trabalhadores precisam se unir contra a discriminação e a exploração nas mãos de seus patrões. As Matildas são atacantes dentro e fora do campo e oponentes veementes do sexismo.

“Elas são a antítese do machismo e conservadorismo que assolam o esporte australiano, e a cada vitória, elas desafiam mais um preconceito estabelecido.”

Na terça-feira, as “Tillies” enfrentaram a antiga rival Inglaterra. E embora seja apenas outro adversário, a equipe inglesa, por acaso, tem o apoio do chefe de estado da Austrália, o Rei Charles III. Tendo vencido a Eurocopa Feminina da UEFA em 2022, as Lionesses são a única equipe nacional da Inglaterra a vencer um grande troféu internacional desde a equipe masculina, lá atrás, em 1966.

Lideradas por jogadoras como Chloe Kelly do Manchester City, elas serão um adversário difícil de vencer. É por isso que o ex-jogador de futebol Craig Foster está totalmente certo ao apontar que uma vitória das Matildas contra a Inglaterra falará da crescente necessidade de uma república australiana.

Quem quer que vença amanhã jogará contra a Espanha, cujas jogadoras fizeram greve contra seu treinador no ano passado, pedindo sua renúncia. A Federação Real Espanhola de Futebol apoiou o treinador, e agora as jogadoras se recusam a comemorar com ele. É por isso que, se as Matildas perderem, a posição internacionalista correta para socialistas australianos é apoiar a Espanha.

Sobre os autores

Mick Clune

é membro dos Victorian Socialists e delegado do Australian Workers Union.

Cierre

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Published in Esportes, Notícia, Pacífico and Política

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