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Henrique Kissinger. Brandon Downey / Flickr

Ele finalmente morreu

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Tradução
Sofia Schurig e Gercyane Oliveira

O tempo de Henry Kissinger na Terra foi gasto organizando a matança de milhões de pessoas em nome dos ricos e poderosos, cujo respeito por ele transcendia as lealdades partidárias. Que ele apodreça no inferno.

Henry Kissinger está morto. A mídia já está produzindo denúncias fervorosas e calorosas lembranças em igual medida. Talvez nenhum outro personagem na história americana do século XX seja tão polarizante, tão veementemente repudiado por alguns quanto é reverenciado por outros.

Ainda assim, há um ponto sobre o qual todos podemos concordar: Kissinger não deixou um cadáver exquisito. Os obituários podem descrevê-lo como afável, professoral, até carismático. Mas certamente ninguém, nem mesmo os bajuladores de carreira como Niall Ferguson, historiador e comentarista político conservador britânico, ousará elogiar o titã caído como sexy.

Como os tempos mudaram.

Na época em que Kissinger era conselheiro de segurança nacional, a Women’s Wear Daily publicou um perfil jocoso do jovem estadista, descrevendo-o como “o símbolo sexual da administração Nixon”. Em 1969, segundo o perfil, Kissinger compareceu a uma festa cheia de socialites de Washington com um envelope marcado como “Top Secret” sob o braço. Os outros convidados mal podiam conter sua curiosidade, então Kissinger desviou suas perguntas com uma piada: o envelope continha sua cópia da última revista Playboy. (Hugh Hefner aparentemente achou isso muito engraçado e, a partir daí, garantiu que o conselheiro de segurança nacional recebesse uma assinatura gratuita.)

O que o envelope realmente continha era uma cópia do discurso “maioria silenciosa” de Nixon, um discurso agora infame que visava traçar uma linha nítida entre a decadência moral dos liberais anti-guerra e o realpolitik inabalável de Nixon.

Durante a década de 1970, enquanto planejava bombardeios ilegais no Laos e no Camboja e possibilitava o genocídio em Timor-Leste e no Paquistão Oriental, Kissinger era conhecido entre os socialites de Washington como “o playboy da ala ocidental”. Ele gostava de ser fotografado, e os fotógrafos atendiam. Ele era presença constante nas páginas de fofocas, especialmente quando seus flertes com mulheres famosas se tornavam públicos — como quando ele e a atriz Jill St. John inadvertidamente dispararam o alarme em sua mansão em Hollywood tarde da noite enquanto se dirigiam à piscina dela. (“Eu estava ensinando xadrez a ela”, explicou Kissinger mais tarde.)

Enquanto Kissinger se divertia com a alta sociedade de Washington, ele e o presidente — uma dupla tão firmemente unida que Isaiah Berlin os apelidou de “Nixonger” — estavam ocupados criando uma marca política baseada em seu suposto desprezo pela elite liberal, cuja moral efeminada, afirmavam eles, só poderia levar à paralisia. Kissinger certamente desprezava o movimento anti-guerra, menosprezando os manifestantes como “filhos da classe média alta” e advertindo: “As mesmas pessoas que gritam ‘Poder para o Povo’ não vão ser as pessoas que assumirão este país se isso se transformar em um teste de força.” Ele também desprezava as mulheres: “Para mim, as mulheres não são mais do que um passatempo, um hobby. Ninguém dedica muito tempo a um hobby.” Mas é inegável que Kissinger tinha uma predileção pelo liberalismo dourado da alta sociedade, as festas exclusivas e jantares de bife e flashes de câmera.

E, para não esquecermos, a alta sociedade dos Estados Unidos, mas também do mundo inteiro, o amava de volta. Gloria Steinem, uma companheira de jantar ocasional, chamava Kissinger de “o único homem interessante na administração Nixon”. A colunista de fofocas Joyce Haber o descrevia como “mundano, humorado, sofisticado e um cavalheiro com as mulheres”. Hugh Hefner o considerava um amigo e afirmou uma vez em público que uma pesquisa com suas modelos revelou que Kissinger era o homem mais desejado para encontros na mansão da Playboy.

Essa paixão não terminou nos anos 1970. Quando Kissinger completou noventa anos em 2013, sua festa de aniversário no tapete vermelho foi frequentada por uma multidão bipartidária que incluía Michael Bloomberg, Roger Ailes, Barbara Walters, até o “veterano pela paz” John Kerry, junto com cerca de 300 outras personalidades de destaque. Um artigo na Women’s Wear Daily — eles continuaram cobrindo Kissinger no novo milênio — relatou que Bill Clinton e John McCain fizeram os brindes de aniversário em uma sala de baile decorada com chinoiserie, para agradar ao convidado de honra da noite. (McCain, que passou mais de cinco anos como prisioneiro de guerra, descreveu seu “maravilhoso afeto” por Kissinger, “por causa da Guerra do Vietnã, que foi algo enormemente impactante para ambos os nossos vidas.”) O próprio aniversariante subiu ao palco, onde “lembrou aos convidados sobre o ritmo da história” e aproveitou a ocasião para pregar o evangelho de sua causa favorita: o bipartidarismo.

A capacidade de Kissinger para o bipartidarismo era renomada. (Os republicanos Condoleezza Rice e Donald Rumsfeld estavam presentes no início da noite, e mais tarde, durante a noite, a democrata Hillary Clinton entrou por uma entrada de carga de braços abertos, perguntando: “Prontos para a segunda rodada?”) Durante a festa, McCain elogiou Kissinger, dizendo: “Ele foi consultor e conselheiro de todos os presidentes, republicanos e democratas, desde Nixon.” O senador McCain provavelmente falou por todos na sala quando continuou: “Eu não conheço ninguém que seja mais respeitado no mundo do que Henry Kissinger.”

Na verdade, grande parte do mundo detestava Henry Kissinger. O ex-secretário de Estado evitava visitar vários países por medo de ser detido e acusado de crimes de guerra. Em 2002, por exemplo, um tribunal chileno exigiu que ele respondesse perguntas sobre seu papel no golpe de estado chileno de 1973. Em 2001, um juiz francês enviou policiais ao quarto de hotel de Kissinger em Paris para lhe entregar um pedido formal de interrogatório sobre o mesmo golpe, durante o qual vários cidadãos franceses desapareceram. (Aparentemente, sem se abalar, o ex-estadista transformado em consultor privado encaminhou o assunto ao Departamento de Estado e embarcou em um avião para a Itália.) Ao mesmo tempo, ele cancelou uma viagem ao Brasil depois que rumores começaram a circular de que ele seria detido e obrigado a responder perguntas sobre seu papel na Operação Condor, o esquema dos anos 1970 que uniu ditaduras sul-americanas no desaparecimento dos opositores exilados uns dos outros. Um juiz argentino que investigava a operação já havia nomeado Kissinger como um possível “réu ou suspeito” em uma futura acusação criminal.

Mas nos Estados Unidos, Kissinger era intocável. Lá, um dos mais prolíficos carniceiros do século XX morreu como viveu — amado pelos ricos e poderosos, independentemente de sua filiação partidária. A razão da apelação bipartidária de Kissinger é direta: ele foi um dos principais estrategistas do império de capital dos Estados Unidos em um momento crítico no desenvolvimento desse império.


Não é de surpreender que o establishment político considerasse Kissinger um ativo e não uma aberração. Ele personificava o que os dois partidos dominantes compartilham: um compromisso de manter o capitalismo e a determinação de garantir condições favoráveis para os investidores americanos em grande parte do mundo. Desprovido de vergonha e inibição, Kissinger conseguiu guiar o império americano por um período perigoso na história mundial, quando o domínio global dos Estados Unidos às vezes parecia à beira do colapso.

Em um período anterior, a política de preservação capitalista era uma questão relativamente simples. Rivalidades entre as potências capitalistas avançadas levavam periodicamente a guerras espetaculares, que estabeleciam hierarquias entre as nações capitalistas, mas faziam relativamente pouco para interromper a marcha do capital pelo mundo. (Como bônus adicional, porque essas conflagrações eram tão destrutivas, ofereciam oportunidades regulares para novos investimentos — uma maneira de adiar as crises de superprodução endêmicas ao desenvolvimento capitalista.)

É verdade que, à medida que as metrópoles capitalistas afirmavam controle sobre os territórios que conquistavam em todo o mundo, o imperialismo enfrentava oposição em massa dos oprimidos. Movimentos anticoloniais surgiram para desafiar os termos do desenvolvimento global em todos os lugares onde o colonialismo foi estabelecido, mas, com algumas exceções notáveis, esses movimentos não conseguiram repelir as potências imperiais agressivas. Mesmo quando as lutas anticoloniais foram bem-sucedidas, soltar as amarras de uma potência imperial muitas vezes significava expor-se à invasão de outra — nas Américas, por exemplo, a retirada dos espanhóis de suas colônias ultramarinas significou que os Estados Unidos assumiram o papel de nova hegemonia regional no início do século XX, afirmando sua dominação sobre lugares que, como Porto Rico, os líderes americanos consideravam “estrangeiros em sentido doméstico“. Ao longo desse tempo, o colonialismo — assim como o capitalismo — muitas vezes parecia praticamente inquebrável.

Mas após a Segunda Guerra Mundial, o eixo da política global mudou.

Quando a fumaça finalmente se dissipou sobre a Europa, revelou um mundo que era quase irreconhecível para as elites. Londres estava em ruínas. A Alemanha estava dividida, partilhada por dois de seus rivais. O Japão foi efetivamente anexado pelos Estados Unidos, para ser remodelado à imagem dessa nação. A União Soviética havia gerado uma economia industrial com uma velocidade incomparável e agora detinha verdadeira influência geopolítica. Os Estados Unidos, por sua vez, em apenas algumas gerações, haviam substituído a Grã-Bretanha como uma potência militar e econômica sem rival no palco mundial.

Mas, mais importante, a Segunda Guerra Mundial forneceu um sinal definitivo às pessoas em todo o mundo colonizado de que o colonialismo era insustentável. A supremacia europeia estava nos estertores da morte. Um período histórico caracterizado por guerras entre potências do Primeiro Mundo (ou Norte Global) deu lugar a um período de conflitos anti-coloniais sustentados no Terceiro Mundo (ou Sul Global).

Os Estados Unidos, emergindo da Segunda Guerra Mundial como o novo hegemon mundial, teriam estado em desvantagem em qualquer realinhamento global que restringisse o livre movimento do capital de investimento americano. Nesse contexto, o país assumiu um novo papel geopolítico. No pós-Segunda Guerra Mundial, na era de Kissinger, os Estados Unidos se tornaram o garante do sistema capitalista global.

No entanto, garantir a saúde do sistema como um todo nem sempre era o mesmo que garantir a predominância das empresas americanas. Na verdade, o Estado americano precisava administrar uma ordem mundial propícia ao desenvolvimento e florescimento de uma classe capitalista internacional. Os Estados Unidos se tornaram o principal arquiteto do capitalismo atlântico pós-guerra — um regime comercial que ligava os interesses econômicos do Oeste Europeu e do Japão às estratégias corporativas americanas. Em outras palavras, para preservar uma ordem capitalista global que defendesse principalmente os negócios americanos — não as empresas —, os Estados Unidos precisavam fomentar o desenvolvimento capitalista bem-sucedido de seus rivais. Isso significava gerar novos centros capitalistas, como o Japão, e facilitar o restabelecimento de economias europeias saudáveis.

Como sabemos, as metrópoles europeias estavam rapidamente se distanciando de suas colônias. Movimentos de libertação nacional ameaçavam os interesses centrais que os Estados Unidos se comprometeram a proteger, perturbando o mercado mundial unificado que o país desejava coordenar. A promoção dos interesses americanos, portanto, adquiriu uma dimensão geopolítica mais ampla. A elite do poder em Washington comprometeu-se a derrotar desafios à hegemonia capitalista onde quer que surgissem no mundo. Para esse fim, o estado de segurança nacional americano empregou uma variedade de meios: apoio militar a regimes reacionários; sanções econômicas; interferência em eleições; coerção; manipulação do comércio; negociações táticas de armas; e, em alguns casos, intervenção militar direta.

Ao longo de sua carreira, o que mais preocupava Kissinger era a possibilidade iminente de que países subordinados pudessem agir por conta própria para criar uma esfera de influência e comércio alternativa. Os Estados Unidos não hesitaram em pôr fim a tais iniciativas independentes quando surgiram. Se um país resistisse ao caminho estabelecido para ele pelas condições do desenvolvimento capitalista global, os americanos subjugariam o desafiante. A desobediência simplesmente não podia ser tolerada, não quando havia tanta riqueza e poder político em jogo. Durante sua vida, Kissinger representou essa política. Ele entendia seus objetivos e requisitos estratégicos melhor do que qualquer pessoa na classe dominante dos Estados Unidos.

Portanto, as políticas específicas que Kissinger perseguiu eram menos sobre promover os lucros das corporações americanas e mais sobre garantir condições saudáveis para o capital como um todo. Este é um ponto importante, frequentemente negligenciado em estudos simplistas do império dos EUA. Com muita frequência, os radicais assumem uma ligação direta entre os interesses de corporações americanas específicas no exterior e as ações do estado americano. E em alguns casos, essa suposição pode ser apoiada pela história, como a remoção do reformador social guatemalteco Jacobo Árbenz pelo exército dos EUA em 1954, em parte devido ao lobby da United Fruit Company.

Mas em outros casos, especialmente aqueles que encontramos nas complexidades da carreira de Kissinger, essa suposição obscurece mais do que revela. Após o golpe contra Salvador Allende no Chile, por exemplo, a administração Nixon não pressionou seus aliados na junta de direita para devolver as minas nacionalizadas anteriormente às empresas americanas Kennecott e Anaconda. Devolver propriedades confiscadas a empresas americanas era uma questão secundária. O objetivo principal de Nixon foi alcançado no momento em que Allende foi removido do poder: o caminho democrático do Chile para o socialismo já não ameaçava gerar uma alternativa sistêmica ao capitalismo na região.

Contrariamente à sabedoria convencional, conter o expansionismo soviético dificilmente foi um fator importante na formulação da política externa americana durante a Guerra Fria. Os planos americanos de apoiar o capitalismo internacional por meio da força foram decididos tão cedo quanto 1943, quando ainda não estava claro se os soviéticos sobreviveriam à guerra. E mesmo no início da Guerra Fria, a União Soviética não tinha a vontade nem a capacidade de se expandir além de seus satélites regionais. As ações de Stalin para estabilizar o “socialismo em um país” surgiram como uma estratégia defensiva, e a Rússia comprometeu-se com a détente como a melhor aposta para sua existência contínua, exigindo apenas um anel de estados-tampão para protegê-la das invasões ocidentais. Por esse motivo, uma geração de militantes de esquerda na América Latina, Ásia e Europa (basta perguntar aos gregos) interpreta a chamada “Guerra Fria” como uma série de traições de Moscou aos movimentos de libertação em todo o mundo. O expansionismo soviético só foi realmente utilizado na política externa americana como uma ferramenta retórica.

Compreensivelmente, o formato da economia mundial não mudou muito dramaticamente após a queda da União Soviética. A neoliberalização dos anos 1990 representou uma intensificação do programa global que os Estados Unidos e seus aliados vinham perseguindo o tempo todo. E hoje, o estado americano continua em seu papel de garantidor global do capitalismo de livre mercado, mesmo quando os governos do Terceiro Mundo, temendo repercussões geopolíticas, realizam contorções políticas para evitar confrontar diretamente o capital americano. Por exemplo, a partir de 2002, Washington começou a apoiar esforços para derrubar o presidente esquerdista da Venezuela, Hugo Chávez, mesmo enquanto as gigantes americanas do petróleo continuavam perfurando em Maracaibo e o petróleo venezuelano continuava fluindo para Houston e Nova Jersey.

A doutrina Kissinger persiste hoje: se os países soberanos se recusarem a se encaixar nos esquemas mais amplos dos EUA, o estado de segurança nacional americano agirá rapidamente para minar sua soberania. Isso é rotina para o império americano, não importa qual avatar do partido esteja na Casa Branca – e Kissinger, enquanto vivo, foi um dos principais guardiões desse status quo.


Henry Kissinger finalmente faleceu. Dizer que ele era uma pessoa ruim beira o clichê, mas é, no entanto, um fato. E agora, finalmente, ele se foi.

Ainda assim, nosso alívio coletivo não deve nos desviar de uma avaliação mais profunda. No final das contas, Kissinger deve ser rejeitado por mais do que apenas sua aceitação única de atrocidades em nome do poder americano. Como progressistas e socialistas, devemos ir além de ver Kissinger como um príncipe sórdido das sombras imperialistas, uma figura que só pode ser confrontada judicialmente, sob o olhar frio de um tribunal imaginário. Sua frieza repugnante e sua indiferença casual para com seus resultados frequentemente genocidas não devem nos impedir de vê-lo como ele era – uma personificação das políticas oficiais dos EUA.

Ao mostrar que o comportamento de Kissinger era parte integrante do

expansionismo americano de forma mais geral, esperamos reunir uma crítica política e moral da política externa americana – uma política externa que sistematicamente subverte as ambições populares e mina a soberania em defesa das elites, tanto estrangeiras quanto domésticas.

A morte de Kissinger livrou o mundo de um gerente homicida do poder americano, e pretendemos dançar sobre sua sepultura. Preparamos um livro para esta ocasião, um catálogo das conquistas sombrias de Kissinger ao longo de uma longa carreira de carnificina pública. Nele, alguns dos melhores historiadores radicais do mundo dividem em episódios digestíveis a história mais longa da ascensão americana na segunda metade do século XX.

Em um ponto de nosso livro, o historiador Gerald Horne conta uma história sobre o momento em que Kissinger quase se afogou enquanto canoava sob a maior cachoeira do mundo. É uma história divertida, tornada ainda mais revigorante pelo nosso conhecimento de que o tempo finalmente realizou o que as Cataratas Vitória não conseguiram fazer tantas décadas atrás. Mas, para que não celebremos cedo demais, devemos lembrar que o estado de segurança nacional americano que o produziu continua vivo e saudável.


Encomende Only The Good Die Young (“Só os Bons Morrem Jovens”), o obituário em inglês de Henry Kissinger em formato de livro da Jacobin.

Sobre os autores

é doutorando em geografia na Rutgers, The State University of New Jersey.

é editor e fundador da revista Jacobin.

René Rojas

é professor assistente no departamento de desenvolvimento humano da SUNY Binghamton. Ele faz parte do conselho editorial da Catalyst.

Cierre

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Published in América do Norte, DESTAQUE, Guerra e imperialismo and História

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