A série Succession, criada por Jesse Armstrong, começa uma nova temporada esse final de semana. Quando estreou na HBO em 2018, chamou a atenção dos telespectadores e críticos por retratar uma família rica e disfuncional competindo pelo controle de um conglomerado de mídia. Mas ao longo da série, ficou claro que Succession destaca os excessos dos ultra-ricos e como eles exploram e manipulam aqueles que não têm a sorte de nascer em berço de ouro.
No centro da série está a família Roy, chefiada pelo patriarca Logan Roy, interpretado por Brian Cox. Logan é o fundador e CEO da Waystar Royco, um conglomerado de mídia que inclui jornais, redes de televisão, cruzeiros e parques de diversões. Seus filhos se digladiam para ver quem irá herdar a vasta riqueza e poder de seu pai. Eles são interpretados por: Jeremy Strong (Kendall), Kieran Culkin (Roman), Sarah Snook (Shiv) e Alan Ruck (Connor), mas não podemos esquecer do primo Greg.
Interpretado por Nicholas Braun, Greg é um estranho no mundo dos Roys, que apesar de ser sobrinho-neto de Logan Roy, não possui riqueza e as conexões que definem o resto da família. Ele é constantemente lembrado de seu lugar na hierarquia, já que os Roys o ignoram, a menos que precisem de algo dele. Essa é a dinâmica de como os bilionários tratam os que estão abaixo deles no coração do capitalismo contemporâneo, usando-os apenas quando é conveniente e descartando-os quando não são mais úteis. Greg representa os oprimidos que muitas vezes passam despercebidos e desvalorizados, mas que às vezes por algum golpe de sorte (ou para servir de bode expiatório) conseguem ter acesso ao topo da hierarquia.
O zeitgeist do nosso tempo
Ao longo da série, a ganância e o senso de direito dos Roys estão em pleno destaque, com suas constantes lutas pelo poder e traições levando à uma visão de mundo niilista. Isso é exemplificado por Logan Roy, o patriarca da família, que personifica a natureza implacável de um magnata capitalista. Sua única preocupação é acumular mais riqueza e poder, sem se importar com os danos que inflige aos que o cercam, nem mesmo poupando os próprios familiares.
Ele personifica a ideologia de Milton Friedman, que certa vez declarou que “o único propósito de uma empresa é gerar lucro para os acionistas”. E, de muitas maneiras, os Roys são o reflexo do sistema maior que habitam: aquele em que um pequeno grupo de indivíduos ultra-ricos detém poder e influência desproporcionais sobre o resto da sociedade.
O criador da série, Jesse Armstrong, em entrevista ao The New Yorker, afirmou que “Se você ler o Financial Times e o Wall Street Journal, terá uma boa noção de onde pensamos que o programa iria porque está tentando refletir o mundo”. Há quem diga que o magnata da Fox News, Rupert Murdoch, inspirou a série. E de fato, Armstrong afirmou que muitos dos personagens e tramas de Succession podem ser rastreados até pessoas e eventos reais.
De fato, Succession tocou o público precisamente porque captura o zeitgeist de nosso tempo. À medida que o abismo entre os ultra-ricos e pobres continua aumentando, mais e mais pessoas começam a questionar a moralidade de um sistema que beneficia poucos em detrimento de muitos. A série abre uma janela para a vida dos bilionários, mostrando como eles acumulam recursos e exploram o planeta e os menos afortunados. É um forte lembrete de que o acúmulo de riqueza e poder pode ter um custo terrível e destrutível.
Os personagens são retratados de forma crua e realista, com todos os seus defeitos expostos. A falta de personagens moralmente puros e justos é uma das marcas registradas do programa, o que o torna ainda mais atraente para os espectadores que desejam uma abordagem honesta e descompromissada da vida moderna.
É uma série que gerou debates sobre riqueza, poder e desigualdade, e que nos obrigou a confrontar algumas verdades desconfortáveis sobre nossas vidas. E nesse sentido, é uma mensagem muito importante nesse momento. Succession é um reflexo do mundo em que vivemos e um lembrete do trabalho que ainda temos que fazer para criar uma sociedade mais justa e equitativa, como o socialismo pretende fazer.
Sobre os autores
é uma colaboradora da Jacobin Brasil e está no Twitter como @LairinhaRed.