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Lula em comício em Florianópolis. Foto de Ricardo Stuckert / Twitter.

Sem negacionismo: podemos vencer se continuarmos lutando

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Temos quatro semanas para ocupar as ruas do país, abrir o diálogo nos locais de trabalho, conversar nos bairros, disputar a família alargada, mobilizar a militância e consolidar a vitória. Precisamos manter uma polarização implacável contra Bolsonaro e o perigo fascista.

Reconhece a queda, mas não desanima.
Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.

Paulo Vanzolini


Os resultados de domingo deixaram a maioria da esquerda alarmada. A frustração é um sentimento amargo. Há muita ansiedade, e até angústia entre nós. Algo compreensível, porque foi gerada pelas pesquisas a expectativa de vitória no primeiro turno. Hora de lamber as feridas. Hora de sangue frio. Lula conquistou 48,43% dos válidos. Faltou, somente 1,57% para decidir no primeiro turno. Essa foi a informação mais importante que saiu das urnas. Mas, não foi só isso: uma “avalanche” reacionária surpreendeu.

Análises realistas alertaram que nada estava decidido, e poderíamos ter um segundo turno. Tudo vai depender de uma linha tática lúcida e de uma disposição revolucionária de luta do ativismo. A negociação de apoios de Simone Tebet e Ciro Gomes é legítima. Mas três perigos principais ameaçam a vitória dia 30 de outubro. O “já ganhou” ou o “já perdeu”, no lugar do chamado à luta. A redução da campanha à “romantização do passado”, no lugar do compromisso solene com propostas concretas para o futuro. O perigo do “giro ao centro”, no lugar de uma polarização implacável contra Bolsonaro e o perigo fascista.

Lulismo contra o neofascismo

A votação de Bolsonaro foi muito maior que a previsão das pesquisas, ao alcançar 51 milhões de votos, e vencer no estado de São Paulo; a eleição de Castro no Rio de Janeiro ocorreu em primeiro turno; Tarcísio passou para o segundo turno na condição de favorito em São Paulo, e Onix Lorenzoni no Rio Grande do Sul; a ala neofascista da extrema direita elegeu Mourão, Damaris, e o astronauta para o Senado; Sergio Moro e Deltan Dallagnol venceram no Paraná, Salles e Pazuello são campeões de votos, e o partido bolsonarista elegeu 99 deputados federais.

As eleições gerais confirmaram, também, que o peso de Lula é muito maior que o peso da esquerda, mesmo considerando os aliados de partidos burgueses que chamaram ao voto. Aqueles que defenderam Bolsonaro ganharam em 9 estados no primeiro turno (AC, DF, GO, MG, MT, PR, RJ, RO e TO). Os candidatos a governador que apoiaram Lula venceram em 6 (AP, CE, MA, PA, PI, RN). Este desfecho vai pesar, também. Sim, seis milhões de votos são uma diferença imponente, mas nada está garantido. Sejamos sérios. O perigo é “real e imediato”. Qualquer subestimação de Bolsonaro será um erro fatal. Diminuir a gravidade da disputa seria insensato. Domingo sinalizou que há incerteza.

“A votação de Bolsonaro foi muito mais ampla que a corrente neofascista no sudeste e até no nordeste, ainda que sua hegemonia seja no Brasil ‘profundo’.”

Bolsonaro foi beneficiado por um arrastão de voto útil das outras candidaturas, nos últimos dois dias antes de domingo, ainda que menor que em 2018. O bolsonarismo revelou, mais uma vez, que tem implantação social na massa da burguesia e na classe média e capilaridade nacional, em especial, nas pequenas cidades, no centro-oeste e no sul onde o peso do agronegócio é maior. A votação de Bolsonaro foi muito mais ampla que a corrente neofascista no sudeste e até no nordeste, ainda que sua hegemonia seja no Brasil “profundo”.

Confirmou audiência popular em setores organizados pelas Igrejas neopentecostais na extrema-periferia das grandes cidades, em especial, no Rio de Janeiro. A extrema direita recolhe o rancor social dos estratos médios, mas alimenta e responde, ideologicamente, aos profundos preconceitos machistas, racistas, homofóbicos que permanecem intactos.

País fraturado

Mesmo depois da catástrofe sanitária da pandemia, depois da explosão da miséria com dezenas de milhares condenados á fome, depois do aumento da desigualdade social com os salários em queda, ininterruptamente, nos últimos 4 anos, depois de serem batidos todos recordes de queimadas na Amazônia, depois das ameaças golpistas, enfim, a tragédia inteira.

“Militância é máximo ativismo, não quietismo passivo. É decisivo acreditar que, se lutarmos até o fim, podemos vencer.”

O sete de setembro já tinha revelado nas ruas a força social de choque ultrarreacionária do bolsonarismo. A lição que ficou deste primeiro turno é que o país permanece fraturado, social e politicamente. O neofascismo é um movimento político de massas, e não vai deixar de nos atormentar, se Lula vencer as eleições. Devemos ser conscientes que Bolsonaro representa a ameaça de uma derrota histórica: a desmoralização de uma geração. Uma ventania fria soprou neste domingo, mas permanece no ar o perigo de um “inverno siberiano”.

O que fazer?

Nem já perdeu, nem já ganhou. O pessimismo zangado não ajuda. O otimismo de autoengano não ajuda. Militância é máximo ativismo, não quietismo passivo. É decisivo acreditar que, se lutarmos até o fim, podemos vencer. A força moral da militância de esquerda e do ativismo dos movimentos sociais pode fazer a diferença.

Estes últimos seis anos não foram em vão. Lula venceu no nordeste e na maioria das grandes regiões metropolitanas: São Paulo, Porto Alegre, Salvador, Belo Horizonte, Belém. Só perdemos no Rio de Janeiro e Brasília. Lula conquistou o voto da imensa maioria dos mais pobres, das mulheres, da juventude e do nordeste. A abstenção de 20% esteve na média das últimas eleições. Parece improvável que venha a diminuir. A redução de votos brancos e nulos já foi muito significativa, talvez até aumente. Mas ainda há possibilidade de disputa entre os trabalhadores, sindicalmente, organizados que ganham entre dois e cinco salários mínimos, e são muitos milhões.

“Podemos vencer. Sem negacionismo, com sangue frio, a hora é de luta até o fim.”

Lula e o comando da frente ampla não devem reduzir a campanha à nostalgia do passado. Precisamos apresentar propostas de mudança concretas da vida. Elevação do salário mínimo, obras públicas para que haja milhões de empregos, fortalecimento do SUS, ampliação das cotas raciais na educação e nos serviços públicos, revisão da reforma trabalhista, revogação do teto dos gastos, impostos sobre as grandes fortunas, elevação da isenção do imposto de renda, desmatamento zero, defesa das reservas da população indígena, direitos das mulheres e da população LGBTQIA+. Não ceder à pressão para o giro ao centro.

Podemos vencer. Sem negacionismo, com sangue frio, a hora é de luta até o fim. Menos de quatro semanas são um intervalo para ocupar as ruas do país, abrir o diálogo nos locais de trabalho, conversar nos bairros, disputar a família alargada, mobilizar o ativismo e conquistar a vitória. 

Sobre os autores

é historiador, militante do PSOL (Resistência) e autor do livro "O Martelo da História. Ensaios sobre urgência da revolução contemporânea"(Sundermann, 2016).

Cierre

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Published in América do Sul, Análise and Política

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