UMA ENTREVISTA DE
Peter LucasPeter Lucas
Depois de se organizar para as vitórias legislativas na Flórida, participar ativamente no crescimento do Socialistas Democráticos da América (DSA) no condado de Pinellas dentro da Associação de Professores de Pinellas, Richie Floyd é um dos candidatos ao conselho municipal de St. Petersburg, no estado da Flórida.
Quando se preparava para as eleições primárias de 24 de agosto, Floyd foi alçado inesperadamente ao status de celebridade de internet – não na Flórida ou em qualquer outro lugar dos Estados Unidos, mas no Brasil, depois que viralizou um tweet o comparando ao Gil do Vigor do BBB. Peter Lucas conversou com Floyd para discutir sua candidatura socialista e sua semelhança com a estrela de TV.
PL
Quero falar com você sobre sua campanha para a câmara Mas primeiro tenho que te perguntar: você passou de professor de escola pública na Flórida para celebridade brasileira da noite para o dia. Como isso aconteceu?
RF
Ontem, um meio de comunicação local compartilhou um artigo sobre como eu ganhei o apoio do Conselho do Trabalho da West Central Florida. Sou membro do sindicato de professores de Pinellas (PCTA), então, naturalmente, compartilhei orgulhosamente o apoio. Fui retuitado por algumas pessoas, e ontem à noite por alguns brasileiros, porque alguém percebeu que eu sou parecido com o Gil do Vigor, o astro do reality show Big Brother Brasil. Temos corte de cabelo e barba semelhantes, biotipos semelhantes. Mas o que realmente tornou a comparação maluca é que na foto da minha campanha visto uma camisa salmão semelhante à que Gil usa.
Então, depois que alguns brasileiros retuitaram, a coisa explodiu. Quando percebi que aquilo estava ganhando força, entrei na onda. Mudei meu nome no twitter para Richie Do Vigor e tuitei “Tchaki tcha!”, que é a dança que Gil é conhecido por fazer. Foi muito engraçado, mas também um tanto avassalador, com a quantidade de comentários de brasileiros. Meus seguidores no Twitter basicamente quadruplicaram.
PL
No momento dessa explosão, você tuitou em apoio a Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil e futuro candidato à presidência contra Jair Bolsonaro. Você poderia comentar seu apoio?
RF
Lula faz parte do Partido dos Trabalhadores (PT) no Brasil. O internacionalismo é a chave para o socialismo, então é importante que a esquerda dos Estados Unidos apoie pessoas em outros países que estão construindo movimentos de trabalhadores e lutando pelos interesses da classe trabalhadora.
Lula teria sido eleito presidente durante a última eleição se não fosse por sua perseguição e prisão, que posteriormente a Justiça brasileira considerou como injusta. Ele passou muito tempo lutando pelos interesses dos trabalhadores. Aproveitei enquanto tinha atenção de um grande número de brasileiros para ecoar a mesma mensagem que defendi em minha campanha: a necessidade de lutar pela classe trabalhadora.
PL
Por falar na sua campanha, você pode nos dar um panorama de como está a disputa neste momento?
RF
No momento, estamos nos preparando para nossas eleições primárias em 24 de agosto. A maioria das pessoas vota pelo correio, e as cédulas serão enviadas em breve. Estamos nos preparando para conversar com todos os eleitores. Temos um bom campo de atuação em nosso distrito. Tivemos o apoio de doadores de pequeno porte, organizações progressistas e, especialmente, do movimento dos trabalhadores. Recebemos um grande número de pequenas doações em dinheiro no mês passado. Nossa campanha também recebeu o maior número de contribuições individuais do que qualquer outro candidato na cidade, quase triplicando as doações para o candidato a prefeito mais popular na última eleição. Nossa média de doações é de cerca de 21 dólares. Portanto, estamos realmente orgulhosos da campanha de base da classe trabalhadora que organizamos.
Temos orgulho de ser socialistas democráticos e sabemos contra quem lutamos. Os grandes interesses financeiros na Flórida não estão felizes com as candidaturas socialistas. Por isso, esperamos resistência, mas agora estamos recebendo uma recepção muito calorosa das pessoas no Distrito 8.
Chegamos a elas com uma mensagem muito simples: podemos construir St. Petersburg como uma cidade para os trabalhadores, para os pobres, para todos. Temos recebido uma recepção calorosa e vamos continuar levando essa mensagem para as pessoas.
PL
Você disse que está concorrendo a um cargo público na Flórida como um socialista democrático orgulhoso. O establishment e a grande mídia não consideram a Flórida um terreno fértil para a política socialista. O que você experienciou ao conversar com os eleitores sobre suas políticas?
A grande mídia não tem ideia do que a classe trabalhadora da Flórida deseja. Em minha experiência recente de organização, lutamos muito e ganhamos um salário mínimo de 15 dólares/hora aqui no ano passado, a expansão dos direitos do eleitorado e a legalização da maconha medicinal. Todas essas vitórias passaram com mais de 60% de apoio. Há uma desconexão entre o que os políticos no topo estão pedindo e o que os trabalhadores da Flórida desejam. Nossa campanha está procurando preencher essa lacuna e deixar claro que temos muito orgulho de estar ao lado dos trabalhadores.
Não temos vergonha dos nossos valores. Vamos garantir que a comunidade em nosso distrito e em nossa cidade saiba exatamente o que defendemos. Isso é muito importante em um lugar como a Flórida, onde a política é controlada por muito dinheiro há muito tempo. O que une a todos e todas no final do dia são nossos interesses materiais. Portanto, estamos nos concentrando nisso o máximo possível.
Nossa campanha luta pela justiça econômica, ambiental e social. Mais concretamente, isso significa direito à moradia, financiamentos comunitários e habitação popular, não subsidiando lucros privados de [proprietários e construtoras] e assim fortalecendo os direitos dos inquilinos; elevar os padrões de trabalho por meio de uma organização justa e criar bons empregos com programas de treinamento; garantir que a cidade cumpra nossos objetivos ambientais e climáticos.
PL
A comparação com Gil do Vigor veio em resposta a um tuíte sobre o apoio do Conselho do Trabalho da West Central Florida. Quais outros apoios você teve de organizações trabalhistas e o que significa ter os trabalhadores ao seu lado?
RF
Sindicatos locais filiados ao Conselho do Trabalho de West Central Florida estão começando a apoiar a campanha por meio das mídias sociais, apoio aos membros e doações em dinheiro. As pessoas que estão trabalhando em minha campanha mais de perto estiveram mais envolvidas em campanhas sindicais do que em campanhas eleitorais. Queremos elevar o ânimo da população trabalhadora.
PL
Antes de se candidatar, você era professor. Como seu trabalho como professor e sindicalista se relaciona com o trabalho da política eleitoral socialista?
RF
Frequentemente, os trabalhadores têm que fazer as concessões. Isso não é uma crítica ao sindicalismo – os trabalhadores precisam estar envolvidos no processo político, e muitas vezes o processo político é controlado por interesses financeiros e políticos que estão tentando construir alianças entre trabalhadores e patrões. Uma das coisas mais importantes que estamos tentando fazer agora é construir uma campanha com energia de base, que recebe doações individuais e mostra a St. Petersburg que existe uma maneira diferente de conduzir uma campanha política.
A organização desta campanha é como qualquer outra: ao aumentar as expectativas das pessoas, você faz com que elas sejam capazes de exigir mais. Essa é uma das coisas que tentei fazer com os membros dos sindicatos de professores: envolvê-los mais nas lutas políticas locais, inclusive aquelas que não os afetam diretamente. As escolas do condado de Pinellas são administradas pelo condado e pelo estado, não pela cidade. Mas o conselho afeta outras questões e condições locais nas quais professores e alunos vivem.
Ser capaz de se apoiar no movimento de base que nós levantamos nos últimos 18 meses tem sido útil porque leva a liderança do sindicato a envolver os membros do PCTA para pressionar por questões que vão além das nossas demandas imediatas do lugar de trabalho e afetam toda a comunidade. Esse é o modelo que os socialistas deveriam defender no movimento sindical.
PL
O DSA teve um crescimento massivo e obteve algumas vitórias eleitorais impressionantes nos últimos anos. Como é concorrer pelo DSA?
RF
O DSA tem uma rede de militantes com muita experiência, o que tem sido útil. Localmente, temos um núcleo de ativistas que estão muito engajados politicamente e fazem parte da comunidade há muito tempo. Como socialistas, rejeitamos pressões corporativas e interesses particulares, e permanecemos comprometidos com a classe trabalhadora. Quando tudo isso é somado, você é capaz de construir uma campanha que é independente do sistema e vai além da política tradicional.
PL
Fiquei sabendo que o Gil do Vigor vai visitar os Estados Unidos em breve. Vocês vão se encontrar?
RF
Ouvi dizer que ele está mudando para a Califórnia para fazer um PhD na UC Davis. Por intermédio do DSA, conheci alguns militantes do sindicato dos trabalhadores graduados de lá. Eu definitivamente espero que ele se junte ao seu sindicato quando chegar aqui. Assim que as viagens se abrirem um pouco mais, com certeza vamos nos encontrar pessoalmente. Gil parece realmente ser uma pessoa inspiradora. Pelo que ouvi, ele é de um bairro pobre de Jaboatão dos Guararapes, era um missionário mórmon que depois se assumiu gay e sempre foi apoiador de Lula. E como um socialista, estou sempre tentando me conectar com a classe trabalhadora ao redor do planeta, porque este é um movimento pelos trabalhadores do mundo inteiro.