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O chanceler alemão Olaf Scholz, cuja coalizão recentemente se fragmentou, faz uma declaração à mídia em 6 de novembro de 2024, em Berlim, Alemanha. (Sean Gallup / Getty Images)

A coligação alemã entrou em colapso, mas a recessão veio para ficar

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Tradução
Pedro Silva

O chanceler alemão Olaf Scholz demitiu seu ministro das finanças, Christian Lindner, levando o país a um novo processo eleitoral. Problemas econômicos estarão no centro da campanha — mas propostas para fazer uma ruptura com a política de austeridade estão notavelmente ausentes.

 “Scholz rompe com Lindner.” Três palavras que causam impacto nos alemães, depois de três anos em que o líder do Partido Democrata Livre (FDP), Christian Lindner, deu um tom austero para o governo de coalizão. A divisão entre o chanceler Olaf Scholz e o ministro das Finanças Lindner tem outras consequências importantes: um governo paralisado, um voto de confiança iminente e novas eleições, de fato, no meio de uma crise econômica. A situação da economia e das famílias deve piorar ainda mais. Pois não há fim à vista para a recessão na Alemanha — e com Donald Trump eleito apenas um dia antes desta crise governamental, novas guerras comerciais estão no horizonte.

A chamada coalizão do semáforo — até a primeira semana de novembro composta pelos Social-democratas (SPD) de Scholz, os Verdes e o menor FDP — foi minada pela mesma coisa que a condenou desde o início: o estado das finanças públicas. O freio da dívida (uma emenda constitucional de 2009 que limita os déficits do governo a minúsculos 0,35%) permaneceu em vigor mesmo sob a autointitulada administração “progressista”, e não houve aumentos de impostos para bilionários para ajudar a estabilizar o navio.

No início, a coalizão conseguiu contornar o freio da dívida usando vários truques. Mas com o aumento da crise, uma decisão do Tribunal Constitucional Federal em novembro de 2023 e a recessão em curso, o nó se apertou ainda mais. O governo ficou praticamente paralisado. Ele só podia tomar novas iniciativas que não custassem nada e pudessem gerar receita tributária — por exemplo, os incentivos usados ​​para motivar aposentados ou trabalhadores de meio período a retornar ao trabalho ou trabalhar mais. O resultado: todos os partidos da coalizão tiveram que esquecer a maioria das promessas que fizeram aos eleitores antes da eleição no outono de 2021. Os resultados também são miseráveis ​​— o projeto de auxílios de custo de vida conhecido como Bürgergeld (literalmente “renda dos cidadãos”) está cheio de buracos, a economia está vacilando, a infraestrutura está desmoronando e os planos de auxílios para crianças foram adiados. Ao mesmo tempo, os índices nas pesquisas de avaliação dos três partidos que compõem o governo continuaram caindo — para a alegria da oposição conservadora e de extrema direita.

Freio da dívida

A crise culminou em uma recessão prolongada — e em documentos do SPD, do vice-chanceler Robert Habeck dos Verdes e de Lindner, cada um explicando o que gostaria de fazer, mas que era supostamente impossível na coalizão. Com um pouco de vontade política, a coalizão provavelmente poderia ter encontrado um meio-termo para permanecer no poder. Mas, de acordo com o chanceler Scholz, Lindner não estava disposto a fazer um acordo, apesar das concessões de longo alcance que havia oferecido.

Ao demitir seu ministro das finanças, Scholz disse: “Não vejo outra maneira senão tomar essa medida para evitar danos ao nosso país”. Esta foi certamente uma declaração forte: se você não tivesse ouvido falar sobre o histórico de Scholz, poderia pensar que ele era realmente um social-democrata. Os Verdes fizeram o que era esperado deles: em resposta à eleição de Trump, pediram mais apoio financeiro para a Ucrânia.

Poucos minutos depois, Christian Lindner tentou jogar a culpa para cima: o chanceler havia feito a exigência final de que o freio da dívida fosse suspenso, o que significaria abrir a perspectiva de mais empréstimos do governo. Lindner disse que não poderia ter aceitado isso sem violar seu juramento de posse. “A frase-chave na declaração de Lindner estava factualmente, simplesmente — quase dramaticamente — errada”, o economista Jens Suedekum corretamente conjecturou. Lindner então sugeriu a Scholz que eles seguissem juntos o caminho de novas eleições. Mas Scholz o dispensou. Tudo isso havia sido planejado — como fica claro, de acordo com Lindner, por conta da declaração preparada pelo chanceler e o momento.

Com base nisso, Scholz deve tirar proveito da vantagem de ter tomado a iniciativa política. Quem mostrar alguma coragem primeiro tem mais probabilidade de ser recompensado pelos eleitores, embora isso possa não ser suficiente.

De acordo com o plano de Scholz, o parlamento federal (Bundestag) deve realizar um voto de confiança em seu governo minoritário em 15 de janeiro. Se perder — como ele certamente espera, já que agora conta apenas com o apoio do SPD e dos Verdes — novas eleições devem ocorrer, presumivelmente em março. De acordo com Scholz, antes do Natal, o Bundestag deve aprovar leis como o ajuste de faixas de impostos para pessoas com altos rendimentos para lidar com a inflação e fornecer alívio fiscal corporativo. Essas são prioridades notáveis, quando em sua declaração de ruptura com Lindner, o chanceler o acusou de pensar apenas nos ricos.

Agora, Jörg Kuckies, que antes era secretário de Estado na chancelaria, assumirá como ministro das finanças. Ele é membro do SPD desde o final da adolescência — mas também foi chefe do escritório do Goldman Sachs em Frankfurt por quase uma década. Repetidamente, ele expressou grande interesse público em subsídios industriais multibilionários, que certamente ajudou a negociar. Ele é o primeiro economista a ocupar o cargo de ministro das finanças em mais de uma década — e também o primeiro incapaz de contar com maioria no Bundestag.

Campanha econômica

Os próximos seis meses provavelmente continuarão tão mal quanto antes para a economia da Europa como um todo. Qualquer iniciativa legislativa requer uma maioria incluindo o FDP de Lindner (o que é dificilmente concebível) ou uma maioria com os democratas-cristãos (possível somente se for intencionalmente neoliberal). Os democratas-cristãos também estão enfrentando um dilema entre mostrar “responsabilidade” ou então pressionar Scholz por eleições antecipadas. Eles já anunciaram ambos, mas explicitamente descartaram apoio a um orçamento de Scholz.

Essa situação provavelmente continuará até meados de 2025, pelo menos, e, no pior dos casos, até o fim do ano. Em linguagem simples, isso significa mais seis meses de crise econômica, no mínimo — e uma incerteza massiva para todos os envolvidos. As empresas adiarão investimentos e os cidadãos usarão suas economias. No pior dos casos, o novo governo Trump introduzirá mais tarifas contra a União Europeia em janeiro. Isso provavelmente aponta para um desemprego crescente e uma desindustrialização acelerada, se o governo permanecer paralisado.

Isso também significa que a próxima campanha eleitoral federal, em algum momento de 2025, certamente será travada em torno dos problemas econômicos. Em princípio, esse é um bom ponto de partida para a esquerda alavancar uma mensagem econômica populista. Mas o partido de esquerda Die Linke não tem braços para isso — a política econômica sempre teve dificuldade em ganhar força no partido, e com a saída de Fabio De Masi (para se juntar ao partido de Sahra Wagenknecht, BSW) e a morte de Axel Troost no ano passado, perdeu seus últimos economistas importantes. O BSW tem economistas, mas está pouco interessado em defender um ponto de vista estritamente da classe trabalhadora. Isso é vital se a esquerda quiser mudar o curso atual da Alemanha.

Sobre os autores

é colaborador da Jacobin Alemanha.

Cierre

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Published in Análise, Austeridade, Economia, Europa and Política

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