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(Tom Def / Unsplash)

Bolsonarismo importou o que há de pior nos EUA

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O Brasil teve, em 2022, 35 mortos e 72 feridos em decorrência de tiroteios escolares, quase o mesmo número que os EUA em 2018 (35 mortos e 79 feridos). Além da facilitação e o culto às armas, a extrema direita tem trazido também boa parte da cultura supremacista na sua "guerra cultural".

Ano passado, os Estados Unidos tiveram um número histórico de tiroteios escolares, com 51 ocorrências e 46 fatalidades ao todo. O mais letal foi em 24 de maio, quando um homem de 18 anos invadiu uma escola primária em Uvalde, no estado do Texas, e assassinou 21 pessoas, 19 delas crianças. Todo final de ano, o mundo fica perplexo como a política armamentista norte-americana, alinhada ao supremacismo branco, que gera uma catarse para a violência entre jovens. Agora, infelizmente, o Brasil passa por uma situação semelhante.

O Brasil teve, em 2022, 35 mortos e 72 feridos em decorrência dos tiroteios escolares, quase o mesmo número que os EUA em 2018 (35 mortos e 79 feridos). Apesar de o Brasil ter um número menor de ocorrências que os norte-americanos, elas parecem ser mais letais. Alguns estados da federação tiveram mais casos que outros, como Goiânia, que viu 8 ataques, em comparação ao Rio de Janeiro e Distrito Federal, ambos com 2 ataques.

Esses dados são do relatório produzido por um grupo de pesquisadoras ao lado do professor Daniel Cara durante o governo de transição de Lula em dezembro, cujo propósito foi alertar o novo governo sobre a crescente influência da extrema direita nos jovens brasileiros. As estatísticas ali apresentadas mostram que ao contrário dos EUA, o Brasil teve seu primeiro ataque em escola em 2002. Na ocasião, um estudante de 17 anos matou duas colegas na escola que estudava, em Salvador. O adolescente roubou a pistola de seu pai, que era perito da Polícia Civil.

Desde então, o Brasil teve 16 ocorrências de ataques em escolas, 4 dessas apenas entre junho e dezembro de 2022. O Estatuto do Desarmamento, aprovado em 2003, que proibiu a venda e porte de armas para cidadãos comuns, pode ter influenciado o fato que o Brasil não viu ataques em larga escala com dezenas de vítimas, como nos EUA. Entretanto, isso certamente não impede os autores desses atos, que são muitas vezes motivados e cooptados por ideologias supremacistas e violentas da extrema direita. É o caso do jovem que, em fevereiro de 2023, tentou incendiar sua antiga escola vestindo uma braçadeira nazista, mas sem armas de fogo.

Analisar a questão faz necessário observar o problema não apenas da política armamentista, mas também da cultura da extrema direita, o cenário político nacional e inúmeros outros problemas que o país enfrenta hoje.

Parte da simbologia neofascista que atiradores em escolas usam — tanto nos EUA, quanto no Brasil e outras partes do mundo — faz parte da cultura Siege, descrita pelo Centro de Pesquisa e Evidência Sobre Ameaças à Segurança (CREST, na sigla em inglês) como a maior e mais perigosa demonstração do neofascismo até hoje. Essa cultura, com seu ecossistema singular de linguagem e signos extremistas, tem pontos estéticos semelhantes que criam uma “estética” e “comunidade” para os adolescentes e jovens adultos cometerem esses atos terroristas. É o caso de quando esses atiradores brasileiros usam máscaras de caveiras, um símbolo original da cultura supremacista dos EUA.

O novo governo Lula instituiu, por meio do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, um grupo de trabalho que, por 180 dias, terá a tarefa primordial de estudar e discutir estratégias para combater o discurso de ódio e extremismo no Brasil. A equipe formada contém pesquisadores, acadêmicos, influenciadores digitais, jornalistas e outros profissionais. Nesse sentido, é de suma importância ao futuro da juventude brasileira — que tenha o direito de frequentar ambientes escolares e universitários sem medo do supremacismo — que o governo preste atenção a este fenômeno.

Sobre os autores

Sofia Schurig

cobre tecnologia, redes sociais e extremismo online. É graduanda em Comunicação Social na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Pesquisa semiótica e humanidades digitais. Trabalha na Sabiá e no Núcleo Jornalismo, onde é repórter. Na Jacobin, cuida das seções de Tecnologia e Ciências.

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Published in América do Sul, Análise, Cultura, Legislação and Militarismo

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