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O cantor, compositor e ativista dos direitos civis americano Harry Belafonte em um estúdio de gravação não especificado, local não especificado, por volta de 1957. (Archive Photos / Hulton Archive / Getty Images)

Harry Belafonte era um militante radical

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Tradução
Cauê Seignemartin Ameni

Da luta pelos direitos civis à oposição ao apartheid na África do Sul e à guerra contra Cuba, Harry Belafonte foi um militante convicto pela justiça tanto nos EUA quanto no mundo afora.

Harry Belafonte, o cantor, compositor e ator pioneiro que começou sua carreira cantando calypso antes de se dedicar ao ativismo político, morreu essa semana aos 96 anos.

Além de sua contribuição inovadora para as artes, Belafonte foi um militante comprometido na luta contra o imperialismo, a opressão dos trabalhadores e a discriminação racial, usando a plataforma que seus talentos artísticos lhe proporcionaram para se opor à injustiça em todas as formas. “Tenho que fazer parte da rebelião que tenta mudar tudo isso”, disse ele ao New York Times em 2001. “A raiva é um combustível necessário. A rebeldia é saudável.”

Nascido em Manhattan, Nova York, Belafonte passou sua infância na Jamaica de seus pais. Depois de retornar à América, ele se ofereceu como voluntário na Marinha dos EUA para combater o fascismo na Segunda Guerra Mundial. Sua ambição artística surgiu depois de trabalhar como faxineiro em um teatro de Nova York no final dos anos 1940, eventualmente treinando com o icônico diretor comunista alemão Erwin Piscator.

“Como ator, cantor e compositor, a expressão artística de Belafonte era grande demais para ser confinada a apenas um meio e sua oposição à injustiça tinha princípios demais para ser limitada a apenas uma luta.”

Belafonte começou a cantar como cantor em um clube para financiar aulas de atuação, mas foi seu talento musical que o levou à fama. Creditado por popularizar a música caribenha com o público internacional, ele foi apelidado de “Rei do Calypso”. Numa época em que a segregação era praticada em grande parte dos Estados Unidos, ele se tornaria o primeiro negro a se apresentar em muitos clubes e a fazer inovações raciais no cinema.

No filme de Robert Rossen de 1957, An Island in the Sun, Belafonte interpretou um líder sindical negro de um país fictício do Caribe que tem um caso amoroso com uma jovem de classe média interpretada por Joan Fontaine, fazendo com que grupos segregacionista amaçassem incendiar cinemas no sul dos Estados Unidos. Os papéis que Belafonte desempenhou ao longo de sua carreira na tela regularmente desafiaram o racismo e a injustiça predominantes na sociedade norte-americana.

Um membro proeminente do movimento dos direitos civis, Belafonte se tornaria um amigo pessoal de Martin Luther King Jr. Uma figura significativa na luta contra o racismo e a discriminação por mérito próprio, ele usou sua riqueza e fama para defender e financiar a militância antirracista, resgatando ativistas, financiando campanhas de registro de eleitores e financiando organizações que se opunham ao racismo e promovem a libertação negra.

Como ator, cantor e compositor, a expressão artística de Belafonte era grande demais para ser confinada a apenas um meio e sua oposição à injustiça tinha princípios demais para ser limitada a apenas uma luta. Como King, Belafonte reconheceu a opressão vinculada ao racismo, imperialismo e capitalismo, resultando em sua inclusão na “lista negra” durante a era McCarthy.

“Oponente declarado da invasão norte-americana em Granada, apoiador de Hugo Chávez e hostil ao antagonismo da Guerra Fria, o internacionalismo de Belafonte frequentemente o colocava contra a política externa dos EUA.”

Na década de 1980, fez campanha contra o apartheid na África do Sul e posteriormente coordenou a primeira visita de Nelson Mandela aos Estados Unidos. A oposição de Belafonte ao apartheid fazia parte de uma postura mais ampla contra o imperialismo e a opressão no mundo todo.

Oponente declarado da invasão norte-americana em Granada, apoiador de Hugo Chávez e hostil ao antagonismo da Guerra Fria, o internacionalismo de Belafonte frequentemente o colocava contra a política externa dos Estados Unidos. Oponente ferrenho da invasão do Iraque em 2003, ele virou alvo da imprensa em 2006, quando declarou George W. Bush “o maior terrorista do mundo”.

Belafonte viajou pelo mundo como embaixador do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) em 1987 e, mais tarde, criou uma fundação para a AIDS – parte de seus esforços de campanha mais amplos para promover a educação e o desenvolvimento econômico na África, pelo qual ele receberia um Oscar em 2014 em honra ao seu trabalho humanitário.

Belafonte disse em uma entrevista em 2011: “Eu era um militante muito antes de me tornar um artista”. Mesmo com quase oitenta anos, Belafonte ainda falava sobre a desigualdade racial e econômica, instando o presidente Barack Obama a fazer mais para ajudar os pobres e, posteriormente, apoiando Bernie Sanders nas primárias democratas. Belafonte pediu o “desencadeamento do pensamento radical” para fazer progressos na igualdade racial e apoiou o movimento Black Lives Matter, que ele reconheceu como arma para confrontar as injustiças raciais remanescentes da era dos direitos civis.

Quando uma antologia de sua música foi publicada em 2017, Belafonte disse à revista Rolling Stone que cantar era para ele uma forma de expressar as injustiças do mundo. “Isso me deu a oportunidade de fazer declarações sociais, falar sobre coisas que achei desagradáveis”, disse ele, “e coisas que achei inspiradoras”.

“Belafonte recebeu do Estado cubano a Medalha da Amizade em reconhecimento à sua solidariedade. Ele havia cultivado uma relação próxima com Fidel Castro desde o início da revolução.”

De muitas maneiras, a política de Belafonte demonstra que a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos estava intimamente ligada ao socialismo – com Martin Luther King frequentemente criticando o capitalismo. Harry Belafonte fez parte dessa tradição e recebeu do Estado cubano a Medalha da Amizade em reconhecimento à sua solidariedade com Cuba ao longo dos anos. Ele havia cultivado uma relação próxima com Fidel Castro desde o início da revolução.

Em suas memórias, publicadas em 2011, Belafonte falou sobre o racismo na Cuba pré-revolucionária:

Quando me tornei artista e comecei a ter alguma fama, fui a Cuba com bastante regularidade antes de 59. Eu fui lá com Sammy Davis Jr. para ouvir Nat King Cole e sair com Frank Sinatra; o lugar onde mais nos encontramos foi o Hotel Nacional. Todo mundo estava se apresentando lá, menos eu. Quando me procuraram — e eu tinha contrato de trabalho — eu estava em um casamento inter-racial, como se chamava naquela época, e de repente me tornei persona non grata, em Cuba, em todo lugar.

Em setembro de 2003, Belafonte fez um discurso em Nova York condenando o bloqueio dos Estados Unidos contra Cuba. Quando questionado por que apoiava o povo cubano, ele respondeu: “Não vejo isso como um esforço supremo”, disse: “É um modo de vida: se você acredita na liberdade, se acredita na justiça, se acredita na democracia, se você acredita nos direitos das pessoas, se você acredita na harmonia de toda a humanidade”.

Por mais que as conquistas de Belafonte no cinema e na música sejam um testemunho de sua grandeza artística, seu legado de devoção à libertação das pessoas de todas as formas de injustiça é uma evidência de uma das figuras morais e políticas mais notáveis de sua época.

Sobre os autores

Trish Meehan

é ativista da Campanha de Solidariedade a Cuba (CSC).

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Published in América do Norte, Cultura, Filme e TV, Música and Perfil

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