Diferentemente de como lidaram com Lula, hoje a imprensa trata com cautela a possibilidade de julgamento de Bolsonaro por causa do insucesso da intentona golpista. Mas a tentativa de um crime é crime: desde o ataque ao processo eleitoral ao bloqueio de eleitores e monitoramento de adversários, até a construção jurídica com a minuta do golpe à tentativa de gerar o caos incendiando o país para invocar as Forcas Armadas.
Artículos publicados por: Marcelo Semer
é Desembargador do Tribunal de Justiça de SP e escritor. Autor de “Os Paradoxos da Justiça. Judiciário e Política no Brasil” (Contracorrente) e “Os Últimos Réus. Crônicas do Crime” (Autonomia Literária).
Tal como Trump, Bolsonaro esperou que as manifestações do seu Capitólio tivessem algum impacto social e midiático para se pronunciar, pois jamais deixou de cultivar a possibilidade de um golpe em todo processo eleitoral. Essa duplicidade de respeito retórico às “linhas da Constituição” e estímulos ao golpismo é a marca do seu governo - e esquecer as atrocidades perpetradas é o melhor estímulo para que elas se repitam.
A Itália vai hoje às urnas escolher um novo governo em um cenário onde a extrema direita ligada ao passado fascista é favorita. Novo livro detalha como o anticomunismo tardio, no pacto entre conservadores e neoliberais, e a Operação Mãos Limpas naturalizaram o populismo reacionário nas últimas décadas.
O destemido trabalhista Samuel Wainer mudou para sempre a imprensa brasileira e estremeceu a política, sendo cabo eleitoral de Getúlio Vargas na fase democrata e inimigo no período ditatorial. Como expôs as entranhas da oligarquia midiática em defesa da classe trabalhadora, foi perseguido pela elite - que continua usando o mesmo método até hoje para silenciar adversários e golpear instituições.