As temperaturas no Reino Unido e o caos climático no mundo todo estão quebrando novos recordes. Com incêndios florestais, secas e número de mortos chegando aos milhares, o impacto catastrófico da crise climática chegou para todos verem.
Juntamente com os preços crescentes da energia e do petróleo, inflação galopante, salários em declínio e um sistema de transporte cronicamente subfinanciado e cada vez mais caro, a relação entre a maneira como viajamos, nossas economias e o impacto no planeta tem estado na vanguarda deste período de maior sensibilidade e escrutínio público. Grupos de ação direta como o Just Stop Oil têm como alvo a infraestrutura rodoviária – por isso fecharam brevemente a M25 enquanto pediam o fim de novos projetos de combustíveis fósseis.
Despejando mais combustível (de jato) na fogueira da crise climática, na semana passada, a Yard, uma agência de marketing digital, publicou um relatório com base nas descobertas do “Celebrity Jets”, um rastreador automatizado que aponta os piores excessos das celebridades compartilhando seus dados de voos em jatos particulares. Das emissões de CO2 aos custos de combustível e curtos tempos de viagem ridículo, os dados são apresentados para escrutínio – e provocaram indignação e, às vezes, desespero entre a população normal, que é muito mais propensa a suportar o peso da crise climática do que aqueles que sobem aos céus.
Cerca de 80% da humanidade nunca pegou um avião, enquanto Kylie Jenner fez cinco voos em uma única semana com um tempo médio de voo inferior a 20 minutos, incluindo uma viagem de 3 minutos. Uma única viagem conseguiu emitir dez vezes mais carbono do que a média anual de alguém de Uganda, onde semana passa as mudanças climáticas causaram inundações repentinas que mataram dezenas e deslocaram milhares de pessoas.
Os jatos particulares em geral são notoriamente destrutivos para o meio ambiente, emitindo em média até 14 vezes mais CO2 do que os jatos comerciais, que são a segunda forma de transporte mais poluente disponível. E, apesar da crescente crise nas mudanças climáticas, o uso de jatos particulares aumentou desde a pandemia, com 7% mais voos em 2021 do que em 2019.
O papel da desigualdade no agravamento da crise climática não é uma novidade. A Oxfam informou no ano passado que as emissões de carbono do 1% mais rico do mundo são 30 vezes a mais do que o nível aceitável de aumento de 1,5°C até 2030. Enquanto as pegadas de carbono dos 50% mais pobres são bem menores. Celebridades como Taylor Swift, Floyd Mayweather e Jay-Z – os três líderes de relatórios da Yard – não são apenas indivíduos irresponsáveis, mas sintomas da desigualdade e do consumo excessivo grotesco permitido e incentivado no sistema econômico capitalista em que vivemos.
O problema vai piorar à medida que os jatos particulares crescem em tamanho e um novo grupo de ultra-ricos se tranca nesse meio de transporte, tornando seu planeta inexoravelmente menor e nosso planeta insuportavelmente quente. A longo prazo, as coisas provavelmente irão piorar à medida que mais demagogos bilionários como Elon Musk e Jeff Bezos olharem para o espaço sideral em vez de se contentarem com o céu para se divertirem, com as emissões de um único voo espacial de um bilionário excedendo as emissões vitalícias de bilhões de pessoas na Terra.
Na esteira do relatório e do clamor que causou, nomes como Swift e Drake revidaram. Drake, hilariamente, defendeu sua predileção por voos de curta distância argumentando que suas viagens não eram um desperdício, pois seu avião estava vazio; A equipe de Swift argumentou que ela simplesmente empresta seu jato particular para outros indivíduos, aparentemente se isentando da responsabilidade.
O que essas respostas mostram é que há uma certa vergonha pela crise climática e o fenômeno de cobrança dos ultra-ricos por suas enormes emissões e hipocrisia verde parece fadado a seguir um caminho falho, focado na consciência de partes do movimento climático liberal. Nos Estados Unidos, por exemplo, o governo de Joe Biden tentou gentilmente persuadir a indústria da aviação a reduzir voluntariamente as emissões até 2030, mas isso não é o suficiente. O movimento dirigido às empresas de combustíveis fósseis que espera envergonhá-las para haja uma política de descarbonização provou repetidamente sem sentido quando comparado aos lucros recordes dessas companhias.
Apelar aos melhores intenções da natureza humana não será suficiente; apenas a mudança sistêmica e um movimento de massa determinado a realizar essa mudança pode realmente nos levar adiante. Esse movimento deve pressionar por uma regulamentação direta que proíba viagens de jatos particulares hiperpoluentes, uma política que já foi apoiada pelo Partido Trabalhista Inglês em 2019 e que agora deve ser uma demanda de todos os grupos socialistas e de ação climática.
Instituir essa proibição seria um passo à frente, provando seriedade no combate às obscenas emissões dos ricos – o que falta em nosso cenário político global. Em última análise, no entanto, a restrição de jatos particulares ainda não será suficiente sem uma mudança modal para o transporte público de baixo e zero carbono, universalmente acessível e gratuito para todos. Isso exige que enormes projetos de infraestrutura de transporte verde sejam entregues pelo Estado e retirados do mercado privado, colocando o foco nas pessoas e no planeta, não no lucro privado. Sem isso, restringir jatos particulares será como espantar moscas quando uma horda de gafanhotos estiver se aproximando da sua colheita.
Sobre os autores
é um ativista do Partido Trabalhista que trabalha com a pauta do Green New Deal.