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Trabalhadores humanitários tentam salvar o que sobrou após o bombardeio do hospital de Al-Aqsa em 2014 (MEE/Eloise Bollack)

Os hospitais palestinos sempre foram alvos de Israel

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O Exército de Israel tem procurado negar ou justificar bombardeios e invasões de hospitais palestinos em Gaza, na brutal operação em curso. Só que isso não é novidade. Na operação de 2014, o Hospital Al-Aqsa foi bombardeado, como ocorreu recentemente com o Hospital Al-Shifa - provando que o ataque de hospitais.

Em seu livro Em estado de choque: sobrevivendo em Gaza sob ataque isralense (Autonomia Literária, 2017), o jornalista palestino Mohammed Omer já havia denunciado a brutalidade da ação israelense em 2014. Hoje, nove anos depois, uma operação muito mais brutal está em curso, tendo os hospitais palestinos em Gaza também como alvo conforme denunciado largamente pela mídia internacional e pela Organização Mundial de Saúde.

Aqueles eventos bárbaros de 2014 geraram um precedente para a brutalidade de 2023. Para além dos mortos de hoje, a escalada de violência na Palestina gera um efeito dominó para o mundo inteiro, no qual práticas antes intoleráveis passam a ser naturalizadas se obedecem à lógica de um “bem maior”.

Agora, o hospital Al-Shifa foi invadido sob alegações estapafúrdias, expondo a vida de pacientes e da equipe médica. Há poucas semanas, o hospital Al Ahli foi atacado, mas Israel produziu uma narrativa na qual foram os próprios palestinos a atacarem suas instalações – o que hoje é desmentido mesmo pela imprensa tradicional. Tudo isso constitui os piores crimes de guerra do nosso tempo e ainda está em curso. A narrativa sobre os crimes ocorridos em 2014 nos ajudam a entender que isso é uma política sistemática de Israel.


Hospital AL-AQSA voa pelos ares

Ao menos cinco palestinos foram assassinados e outros 70 feridos em ataque de tanques israelenses contra o Hospital Al-Aqsa, em Deir al-Balah, região central de Gaza. Segundo fontes no hospital, o bombardeio durou grande parte do dia, até o anoitecer. Um paciente foi assassinado, e entre os feridos encontravam-se visitantes, profissionais de saúde e outros pacientes. Cerca de 20 profissionais foram atingidos pelo bombardeio, afirma o Dr. Ashraf al-Qudra, chefe de relações públicas no Ministério da Saúde de Gaza.

O ataque deixou o hospital sem condições de receber mais pacientes ou mesmo de tratar os casos já recebidos, e as ambulâncias foram forçadas a transferir os feridos para outras unidades médicas. Dois veículos que tentavam levar feridos para o Hospital Shifa, na Cidade de Gaza, foram atingidos por disparos de tanques.

Segundo Qudra, os mísseis danificaram várias salas de operação, assim como equipamentos médicos importantes, como uma unidade para produção de oxigênio utilizada em procedimentos cirúrgicos. Fontes médicas me informaram que o terceiro e quarto andares, assim como a recepção e a cobertura, foram seriamente atingidos. Os disparos danificaram ainda as instalações de raio-x e as alas da maternidade.

Israel nega, com frequência, estar mirando instalações médicas, apesar de dizer insistentemente que o Hamas utiliza infraestrutura civil – incluindo casas, escolas e hospitais – para esconder suas armas. “Estamos atingindo o que a máquina de guerra do Hamas usa para esconder foguetes”, disse Mark Regev, porta-voz do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, & Al Jazeera. “Não tenho nenhuma dúvida de que o Hamas usou e continua a usar hospitais… Nós não atiramos contra civis, mas não tenho conhecimento dessa situação específica “, disse, referindo-se aos ataques ao Hospital Al-Aqsa.

O Dr. Khalil Khattab estava operando um paciente ferido num ataque anterior quando as primeiras bombas atingiram o hospital. Rapidamente correu escadaria abaixo e viu vários colegas feridos. Muitos foram atingidos quando tentavam tratar as pessoas. Médicos, enfermeiros e pacientes jaziam no chão, sangrando. “O elevador foi destruído e todos os recursos do hospital estão muito danificados”, relatou Khattab, verificando a destruição ao seu redor.

O Hospital Al-Aqsa, na região central de Gaza, é o único que oferece serviços a vários campos de refugiados, inclusive al- -Maghazi e al-Nuseirat, assim como para outras cidades e vilas, tais como Deir al-Balah e Juhu al-Dik. Profissionais de saúde estimam que Aqsa é o principal hospital da Faixa de Gaza, atendendo mais de 350 mil moradores.

Desde que a Operação Margem Protetora teve início, foram mortos mais de 550 palestinos, a maioria civis, e pelo menos 3.350 foram feridos. Um civil e 25 soldados israelenses também foram mortos no conflito.

A infraestrutura médica de Gaza já havia sido severamente atingida pela guerra, mas o ataque ao Hospital Al-Aqsa reduziu ainda mais os recursos médicos. Pacientes seriamente feridos tiveram de ser evacuados para o andar térreo, deixando o hospital amontoado, precariamente equipado e com todos – pacientes e médicos – em estado de pânico.

O Dr. Al-Qidra, outro médico atingido no ataque em Aqsa, estava realizando uma cirurgia na Unidade de Tratamento Intensivo quando a primeira bomba israelense atingiu o hospital. Qidra está clamando para que a Organização Mundial da Saúde (OMS), assim como outros grupos internacionais, intervenha imediatamente para que Israel interrompa seus ataques a hospitais, pacientes, equipes médicas e ambulâncias Grupos de direitos humanos também intensificaram seus pedidos para aumentar a proteção, “O ataque de hoje ao Hospital Aqsa é o mais recente de uma série de ataques contra instalações médicas, ou próximo delas. Gaza tem lutado para conseguir atender as milhares de pessoas feridas desde que a ofensiva israelense começou, em 8 de julho, disse Philip Luther, diretor do programa da Anistia Internacional para o Oriente Médio e Norte da África. “Não existem justificativas para atingir instalações de saúde, em qualquer situação. Esses ataques exigem uma investigação internacional imparcial, como manda a ONU, completou revoltado.

Não se sabe se o hospital terá condições de funcionar nos próximos dias. As autoridades estão tentando transferir as equipes de saúde e todos os pacientes para outras unidades, de modo que pudessem receber tratamento apropriado. “Não é possível para os médicos realizar procedimentos cirúrgicos enquanto bombas israelenses caem sobre nossas cabeças sem parar”, diz Khattab, Na última semana, os ataques aéreos israelenses atingiram o Hospital de Reabilitação Al-Wafa, mesmo com ativistas pela paz anunciando que iriam posicionar-se no hospital como “escudos humanos. Depois do ataque, os médicos foram forçados a transferir 18 pacientes para outro hospital, embora apenas ferimentos leves tenham sido relatados. O Hospital Europeu de Gaza também foi atingido por ataques aéreos israelenses, que danificaram a sala de cirurgia.

Esse tipo de ação levou pacientes e moradores a se sentirem inseguros dentro ou próximo de hospitais, vistos antes como lugares imunes e protegidos pela lei internacional. “Vamos ficar esperando nossos feridos serem atingidos novamente? Israel sabe que aqui há um hospital, mas mesmo assim atira bombas contra nós”, afirma eles ati- política? ram

Abuel Abed, 44 anos, que vive próximo ao Hospital Al-Aqsa. “Essa guerra é entre Israel e Hamas, então por que contra hospitais que não têm nada a ver com política? Esses hospitais prestam serviços públicos vitais para famílias, e não há qualquer razão válida para bombardeá-los – nenhum foguete é disparado próximo daqui”, sustenta. Mas não são somente os pacientes e os civis que estão com medo – até mesmo os médicos, treinados para lidar com situações de alta intensidade, estão lutando para suportar a pressão do quase contínuo bombardeio israelense. Agora, diz Abuel Abed, “Israel fará nossos pacientes morrerem mesmo sem lançar bombas contra eles”.

Sobre os autores

é jornalista palestino renomado internacionalmente, foi considerado “a voz dos sem vozes” pelo Martha Gellhorn Prize for Journalism. Durante os últimos anos, recebeu prêmios como Best Youth Voice e Press Freedom Prize. Atualmente publica suas reportagens no New Statesman, Electronic Intifada, Al Jazeera, The Nation, New York Times e Pacica Radio. Seu último livro publicado no Brasil é "Em estado de choque – sobrevivendo em Gaza sob o ataque israelense".

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Published in Análise, DESTAQUE, Guerra e imperialismo, Militarismo and Oriente Médio

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