Há várias formas de um futebolista se tornar um ídolo de sua gente. Algumas mais objetivas, como marcar gols em série, domingo após domingo, e carregar o time às vitórias e títulos; outras mais simbólicas, aquelas relacionadas à liderança, fidelidade, capacidade de representar seus seguidores. Há longas construções, que valem uma carreira toda, e há símbolos instantâneos, brilhos efêmeros depois de um lance improvável nos acréscimos de uma final. Não há atalhos, e as condições são infinitas. É um jogo, afinal.
Passada a primeira camada dos torcedores, esses que acompanham seu clube e trocam um afeto mais próximo e sensível com os jogadores, algumas referências conseguem extrapolar o alambrado. Sócrates, por exemplo, foi um rosto estampado nos atos pelas eleições diretas há quase 40 anos, condicionando inclusive o futuro de sua carreira às conquistas da luta pela democracia. Maradona, morto no ano passado, dedicou sua vida aos dribles ao tempo que não mediu esforços para defender a soberania dos povos latino-americanos, como quando reforçou o direito da Bolívia em mandar jogos na altitude de La Paz ou, num tema mais amplo, ao fazer coro contra a Alca, a Aliança Livre de Comércio das Américas, junto de líderes como Lula, Evo Morales e Hugo Chávez.
Então, via de regra, esse é o caminho. Antes ganha repercussão com quem assiste seu desempenho, claro. A partir daí, um ou outro passa a representar muito mais do que um jogo que, neste caso, dura 90 minutos, no máximo duas ou três vezes na semana.
É exatamente nesse contexto que paira o grande jogador de futebol de todos os tempos. Diante de Pelé, às vezes parece que não se viu o bastante para recebê-lo nessa prateleira dos que estão além do jogo – e estamos falando do mais conhecido esportista da história, de um artista cujo apelido de duas sílabas é pronunciado em todo e qualquer canto do planeta. Mas não foi lhe dado o direito de ser apenas o melhor ser humano que se atreveu a tentar jogar bola, como se o Brasil ficasse esperando que sua postura fora de campo, algo como um discurso mais incisivo sobre temas sociais ou raciais, gritasse tão alto quanto o dia em que distribuiu chapéus em toda a defesa do Juventus na rua Javari. Pior: quando o fez, pouco repercutiu. Agora, um novo filme chega num momento onde já se ensaiava uma releitura do maior ícone deste país.
“Eu não morri”, gritou Pelé ao entrar no vestiário após a conquista do tricampeonato, no México, em 1970. Ou segue gritando.
Política dentro e fora de campo
Qualquer pessoa minimamente interessada pelo personagem Pelé vai saber, ainda que por alto, que ele ganhou três Copas do Mundo, a primeira bem jovem, aos 17 anos, e a última numa confirmação de reinado. Que alcançou a marca de mil gols, que viajou o mundo inteiro, que só jogou pelo Santos até dar um pulo em Nova Iorque no fim de carreira para jogar pelo Cosmos e que em algum momento da história foi celebrado como o atleta do século.
A dupla de diretores David Tryhorn e Ben Nicholas obviamente não tinha muito por onde inventar a roda na carreira futebolística do craque, e o resumo cabível para um documentário está lá, com foco principal na seleção brasileira: o gol do título na Suécia, as lesões no Chile e na Inglaterra e a redenção no México passando por um ótimo arquivo e saborosas entrevistas de quem viveu aqueles anos mágicos.
Mas, se o futebol está dado, os diretores queriam falar de política. Buscar naquele raro encontro com Pelé uma possível atualização no posicionamento do jogador fora das quatro linhas.
“Eu acho que não teve condições. Não deu para fazer outra coisa. Porque… o que que adiantou a ditadura? Para que lado você tá hoje? A gente fica meio perdido. Eu sou um cidadão brasileiro. Eu quero o melhor pro meu povo”, responde o protagonista, numa forma meio recortada e incompleta, na mais longa explanação sobre o tema durante o filme.
Ele sempre foi visto com alguém que pouco fez para enfrentar o regime militar ou denunciar o racismo. Paulo Cezar Caju, talvez seu mais crítico companheiro de vestiário, surge no documentário para dizer mais uma vez que Pelé é aquele tipo de “negro submisso”, “que aceita, que não critica, não julga”. Dentro de campo, o reserva no tricampeonato segue reverenciando o Rei por sua capacidade incomparável.
E não foi dessa vez que Pelé resolveu tecer longas reflexões sobre o tema. Provavelmente, nunca será. Pelé sempre foi mais presença que discurso, mais corpo do que voz. Não é o cara que, aos 80 anos de idade, vai divagar sobre o impacto do governo Médici na sociedade brasileira ou o que foi ser um jovem em tempos de golpe militar e AI-5. Em geral, ele se firma em três pilares. Que sua vida de jogador de futebol famoso não foi diretamente impactada pelo que acontecia na macropolítica brasileira; que durante todos esses anos foi convidado por todo tipo de prefeito, governador ou presidente, sem preferências por tipos, modelos ou partidos; e que nunca foi obrigado a fazer nada nem aceitar afago nenhum, nunca, apesar de admitir pressões e cobranças.
No filme, portanto, o texto das respostas de Pelé não surpreende, o que não tira a relevância da entrevista. Um Rei despido, confrontado pela milésima vez sobre essa conjuntura, esperando desvendar em minúcias o que pensa sua cabeça de tantos gols. Cenário intrinsecamente ligado à conversa sobre seu tamanho, como dito no começo desse texto, aquela da busca por um ídolo que seja também o porta-voz do enfrentamento das mazelas do país.
No fim, são os jornalistas que mais uma vez acabam por tratar disso. Juca Kfouri, no filme, domina a boa e velha comparação com Muhammad Ali, o boxeador que recusou a guerra (e muito mais que isso, claro) e preenche esse status de “além do esporte”. Mas lembra Juca, diante do contexto de Pelé, que “ditaduras são ditaduras”.
José Trajano, que foi ao México cobrir a Copa de 1970, responde a eterna dúvida sobre por que a esquerda torceu para o Brasil. Se havia uma certeza de que os militares capitalizariam sobre um título histórico, o futebol… bem, o futebol às vezes nos leva à contradição. “Quando a bola começa a rolar você passa por cima disso aí. Chegando lá, não tivemos coragem de torcer contra”. É como se o talento de Pelé e sua turma superasse qualquer ligação terrena com os homens de farda em Brasília.
Ainda assim, além de Fernando Henrique Cardoso, muito elogioso aos feitos do Rei e que chega a esboçar uma relação entre Pelé e a própria identidade brasileira, Antônio Delfim Netto, que era ministro durante a conquista do tricampeonato, dá o tom da importância da bola para os mandatários. “Se o povo está contente, o governo fica contente, né?”. Impossível não viajar de volta para 2014 e relacionar a fritura de Dilma Rousseff em Brasília com a maior derrota da história da equipe nacional em Belo Horizonte.
Voltando aos jornalistas, o mais relevante deles para a história, João Saldanha, é retratado a partir de seus ruídos com o maior jogador da seleção. Anunciado técnico da equipe nacional em fevereiro de 1969, ele tem méritos na formação do time histórico, mas não chegou ao Mundial de 1970. Militante comunista, o João Sem Medo enfrentou a ditadura (“nem eu escalo o ministério, nem o presidente escala o time”) e também o camisa 10, definindo o time a seu gosto e insinuando que um problema de visão estava atrapalhando o jogo de Pelé. No filme, o craque o define como um treinador autoritário, “machão”, que falava coisas desnecessárias e que não entendia muito de bola, sabe-se lá se apenas por questões técnicas e de relacionamento ou também se influenciado por um sentimento anticomunista latente. Veio Zagallo, um velho amigo, e o Brasil foi campeão.
Um rei em silêncio?
Eu não vi Pelé jogar. Quando me apaixonei por futebol, Pelé ocupava algo entre comentarista de televisão e ministro dos Esportes. Minha impressão entre a infância e a juventude era de que ninguém dava a mínima para o cara. Pelé era tudo, menos amado – um chato, um vendido, um mercenário, um omisso, um homem que nunca se posicionou e que, parafraseando Romário, calado era um poeta. Sempre foi muito fácil bater em Pelé.
Inclusive as coisas negativas de sua biografia sempre se sobressaíram. Pelé não reconheceu uma filha fora do casamento (ele aliás cita casos extraconjugais no filme), Pelé é amigo dos corruptos, Pelé é um cara vaidoso e ególatra que se trata na terceira pessoa. Tem aquela clássica também: Pelé foi craque, o problema é o Edson.
Essa dualidade entre dentro e fora também vale para as quadras, com outro exemplo famoso relacionado a outro gênio do esporte, Michael Jordan. Numa sociedade cada vez mais atenta à militância alheia, vira e mexe as discussões sobre esse grande jogador de basquete lembram de uma passagem bem marcante de sua vida pessoal. Eram as eleições para o senado na Carolina do Norte, quando o democrata Hervey Gantt tentava ser o primeiro negro a vencer aquela disputa. Seu adversário, Jesse Helms, foi muitas vezes apontado como racista. Jordan foi cobrado por um apoio a Gantt, mas revelou a seus colegas de time uma frase jamais esquecida. “Republicanos também compram tênis”.
Sem entrar no mérito das críticas, o ponto aqui é que, quando Pelé teve uma postura que valesse registro nesse debate, pouco repercutiu. É como se essa figura complexa e passível de contradições tivesse sido cravada num lado da história.
Numa recente edição do podcast Ubuntu Esporte Clube, projeto que se define como uma “visão afrocentrada do esporte” e tocado por jornalistas negras e negros do grupo Globo, Paulo Cesar Vasconcellos (que inclusive está no filme) lembra que Pelé se despediu da seleção em 1971 peitando a ditadura, desagradando políticos e com a família sendo perseguida.
No papo, o repórter Diego Moraes admitiu que não conhecia a história, e que passou anos de sua vida nesse coro que pedia um Pelé mais firme em suas posições.
Em longa série no site Ludopédio, o professor José Paulo Florenzano também trata dessa pressão sofrida pelo Rei que muitas vezes é ignorada quando se fala de sua relação com a ditadura. “Para espanto de quem o imaginava sempre dócil e suscetível às pressões do poder, ele se manteve irredutível, sem ceder a nenhum dos argumentos e apelos que lhe eram apresentados”.Depois, em 1974, com Pelé já decidido a não disputar a Copa do Mundo mesmo com a bronca dos militares, ele foi muito criticado por surgir como garoto-propaganda de uma marca de refrigerantes, como se trocar o campo pela publicidade fosse um crime contra a pátria. Também do artigo de Florenzano:
“A reação da imprensa brasileira, de maneira geral, foi a mais retrógrada possível. Inconformada com a troca do brasão da brasilidade pela logomarca do refrigerante, ela criticava o atleta com veemência e sarcasmo, publicando matérias e charges não isentas de conotações raciais. A revista Veja, por exemplo, lamentava vê-lo “transformado em caixeiro-viajante de uma bebida” estrangeira. Uma série de charges, do cartunista J. C. Lobo, publicadas no Cidade de Santos, conferia cores vivas a esta personagem derrisória, convocada a servir de suporte à mensagem subliminar endereçada ao negro fora de lugar. Às vésperas da competição, a primeira charge trazia a pergunta de uma jornalista branca: “Rei, ainda pensa na Seleção? ” Seguida da resposta do jogador negro: “Penso sim…Penso na Seleção dos melhores contratos publicitários que me ofereceram…”
Era como se o Pelé aceito pelo país fosse o que cabe no ambiente do esporte, onde um negro e pobre pode ascender e está sob controle dos dirigentes e da própria política. Já o Pelé bem-sucedido no outdoor e na TV acabou se mostrando um incômodo.
O próprio livro Pelé, a autobiografia, lançado na década passada, tem passagens sobre o tema. Essa a seguir é pouquíssimo lembrada. “O presidente Ernesto Geisel, que assumiu em 1974, a mulher dele e alguns coronéis do Exército queriam me ver de volta à seleção. Mas a essa altura eu já sabia o que o regime militar estava fazendo com alguns estudantes, cantores famosos andavam exilados e havia comentários sobre a tortura. A filha de Geisel veio me procurar e me pediu que reconsiderasse. Fiquei irredutível. (…) Perto do final de 1974, eu acreditava sinceramente que me aguardava uma vida como empresário e dirigente de futebol, sem ser escravo de ninguém”.
Vale também trazer uma fala dele sobre a questão racial.
“A experiência de ser negro no Brasil às vezes é meio difícil de explicar. Todas as raças se misturaram aqui – todo mundo tem um pouco de negro, de índio e de europeu, não se sabe bem até que ponto. No Brasil viveram muitos, muitos escravos, mas depois da abolição nunca houve nada parecido com o apartheid ou segregação, não temos fronteiras tão rígidas entre as raças, como na África do Sul ou nos Estados Unidos. Sofri muito pouco preconceito por causa da cor da minha pele e nunca julguei ninguém com base nisso. A minha primeira namorada era de origem japonesa, depois conheci uma garota sueca, e os meus filhos são mestiços. É claro que existe racismo no Brasil, mas tive a sorte de ficar famoso e rico quando jovem, e as pessoas tratam você de maneira diferente quando você tem dinheiro e é uma celebridade. É quase como uma raça à parte – nem negra nem branca: famosa”, refletiu ao tratar de uma viagem à África, quando diz ter percebido a sua representatividade para as populações negras.
Essa pressão por um posicionamento também tem sido resignificada com reflexões do movimento negro, como por exemplo nas falas e textos de Marcelo Carvalho, fundador do Observatório da Discriminação Racial no Futebol. Em artigo publicado na Folha de S. Paulo em 2020, diante de mais um dos tantos casos de injúria racial contra atletas, ele escreveu:
“Ao exigir de atletas negros que se posicionem, as pessoas esquecem que falar de racismo é falar de uma dor que nos acompanha desde o nascimento. (…) Falar de racismo é lembrar acontecimentos traumáticos, em que muitas vezes essa pessoa negra foi humilhada, desumanizada, tratada como um objeto associado a algo ruim, feio ou violento. (…) Por isso, é mais que necessário que pessoas brancas também sejam cobradas a se posicionar contra o racismo. Afinal, não foram os negros que inventaram o racismo. Não são os negros que estão em posição de poder e decisão e que podem propor ações de combate à desigualdade racial. (…) Nossa posição é de luta desde que o primeiro negro chegou ao Brasil escravizado e nunca silenciamos ou desistimos.”
No fim, Pelé, o filme, se torna mais uma tentativa de ampliar os olhares sobre esse debate. Provavelmente sem as respostas assertivas que os diretores esperavam, mas com o grande personagem presente. A escuta, o corpo sentado na cadeira e o silêncio também são o filme.
Cinema e memória
O cineasta Eduardo Coutinho, mestre máximo do documentário, é um dos grandes professores do gênero em toda a história do cinema. Daria para trazê-lo de várias formas, mas duas pontuações são muito interessantes para se falar do momento em que Pelé se coloca frente a frente com os realizadores do filme que leva seu nome.
“Não tem impulso maior no ser humano que o interesse em ser reconhecido e escutado.”
“Todas as conversas são negociações de desejos.”
O ponto alto de Pelé é o encontro, o tal do corpo a corpo cinematográfico, essa capacidade em que o tripé entrevistador, câmera e entrevistado tem de construir um presente irreprodutível. O fato eterno aqui é que houve um belo dia em que Pelé topou colocar o mito em frente ao espelho e falar livremente sobre os assuntos que dois britânicos bem entendessem.
Mais que isso, ele se deixa registrar sem a capa de atleta invencível, de super-homem, do imaginário daquela postura que até quando completou 50 anos e ganhou um jogo comemorativo parecia pronto para disputar qualquer partida de primeiro nível. Um Pelé caminhando sob auxílio de um andador, simulando um cavalo de pau com cadeira de rodas, e provavelmente bancando uma imagem que deve ter desagradado sua equipe próxima.
Essa é a notícia. O Pelé de 80 anos saudou o Pelé de 17 ou 30 sendo o que é. Suas pernas, nesse caso, falam mais que as palavras. E o filme acerta em dar grandeza para esse raro momento. Não são muitas pessoas vivas neste planeta que fazem todos parar por uma longa sequência batucando numa caixa de engraxate.
Um Pelé frágil, finalmente, depois de décadas e décadas parecendo eterno. Em tempos de reality show, nada mais apropriado que humanizar o registro fílmico ignorando maquiagens. O encontro com os colegas do Santos Futebol Clube, a turma mais alto-astral e que melhor representa a era de ouro do futebol brasileiro, é maravilhoso, daria um longa próprio. Eles amam ser quem eles são, amigos de casa de veraneio brincando que tem jogo amanhã.
O lançamento do filme também casa com um momento em que o ex-jogador se faz mais presente nas redes sociais da internet. Conta histórias, registra efemérides e manda mensagens direcionadas a seus amigos. Conta com uma equipe que administra seus perfis, mas é ele próprio que elabora os textos, principalmente os mais pessoais, como por exemplo os relacionados à morte de Diego Armando Maradona, muitas vezes colocado como seu antagonista.
Esse interesse em manter o legado vivo na linguagem e no tempo contemporâneos tem influência de outro argentino, Lionel Messi. É justo achar o craque do Barcelona o maior jogador de todos os tempos, e o futebol está aí para ser visto democraticamente, com a preferência de cada um, claro. Mas às vezes a euforia acaba por subestimar feitos de outro tempo, como uma recontagem eurocentrista que determinou que certos gols de Pelé são “não-oficiais” e teve aderência na imprensa brasileira. Logo ele, que era convidado para desafiar times europeus em tempos de um calendário de campeonatos muito mais local (inclusive abrindo mão de jogos no Brasil), agora vê seus lances serem tratados como algo menor. É preciso salvar a história do futebol brasileiro anterior ao modelo que o esporte se organiza hoje.
Resgatar Pelé é ainda procurar nas mais impactantes e encantadoras seleções alguma explicação, alguma resposta, para reencontrar nossa forma de estar e de sentir o jogo atual. Na virada do século, o Brasil chegava às finais de Copa do Mundo em série e tinha os grandes jogadores do momento, como Romário, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho e Kaká, eleitos melhores do mundo num intervalo de pouco mais de uma década. À medida que viramos mero exportadores de talentos, que os resultados deixaram de ser espetaculares e principalmente depois do significativo 7 a 1 para a Alemanha em casa, retomou-se um debate sobre onde foi perdida a diferença do futebol brasileiro, da formação das crianças até a embalagem dos profissionais.
Da linha de fundo para lá, retomá-lo é trazê-lo para esses tempos de militância, posicionamento político e referência racial e/ou política. Para o mundo de Lewis Hamilton, Lebron James, Serena Williams e Colin Kaepernick, para tudo que cerca o amor e o ódio que desperta Neymar, para essa relação tão bonita e às vezes tão agressiva entre os ídolos e o público, para uma suposta função social do ídolo.
E a própria idade, óbvio. A comemoração dos 80 anos, em outubro último, foi de muito reconhecimento no meio do futebol, maior que nos 70 ou nos 60, sem dúvidas. Surgiu uma vontade maior de falar de Pelé à medida que diminuíram suas aparições públicas e sua imagem de imortal.
“Eu não morri”.
O grito de Pelé no Azteca, há 50 anos, segue ecoando na beira do campo de futebol e das calçadas das cidades do país. Está ali a síntese da complexidade de encarnar um mito, e, por que não, é onde também mora alguns debates tão presentes na atual vida brasileira.
Sobre os autores
é jornalista e documentarista