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Presidente Lula e ex-presidenta Dilma na XV Cúpula dos Brics. Foto: Ricardo Stuckert/PR

A expansão do Brics é uma ótima notícia

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Ao contrário do que diz a mídia, a expansão do bloco depois da última cúpula de Joanesburgo, na África do Sul, é um bom sinal de mudança global. As contradições internas dos 6 países admitidos não mudam isso, pois a possibilidade do Sul Global se integrar mais e ter sua própria moeda internacional são medidas que, na verdade, ampliam a liberdade.

A adesão de seis novos países ao Brics, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul é uma ótima notícia. A cúpula sul-africana do bloco, inclusive, foi prestigiada por dezenas de países e mais de vinte fizeram pedido formal de entrada. Desta vez, entraram Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Irã, Etiópia, Argentina e Egito.

Se o bloco original já era diverso, com jovens países como Brasil e África do Sul unidos a nações anciãs como China e Índia, agora é ainda mais: salvo os sul-africanos, todas as demais nações eram gigantescas. Dessa vez, teremos o acréscimo de países jovens que remetem à antiga civilização árabe – sauditas e emiradenses – ou Etiópia, Irã e Egito, países antiquíssimos, exceção feita apenas à jovem Argentina.

Há, é claro, muitas contradições. Podemos argumentar que embora a existência ou ampliação do bloco façam sentido do ponto de vista econômico e geopolítico, por outro lado, há imperfeições do ponto de vista da democracia e dos direitos humanos entre os aderentes e, até mesmo, os países já membros. Seja como for, a ampliação do bloco deve ser comemorada, porque certamente ela aponta para mais liberdade.

“Quando a Arábia Saudita topa fazer de um bloco cujo banco de desenvolvimento é presidido por Dilma, uma mulher que chegou a presidir um dos países fundadores do Brics, isso é uma vitória para as mulheres.”

Liberdade importa?

Será que a presença da Arábia Saudita e do Irã ao bloco nos obriga a condenar sua adesão ou, de agora em diante, devemos silenciar sobre as violações dos direitos humanos perpetradas pelos seus governos? A resposta básica é: nem uma coisa, nem outra. A chegada desses países ao Brics conecta novas populações de centenas de milhões de pessoas e, assim, aponta para a possibilidade de mais liberdade econômica e política.

Quando a Arábia Saudita topa fazer de um bloco cujo banco de desenvolvimento é presidido por Dilma Rousseff, uma mulher que chegou a presidir um dos países fundadores do Brics, isso é uma vitória para as mulheres – até mesmo as sauditas e, naturalmente, tem de ir além disso. Quem tem de se explicar são os machistas brasileiros que aceitaram o impeachment ilegal dessa mesma Dilma.

A adesão de ricas petromonarquias como Arábia Saudita e Emirados Árabes produz a base material a ser utilizada para estruturar, no médio e longo prazo, um fundo monetário alternativo ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Assim, países em dificuldades podem ser resgatados de forma racional e democrática, coisa que o FMI atual não faz, mesmo que seja controlado por assim chamados “países democráticos”, os quais são antes de tudo, ricos.

“Isso afasta populações inteiras da fome, da pobreza ou mesmo ajudar na ação coordenada de emergências globais como a pandemia, na qual países ricos trabalharam para monopolizar o recebimento das vacinas.”

Esse mecanismo de resgate e, ainda, uma moeda comum para transações internacionais, como propôs o presidente Lula, é uma possibilidade concreta para o desenvolvimento do comércio e investimentos comuns que fortaleçam países de renda pequena, como a Etiópia e Índia, a países ricos como Arábia Saudita e Emirados Árabes – mas que são dependentes da exploração do petróleo -, passando por países de renda média como Brasil, Rússia, Argentina e China. 

Esse novo laço produz a possibilidade de mais liberdade, não menos, por que aumenta as opções e acesso a recursos para todos. Isso afasta populações inteiras do fantasma da fome, da pobreza ou mesmo ajudar na ação coordenada de emergências globais como a pandemia de Covid-19, na qual países ricos trabalharam para monopolizar o recebimento das primeiras doses das vacinas.

Precisamos ser coerentes: integrar mais é melhor

Hoje, muitos países ricos são “democráticos”, mas a ausência de socialismo os expõe a contradições perigosas. Se do ponto de vista interno, esses países ricos permitiram certas conquistas de direitos, fruto das lutas de trabalhadores e movimentos sociais, por outro lado, é impossível negar que países como Estados Unidos, Reino Unido e França são opressivos do ponto de vista externo.

Problematizar o conflito russo-ucraniano e a ação de Moscou não pode ser feita com pesos e medidas diferentes do julgamento sobre a ação global dos Estados Unidos em outros países. Muitos das mídias que condenam a chamada Operação Z na Rússia, pelo contrário, apoiaram a invasão norte-americana no Iraque amparada em notícias falsas — como apenas mais tarde, e com muitas mortes depois, foi admitido por grandes jornais americanos.

“Assim, os brasileiros podem conhecer realidades socialmente justas e os árabes podem encontrar sociedades mais livres, aprendendo mutuamente.”

No mais, se sanções ajudassem a mudar qualquer coisa, o Irã já seria o lugar mais livre do mundo. Não é o caso. Integrar mais é pedagógico. Assim, os brasileiros podem conhecer realidades socialmente justas e os árabes podem encontrar sociedades mais livres, aprendendo mutuamente. Muitas das civilizações milenares dos Brics têm a aprender com o Brasil do ponto de vista externo, uma vez que nosso país não tem histórico de invasões, mesmo fazendo fronteira com países menores.

A contradição é da existência, mas não podemos negar que mais integração gera mais solidariedade e a possibilidade de encontros transformadores. A expansão do Brics é, na sua concretude e imperfeições, algo da ordem da realidade – e é um fato a ser comemorado. Na noite de hoje, mais seres humanos estarão integrados.

Sobre os autores

é publisher da Jacobin Brasil, editor da Autonomia Literária, mestre em direito pela PUC-SP, advogado e diretor do Instituto Humanidade, Direitos e Democracia (IHUDD).

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Published in América do Sul, Análise, Ásia, Cultura, Economia and Imprensa

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