Seria estranho se hoje a franquia Gold’s Gym começasse a treinar unidades paramilitares nos Estados Unidos — e ainda mais estranho se eles estivessem lutando pela esquerda e não pela direita. Mas, no início da guerra civil, era exatamente isso que a academia alemã dos Turners fizeram.
Eles foram uma das organizações atléticas mais influentes do século XIX, “turn” sendo alemão para “ginásio” ou “ginástica”. Os imigrantes alemães que compunham as fileiras dos Turners foram fortemente influenciados pelo radicalismo de meados do século XIX do país de onde fugiram. Na década de 1850, o grupo transformou seus Turnvereins, ou associação de ginastas, em centros comunitários armados.
Os Turners primeiro dedicaram seus esforços ao avanço da voz socialista nos Estados Unidos enquanto se defendiam contra assassinos nativistas. Eles defenderam a abolição da escravidão, defenderam a União e até atuaram como destacamento de segurança pessoal de Abraham Lincoln. Ao longo de sua história, eles beberam muita cerveja e levantaram muitos halteres (ou, no popular, pesos de malhar).
Jahn, o pai da ginástica
Em seu país natal, os Turners foram fundados como uma forma de retaliação. Quando a Prússia ainda existia, Friedrich Ludwig Jahn, o “pai da ginástica”, ficou tão consternado com o domínio napoleônico nos estados germânicos que organizou um novo tipo de centro comunitário baseado na ideia radical de levantar pesos. Jahn foi o primeiro a pensar em conceitos que hoje são chamados de hipertrofia, definição e déficit calórico — tudo para inspirar os alemães a rejeitar o domínio aristocrático.
O currículo prescrito por Jahn chamava-se Turnen, um método paramilitar de exercício inventado para restaurar o senso de valor de uma nação dominada, ao mesmo tempo em que transmitia uma moral coletiva por meio dos efeitos benéficos à saúde. Turnvater Jahn (Jahn, o pai da ginástica) foi um reformador nacionalista alemão aposentado que se opôs à estrutura da igreja monárquica de um governo que variava do feudalismo ao tenro capitalismo. Ele esperava restaurar o espírito alemão e fazer sua parte para encorajar a revolução por meio dos exercícios.
Jahn originou o conceito moderno de ficar com o corpo doído, rasgado e descascado — tudo para inspirar os alemães a rejeitar o domínio aristocrático.
Jahn inaugurou o primeiro ginásio ao ar livre, o Turnplatz, em Berlim em 1811. O lema — “mente sã em corpo são” — foi traduzido do poeta romano Juvenal. As associações Turnvereins foram projetadas para jovens de classes médias, particularmente estudantes e artesãos mais bem-instruídos. Esses jovens alemães foram ensinados a se considerar membros de um coletivo cujo objetivo era a emancipação da pátria de um governo autocrático.
Isso pode soar um pouco nazista, e definitivamente há uma conexão, mas a atribuição está invertida. Algum tempo depois, os nazistas se apropriaram do espírito de força e orgulho do Jahn, assim como se apropriariam dissimuladamente do Primeiro de Maio socialista. A visão nazista da saúde pública combinava a mentalidade de exercícios em grupo dos Turners com o extremismo eugênico. O conceito de uma “Volksgemeinschaft” (comunidade racial alemã) tomou a função de construção da comunidade dos Turners e a transformou em uma causa para o nacionalismo fascista e o genocídio.
Mas, no século XIX, era à esquerda que se politizavam os exercícios. Na década de 1840, o movimento dos Turners era a maior organização nacional nos estados germânicos – e, politicamente, havia se posicionado à esquerda do próprio Jahn. Enquanto Jahn apoiava uma monarquia constitucional, os Turnvereins se tornaram um movimento democrático radicalizado, apoiado por Karl Marx e Friedrich Engels ainda como editores da Neue Rheinische Zeitung (Nova Gazeta Renana).
Quando chegou o momento da ação revolucionária em 1848, os Turners estavam prontos. Como as sociedades dos Turner disponibilizavam clubes de tiro, não foi um grande salto para eles a formação de milícias armadas. Eles ficaram conhecidos como os revolucionários “Quarenta e Oito”. Eles armaram barricadas em apoio a uma ideia muito básica: os governantes não devem pensar que são investidos de poder especial por Deus (monarcas, papas) ou pelo seu sangue (aristocratas).
Marx e Engels apoiaram a revolução porque a democracia era um passo necessário na direção correta e porque o igualitarismo radical na raiz dos esforços dos Quarenta e Oito era o mesmo que animava o socialismo. De sua parte, muitos revolucionários se radicalizaram ainda mais por seus esforços para garantir a democracia, mas foram impiedosamente esmagados pelas elites beligerantes.
Berçários de ideias revolucionárias
Na esteira do fracasso da revolução, nasceu a Alemanha do século XX. As sociedades dos Turners, especialmente na região de Baden, no sul da Alemanha, onde grande parte da ação ocorreu, começaram a ser vigiadas pela polícia ou totalmente proibidas após a Revolução de 1848.
A coalizão de comunistas e liberais falhou em decapitar a monarquia e trazer a democracia para a Renânia. A verdadeira vencedora foi a aristocracia alemã que conquistou o controle de uma agonizante ordem feudal — os camponeses e os artesãos perderam e o castigo de deixar o país começou a parecer uma boa ideia.
Após o fracasso da revolução, um grande número de alemães se deslocaram de seu país levando junto suas crenças, muitos deles foram para os Estados Unidos. Os alemães radicais acreditavam que os Estados Unidos, que ainda era uma jovem nação, poderiam ser afastados das tendências reacionárias da Europa. Eles acreditavam que lá seus sonhos revolucionários poderiam florescer.
Quando chegaram em solo americano, muitos imigrantes alemães pós-48 trouxeram consigo um punhado de posses, suas crenças radicais e seu amor pelos Turnvereins. As academias dos Turners provaram ser um recurso fantástico para os imigrantes: uma espécie de igreja secular onde a língua e a cultura alemã eram celebradas, o esporte e os exercícios eram praticados e grandes quantidades de cerveja eram consumidas. Os Turnvereins estadunidenses rapidamente se tornaram uma parte vibrante de uma frutífera vida de classe média nos Estados Unidos do século XIX. Como associações de bairro organizadas democraticamente, as academias também foram capazes de resistir a tentativas violentas de extinguir a cultura alemã.
Em The American Turner Movement, Annette Hofmann escreve que onde quer que os imigrantes de 1848 se estabelecessem, eles se juntavam aos Turners existentes ou criavam novas associações, que se tornavam “berçários de ideias revolucionárias”. Adotando uma ideologia “orgulhosamente cosmopolita”, os Turners estadunidenses juraram “combater quaisquer restrições aos direitos individuais, incluindo a prática da escravidão, hostilidade contra estrangeiros e outras formas de discriminação contra a cor da pele, local de nascimento ou gênero”. Em uma tradição de racionalismo e liberalismo, eles rejeitaram qualquer conexão entre igreja e Estado, bem como as leis de Temperança e do Dia do Senhor (Sabbath day laws) – para eles, a cerveja era essencialmente sagrada.
Não abriam mão de cervejas pilsen e nem de biergartens (tavernas ao ar livre), ligando a pátria à nova diáspora em Baltimore, Buffalo, Chicago, Cincinnati, Los Angeles, Milwaukee, Pittsburg e Saint Louis, onde teuto-estadunidenses viriam a representar os maiores grupos de imigrantes no final do século.
Cincinnati, Milwaukee e Saint Louis eram conhecidos como redutos da cultura imigrante alemã e Wisconsin tornou-se especialmente popular à medida que a industrialização ao norte de Mason-Dixon significava mais oportunidades e desenvolvimento. O Sul provou ter um clima ruim, aliado a uma questão moral: os alemães tinham uma profunda antipatia pela aristocracia das plantações de algodão e pela instituição da escravidão.
Como detalha Robert Knight Barney, os Turners estadunidenses eram compostos por “geralmente homens, na casa dos vinte anos, solteiros, em excelente condições físicas por meio do treinamento em ginástica, educados de forma clássica, politicamente esclarecidos e motivados, com alguns meios econômicos e, muito provavelmente, dispostos a retornar à Alemanha mais tarde para apoiar novamente as forças da revolução contra os odiados príncipes alemães e a influência de seu poder corrupto”.
Os Turnvereins nos EUA tornaram-se um lar para os “filhos da revolução” e representavam uma “oposição do povo soberano” à classe dos fazendeiros que se aliaram aos nativistas americanos para manter uma ordem social escravagista. Os Turners viam a oposição entre escravos e trabalhadores pobres como benéfica para uma elite aristocrática assassina e exploradora.
Em seu mais alto registro filosófico, os Turners queriam que a sociedade humana avançasse em direção à justiça social. Como descreveu Friedrich Hecker, o movimento dos Turners nos Estados Unidos era uma “verdadeira árvore de uma vida com propósito, com aspirações que se ramificam em dois ramos: um, intelectual e outro, físico — a árvore da liberdade humana para seu desenvolvimento e progresso cultural.”
Indivíduos que alcançassem um equilíbrio de corpo e mente teriam “resiliência e coragem, firmeza e vigor, confiança em si mesmos, ação bem pensada diante do perigo e da dificuldade, derrota de uma força ameaçadora, verdadeira bravura na guerra e na paz, coragem moral e estabilidade durante as tempestades da vida”, o que fazia com que o pagamento mensal de trinta centavos parecesse um bom negócio.
Entrando em forma antes da guerra
Havia apenas duas organizações esportivas nas colônias: uma de pesca e um jockey club em Charles Town. O esporte organizado era proibido pelos puritanos, uma vez que se entreter em competições ou cuidar do próprio corpo certamente os distrairiam de atividades mais devotas. Assim, o trenó e algo chamado “futebol” (que não era o estilo da NFL) foram proibidos em Boston de 1675 a 1786.
Até meados do século XIX, o cenário esportivo americano envolvia muitas brigas de galos, corridas de cavalos e corridas de pista. No entanto, à medida que as comunidades de imigrantes continuaram a se estabelecer no Novo Mundo, elas trouxeram suas atividades divertidas. Os alemães, por sua vez, gostavam de levantar halteres, construir pirâmides humanas, atirar com rifles e beber cerveja.
Também no século XIX, algo novo estava acontecendo nas cidades: estadunidenses de classe média estavam vivendo próximos da classe trabalhadora. Eles começaram a perceber algo que não haviam percebido antes, quando os trabalhadores se ocupavam principalmente no campo: as pessoas exploradas no trabalho o dia todo em condições insalubres, habitando favelas e vivendo sem dinheiro para as necessidades mais básicas, muitas vezes carecem de higiene e saúde. Os burgueses urbanos de meados do século XIX, surpresos com essa revelação, desenvolveram uma nova ideologia de saúde e limpeza, que se encaixava bem com sua zelosa moral protestante. Somente os mais limpos serão salvos.
Não só os Turner eram imigrantes, mas também já era sabido que eles eram abolicionistas. Essas pessoas poderiam representar um problema real se estivessem armadas.
Os Turners estavam ali prometendo consertar tudo isso com volteio artístico, e alguns não alemães começaram a se interessar por isso. Logo, uma versão muito mais aceitável entrou em cena: o “cristianismo muscular”, que se tornou a base da Associação Cristã de Moços (YMCA). Era semelhante ao Turnen na ligação entre a aptidão da mente e do corpo, mas sem todos os imigrantes e as bebidas.
Entre o YMCA e os Turnvereins, a educação física tornou-se uma mercadoria popular. O novo subpreceito dos Turners – “Novo, livre, forte e fiel” – veio com um novo uniforme branco elegante. Além da esgrima, ginástica, luta livre, pirâmides humanas, escalada, natação e atletismo, os Turnvereins ficaram conhecidos por sua coordenação em exercícios militares e precisão na prática de tiro ao alvo.
Alguns membros criticaram Turners por dentro, zombando dos jogos pseudomilitares, bem como da sua afinidade em participar de desfiles e espetáculos públicos, ao invés dos “exercícios intelectuais”. Outros achavam que o clube desperdiçava muito dinheiro com cerveja e se entregava a uma “cultura alemã estática”.
Mas a principal crítica veio de fora da organização e da comunidade alemã. Se você pratica exercícios de tiro, terá que comprar algumas armas. Os nativistas americanos e os defensores da escravidão não gostaram disso. Os Turners não eram apenas imigrantes, mas agora também era bem conhecido que eles eram abolicionistas. Então essas pessoas representariam um problema real se estiverem armadas.
À medida que as tensões aumentavam e a Guerra Civil se tornava uma realidade, exibições de ginástica chamadas Turnfests e outras cerimônias dos Turners viraram alvos de ataques de grupos de direita. Em Wallabout, Long Island, um confronto explodiu em uma missa depois que um padre católico acusou os Turners de conspirar para acabar com todas as religiões.
Em 1855, Cincinnati, seis mil nativistas do partido Know Nothing (“Não sei de nada”, devido à natureza secreta da organização) se revoltaram por vários dias tentando impedir que irlandeses e alemães votassem. “O fato de que os alemães possuíam um canhão levou a vários dias de cerco”, observa Hofmann. A área alemã foi separada do resto de Cincinnati pelo Canal de Miami, coloquialmente conhecido como o Reno de Ohio.
Enquanto isso, os irlandeses de Cincinnati estavam prontos para esmagar rostos de “desordeiros”, “explodindo entusiasmo por uma batalha porque eram inimigos jurados dos partidários do Know Nothing há muito tempo”. Dois foram mortos e alguns foram feridos. A concessão do canhão alemão a uma terceira parte neutra encerrou o cerco.
Em meio à onda de violência xenofóbica que abalou Filadélfia, Columbus, Louisville e Covington, os Turners estavam determinados a se proteger. Em 1852, o famoso integrante dos Quarenta e Oito Franz Sigel publicou “Drill Regulations”, um guia de treinamento para Turners. O militante socialista recomendou que todos os Turners adquirissem armas e não apenas para treinamento.
A guerra civil em Saint Louis
Na véspera da Guerra Civil, os jornais alemães observaram que os Estados Unidos eram influenciados por “garotos estúpidos”, como se referiam aos ingleses. A escravidão, a igreja (um “Estado dentro do Estado”) e um materialismo ultrajante pareciam impossibilitar o funcionamento básico de um governo democrático.
Consequentemente, escreve Hofmann, “muitos dos Turners viram como seu dever em sua nova pátria continuar lutando pela democracia, liberdade e fraternidade como haviam feito na Alemanha”.
Nesse momento, o que hoje conhecemos como a Guerra Civil foi um conjunto enorme de tensões crescentes e contradições agudas.
Para muitos alemães, com sua visão de mundo moldada pela Revolução de 48, a Confederação (formada, em geral, pelos estados do sul escravistas) significava o governo da igreja e dos fazendeiros sobre um sistema de castas raciais. Ficariam parecidos com a Europa feudal, mas desta vez o capitalismo industrial explorador envenenaria o ar, sujeitaria enormes populações ao trabalho mecânico, transformaria artesãos em apertadores de botões e mutilaria membros de crianças em máquinas têxteis.
As crianças imigrantes seriam estadunidenses de primeira geração se a União (formada em geral pelos estados do Norte “abolicionistas”) ganhasse. Se os nativistas concretizassem seus interesses, a próxima geração seria uma subclasse fabril permanente.
Em Germans for a Free Missouri, Steven Rowan argumenta que os revolucionários Quarenta e Oito viam a Guerra Civil dos Estados Unidos como um episódio decisivo na tradição revolucionária, baseando-se em “linguagem e símbolos compartilhados que remontam pelo menos à era da Revolução Francesa e às guerras de libertação contra Napoleão I de 1812–1814”.
A Socialistische Turnerbund von Nordamerika, a Federação Socialista dos Turners da América do Norte, jurou combater qualquer tentativa de limitar a “liberdade de consciência”. O grupo se opôs à escravidão, ao nativismo e às restrições da temperança como parte da mesma luta para prover dignidade à classe trabalhadora.
O guia da Federação Socialista dos Turners declarava como objetivo final uma “constituição democrata e republicana, prosperidade garantida para ‘todos’, a melhor educação gratuita possível conforme a capacidade de cada um, a eliminação de poderes hierárquicos e privilegiados”.
Dias após a eleição de Lincoln, um salão dos Turners de Baltimore foi incendiado, fazendo com que os membros fugissem da cidade – punição provocada por simpatizantes do Sul em razão dos socialistas se recusarem a trocar sua bandeira unionista, mesmo com Maryland permanecendo na União. Com bandeiras e rufar de tambores, esses mesmos Turners de Baltimore juntaram-se ao grupo de Washington para formar os “Guarda-costas de Honra”, protegendo o trem de Lincoln na chegada a capital e acompanharam o recém-eleito presidente em procissão até sua posse em 1860. Esse regimento dos Turners formou a primeira unidade militar voluntária, o 8º Batalhão, e os Turners frequentemente serviram como segurança pública de Lincoln.
O ataque ao Forte Sumter desencadeou a primeira convocação de voluntários, mas os Turners já estavam ocupados estabelecendo suas próprias companhias de atiradores, fazendo exercícios de tiro e praticando esgrima. As “Irmãs Turner” costuravam os uniformes e as bandeiras. Um dos regimentos dos Turners mais conhecidos foi o 17º Missouri Volunteers, que impediu Saint Louis — e, por extensão, grande parte do vale do rio Mississippi — de cair no controle confederado. Ulysses S. Grant especula que:
Se Saint Louis tivesse sido capturada pelos rebeldes, isso teria feito uma grande diferença… Teria sido uma tarefa terrível recapturar Saint Louis, uma das mais difíceis que poderia ter sido dada a qualquer militar. Em vez de uma campanha antes de Vicksburg, teria sido uma campanha antes de Saint Louis.
Em maio de 1861, o capitão Lyons reuniu seus soldados profissionais da União, apoiados por uma enorme companhia liderada pelo “maldito holandês” Franz Sigel. Eles marcharam pelo Camp Jackson (uma área de concentração dos confederados a oeste da cidade) e, quando os voluntários passaram pelo corredor dos Turners, as tropas da reserva aplaudiram e choraram de alegria. O editor do Westliche Post, Theodor Olshausen, escreveu que eram os levantes de Paris de 1848 novamente, era a Revolução Baden acontecendo de novo, “um daqueles momentos esplêndidos em que as emoções que brilham no fundo do coração das massas de repente se transformam em chamas ferozes.”
O Camp Jackson se rendeu e os voluntários alemães impediram a captura do arsenal de Saint Louis — o maior estoque de armas a oeste do Mississippi.
Esquecendo a experiência dos Turners
Uma vitória da União não impediu que uma subclasse imigrante trabalhadora se desenvolvesse nos Estados Unidos. Os Quarenta e Oito alemães continuariam a lutar contra os barões ferroviários da Era Dourada, com um time que desempenhou um grande papel no Haymarket Riot.
Os “socialistas de esgoto” de Milwaukee foram o produto da política alemã radicalizada. Em Saint Louis, a militância trabalhista alemã estava em pleno vapor durante a Grande Greve Ferroviária de 1877. Aninhada no lado sudoeste do Parque Florestal de Saint Louis, uma estátua de quarenta e um pés de comprimento exibe o criador dos Turners, Friedrich Ludwig Jahn.
Os Turnvereins continuaram a florescer após a Guerra Civil. Combinando o clube de atletismo, o centro comunitário e o salão dos veteranos, eles adquiriram pistas de boliche, construíram ginásios e banheiros compartilhados e administraram vários bares – uns para os associados e outros para o público amante da cerveja. No seu auge em 1894, havia mais de trezentos Turnvereins com aproximadamente quarenta mil membros.
Entretanto, o aumento do sentimento antialemão durante a Primeira Guerra Mundial, e novamente na Segunda Guerra Mundial, apagou grande parte da identidade alemã no Centro-Oeste. Avenidas foram renomeadas e o alemão não era mais ensinado nas escolas. Entre o macarthismo e o Ameaça Vermelha, os socialistas alemães que construíram cidades como Saint Louis, Cincinnati e Milwaukee foram excluídos da história oficial dos EUA. Apenas as estátuas permanecem, embora poucos membros do público em geral entendam o seu significado.
O remanescente mais influente dos Turners é pedagógico. O currículo Turnen foi adotado nas aulas de ginástica. A introdução da educação física no século XIX nas escolas públicas americanas deveu-se em grande parte à influência alemã dos Turners, que mais tarde se desenvolveu nos Presidential Fitness Tests (Testes de Aptidão Física Presidencial).
Hoje, os americanos gastam milhões em aulas particulares de ginástica, equipamentos dietéticos exclusivos, cirurgias cosméticas, megatoneladas de suplementos, galões de esteroides injetados em todos os tipos de traseiros – tudo para exalar a expressão corporal ideal de saúde. Mas, esta visão superficial da saúde está muito longe daquela dos Turners, para quem a aptidão física estava intimamente ligada tanto à revolução como à diversão.
Os Turners acreditavam que saúde significava tornar-se uma pessoa equilibrada — e não se pode realmente alcançar a plenitude sem convicção e camaradagem. Eles acreditavam que o condicionamento físico não precisa ser caro e exclusivo, que todos merecem um lugar para participar de competições bem-humoradas e exercícios revigorantes. E, por fim, acreditavam que uma boa quantidade de cerveja pode dar a qualquer pessoa coragem para derrubar a monarquia.
Sobre os autores
Devin Thomas O'Shea
já escreveu na Nation, Protean, Current Affairs, Boulevard e em outros lugares.