Apesar da PF declarar o caso encerrado com a prisão dos operadores do assassinato de Marielle Franco, várias suspeitas nebulosas continuam: qual a relação do general Braga Netto com o delegado incumbido de manipular as investigações e o que fazia Carlos Bolsonaro no condomínio Vivendas da Barra no mesmo dia do crime?
Artículos publicados por: Jeferson Miola
é jornalista, integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea) e ex-coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.
A pesquisa publicada semana passada traz resultados ruins para o governo e não se trata das declarações acertadas do presidente Lula sobre o genocídio em Gaza. Trata-se do desidratamento dos índices na base de apoio em um cenário de polarizacão acirrada, com uma extrema direita ativa e engajada - mirando as próximas eleições.
Não podemos aceitar o pedido de anistia lançado por Bolsonaro na Paulista. As investigações da PF revelam que, além de se recusarem a aceitar o resultado das urnas, a cúpula do governo e das Forças Armadas articularam as ações terroristas que incendiaram o país após a eleição - visando justificar as medidas de exceção concebidas na minuta de golpe.
O presidente da Câmara dos Deputados herdou um enorme poder após o processo golpista do impeachment em 2016 e muito dinheiro com o governo militar de Jair Bolsonaro. Basta observar o que aconteceu com Arthur Lira entre 2018 e 2022: multiplicou seu patrimônio em 4 vezes enquanto expandia o orçamento secreto para comprar apoio parlamentar.
Enquanto a mídia foca no esquema criminoso de arapongagem montado no governo bolsonaro dentro da disputa entre servidores da ABIN e PF, o Exército, ator central no esquema ilegal e principal contratante do software espião, passa incólume. Além de pagamentos milionários fora do país, filho do general Santos Cruz foi, até ano passado, representante da empresa israelense no Brasil.
O Brasil tem diante de si o desafio dramático e inadiável de enfrentar o golpismo militar. Novo livro indica o caminho: fim do conceito "inimigo interno", mudando o artigo 142, rígido controle civil e descolonização educacional, fazendo os militares reverenciarem heróis como Tiradentes e João Cândido - ao invés de um general-duque como Caxias.
A mídia e a direita defendem um Banco Central "independente" do governo, mas prisioneiro do mercado, e uma política de preços na Petrobras imposta após o golpe de 2016. Para que Lula não fique refém da pilhagem financeira internacional, precisamos pressionar o governo e mobilizar as ruas.
Como no tempo da ditadura, as Forças Armadas estão no centro do terrorismo golpista que barbarizou Brasília no último domingo. Agora, o novo governo precisa aproveitar a coesão antifascista das ruas, a comoção institucional e a solidariedade da comunidade internacional para adotar algumas medidas inadiáveis para salvar nossa democracia.
O Exército precisa começar a trabalhar e dissolver os acampamentos golpistas amotinados sob áreas militares. Senão fizer antes da posse do Lula, estará sendo cúmplice de incubadoras de terroristas.