A partir da década de 1960, o nome de guerra “Castro” era popular entre os lutadores que militavam pela liberdade nos países do sul da África. Hoje, na África, como nos países de língua latina e em outros lugares, os filhos dessas guerrilhas levam o nome de Fidel, ou Fidelis.
Essa geração dos anos 60 foi imensamente inspirada pela liderança épica de Fidel Castro na Revolução Cubana. Ele representou a derrubada da tirania, o enfrentamento do imperialismo, a transformação da sociedade e as lições históricas da solidariedade internacional. Desde então, gerações aprenderam essas lições motivacionais. Aprendendo com Fidel e até estudando em Cuba, eles continuaram a seguir os passos lendários – na teoria e na prática – de um dos revolucionários mais importantes dos tempos modernos.
Sua vida e legado estão intrinsecamente ligados ao destino da África – ganhando a gratidão eterna de seus povos, junto com o resto da humanidade. Nas palavras imortais de Fidel, depois de forçar os racistas militares sul-africanos a fazerem sua vergonhosa retirada de Angola após a Batalha de Cuito Cuanavale em 1988: “A história da África será escrita como antes e depois de Cuito Cuanavale.”
Fora do Apartheid
A partir de 1975, as forças internacionalistas cubanas, sob a direção do comandante Fidel, ajudaram a salvar a independência da emergente República Popular de Angola dos mesmos invasores racistas e dos mercenários contra-revolucionários apoiados pela CIA. Em sua cela de prisão, Nelson Mandela tomou conhecimento desses acontecimentos históricos por mensagens secretas; ele escreveu elogiando os cubanos, observando que “foi a primeira vez que um país veio de outro continente não para tirar algo, mas para ajudar os africanos a alcançar sua liberdade”.
Enquanto Cuba continuava sua assistência a Angola nos anos seguintes, os reacionários finalmente encontraram seu destino na batalha que durou cinco meses por Cuito Cuanavale em 1987-88 e foram expulsos. O resultado libertou a Angola das forças estrangeiras; isso foi seguido pela independência da Namíbia da ocupação pelo regime do apartheid da África do Sul em 1990, e então pela liberdade da África do Sul em 1994. Mandela afirmou que a vitória em Cuito Cuanavale “destruiu o mito da invencibilidade do opressor branco e inspirou as massas lutadoras do sul África”. Pode-se dizer que ajudou a fornecer a chave para desbloquear o domínio racista na parte sul do continente, aliviando a sombra ameaçadora do apartheid sobre toda a região.
Tive o privilégio de estar presente em Havana, como membro de uma delegação do Partido Comunista da África do Sul (SACP) em 1988, quando Fidel nos informou diante de um enorme mapa topográfico do sul de Angola, contando como aquela épica batalha de Cuito Cuanavale foi vencida. Tive o privilégio de presenciar, na posse presidencial de Nelson Mandela, em Pretória, em 27 de março de 1994, a maior aprovação de um convidado estrangeiro pelas aclamadas massas que reservaram seu fôlego para aclamar o lendário líder cubano, gritando um uníssono: “Fidel! Fidel!” e “Cuba! Cuba!”
Em setembro de 1998, tive mais uma vez o privilégio de escoltar Fidel em um navio da Marinha da Cidade do Cabo até a Ilha Robben. Lá, ele visitou a cela de prisão de Nelson Mandela – e ficou visivelmente comovido.
Em 4 de setembro, alguns dias antes, ele se dirigiu ao parlamento sul-africano. Lá, ele descreveu ter sonhado com aquela experiência, “como uma carta de amor escrita a milhares de quilômetros de distância, sem saber o que ela pensa ou o que queria ouvir e sem mesmo saber como era o rosto dela”.
Na mesma ocasião, Fidel nos lembrou que 461.956 soldados cubanos lutaram lado a lado com os africanos por sua libertação. Ele falou sobre como “destes solos africanos, onde trabalharam e lutaram de forma voluntária e altruísta, eles apenas levaram de volta para casa, em Cuba, os restos mortais de seus companheiros caídos e a honra de um dever cumprido”.
O jeito castrista
É um privilégio do povo da África do Sul ter compartilhado trincheiras, treinado e estudado em Cuba e recebido ajuda irrestrita de inúmeras maneiras, não apenas nos campos de batalha. Isso inclui a ajuda que está sendo prestada atualmente pelos nobres trabalhadores cubanos da saúde na luta contra a COVID-19.
Essa é a experiência de pessoas em todo o mundo, especialmente na África, Ásia e América Latina, mas, surpreendentemente, também em países europeus como a Itália. Mesmo sofrendo um criminoso embargo, Cuba continua enviando profissionais médicos para a África, como também para países do Caribe e da América Latina. Existem mais de cinquenta mil médicos cubanos em todo o mundo, incluindo em trinta e dois países africanos.
Quando lançamos nossa luta armada na década de 1960, havia uma canção popular que compusemos com uma batida de calipso: “Ganhe o país do jeito castrista!” Quando a liberdade e a independência chegaram, por meio de lutas sangrentas, percebemos que havia muito mais exemplos fornecidos por Cuba. O país é um exemplo nas condições de vida das pessoas, na saúde e na educação, na habitação e no bem-estar social, na superação do atraso e das desigualdades coloniais e na provisão de segurança para o povo na defesa da revolução.
Na enorme luta global contra a dominação imperialista, exploração e racismo, agressão militar e mudança de regime contra-revolucionário; a divisão gigantesca do capitalismo entre riqueza para poucos privilegiados e pobreza esmagadora para bilhões de pessoas; doenças horríveis como COVID-19, na esteira do perigo ambiental; as palavras, “ganhe o país do jeito castrista”, estão vivas em nossos corações. A música inspira esperança, motiva a ação unida e sinaliza os ensinamentos imortais de Fidel e sua visão do futuro.
No dia 13 de agosto, no aniversário de seu nascimento, nós, junto com o povo cubano e a humanidade, saudamos Fidel. Ele viverá na África – como em qualquer outro lugar – como um ícone eterno de libertação em todas as suas formas. Fidel vive! Sempre! Venceremos!
Sobre os autores
nasceu em Joanesburgo em 1938. Ele é um veterano da luta que ocupou cargos importantes no ANC e no SACP, incluindo a chefia da inteligência militar no braço armado do ANC uMkhonto we Sizwe (Lança da Nação). Depois que o apartheid foi derrubado, ele serviu como ministro do governo de 1994 a 2008. Ele continua sendo um ativista político e social, um defensor anti-sionista dos direitos palestinos e autor de vários livros.