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Trabalhadores rurais na manifestação em Eldorado dos Carajás - Divulgação.

Do Massacre a resistência

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Há 26 anos, o Brasil assistia pela TV cenas do Massacre de Eldorado do Carajás, que se tornou marco de luta pela reforma agrária, mas foi marcado pela impunidade.

De um lado, dois mil camponeses sem-terra. Do outro, pouco mais de 150 policiais militares armados. Em abril de 1996, o Brasil assistia as cenas do massacre de Eldorado do Carajás. Claramente premeditadas, as 19 mortes tornaram-se um marco da luta pela reforma agrária no Brasil.

Uma das cenas do episódio, ocorrido em 17 de abril de 1996, foi repetida diversas vezes pela mídia na ocasião. Era a primeira vez que o Brasil via em rede nacional policiais militares disparando contra camponeses sem-terra.

O vídeo gravado escondido pelo cinegrafista que acompanhava a repórter da TV Globo de Marabá não mostra tudo. Alguns apontaram aquele momento em que se vê os sem-terra avançado contra os policiais jogando paus e pedras como o início da ação policial, mas, na verdade, o avanço dos camponeses em direção aos PMs foi uma tentativa de resgatar o corpo de Amâncio dos Santos Silva, que, por ser surdo, não ouviu os primeiros disparos dos policiais e sucumbiu.

O que aconteceu depois foram três horas de terror, com a estrada fechada dos dois lados, ninguém conseguiu fugir. Mulheres e crianças se refugiavam como podiam. Dezenove camponeses morreram na hora e mais de 60 ficaram feridos. Dois outros camponeses morreram anos depois em consequência da violência. Outros como José Carlos Agarito ficou para sempre com uma bala no cérebro, o que dificulta qualquer atividade básica.

“Hoje eu não posso trabalhar, não posso pegar uma enxada, eu posso pegar uma foice, eu não posso fazer serviço nenhum. Não posso abaixar a cabeça. Eu estou conversando com você e estou com cabeça doendo. Não posso ter alegria, não posso ter raiva”, contou o camponês em documentário produzido pelo site Brasil de Fato.

“Justiça”

Cento e cinquenta e cinco policiais militares foram a julgamento, mas apenas os dois comandantes da operação foram condenados. Coronel Mário Colares Pantoja, a 228 anos de prisão e o major José Maria Pereira de Oliveira, a 158 anos.

Eles só foram presos 16 anos depois do massacre. Coronel Pantoja morreu de Covid em 2021, após passar cerca de três anos em prisão domiciliar. Major Oliveira, desde 2018, usa tornozeleira eletrônica em casa.

Outros 153 policiais militares foram absolvidos. Nem o capitão Raimundo Lameira, que aparecia no vídeo em primeiro plano com uma metralhadora, foi condenado. Detalhe: os policiais agiram com uma tarja escondendo seus nomes nas insígnias.

A resposta do então presidente Fernando Henrique Cardoso foi acelerar algumas desapropriações de terras, entre elas, a área reivindicada da fazenda Macaxeira que se tornou o assentamento 17 de abril.

Apenas, em 2007, onze anos depois, o governo do Pará decidiu pagar uma pensão para as vítimas. Dentro do movimento, no entanto, o sentimento de união e luta se ampliou.

Hoje essas famílias produzem alimentos orgânicos que são vendidos nos municípios próximos. O assentamento conta com posto de saúde, escola e um pequeno comércio.

Desde então, os movimentos sociais adotaram a data para a jornada de lutas Abril Vermelho, pela reforma agrária, alimentação saudável e justiça social. Assim, apesar das dificuldades e tristes lembranças, a luta se renova com as novas gerações. 

Para saber mais e ver algumas das cenas do massacre, assista ao episódio do De Olho na História, um programa do observatório De Olho nos Ruralistas.

Sobre os autores

é repórter do De Olho nos Ruralistas.

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Published in Agricultura, América do Sul, Análise and História

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