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Protesto no Centro de Curitiba contra Bolsonaro. Foto: Giórgia Prates.

19 de junho será maior

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Conversando com as pessoas comuns fica evidente: não é difícil transmitir a urgência da derrubada de Bolsonaro. Quase todo mundo perdeu algum familiar ou amigo querido para a Covid-19. A revolta já está aquecida nas periferias, agora é hora de movimentos populares, sindicais, estudantis, indígenas e partidos de esquerda tomarem as ruas para construir uma saída à catástrofe humanitária que vivemos.

Sair às ruas porque o governo é mais letal do que o vírus – esse foi o lema que inspirou milhares de colombianos a enfrentar radicalmente o pacote neoliberal de Ivan Duque. O resultado: uma onda de protestos populares que, mesmo sofrendo dura repressão policial, forçaram o governo a recuar da reforma tributária que beneficiaria os bancos em detrimento da população trabalhadora. E não se trata de um fenômeno isolado. O que estamos vendo é uma nova onda de levantes populares na América Latina. Colômbia, Chile, Equador: os povos entram em movimento contra a exploração e a miséria, frequentemente travando duros combates nas ruas. Nossa hora se aproxima: não seremos nós a continuar massacrados por um governo que é mais perigoso que o vírus, por um presidente que tem responsabilidade direta na catástrofe sanitária que tornou o Brasil um dos países mais afetados pela Covid-19 no mundo, se aproximando da marca assustadora de 500 mil mortes.

Respondendo à gravidade da situação, os movimentos populares, sindicais e partidos de esquerda tomaram a decisão de partir para a ofensiva e mobilizar um ciclo de manifestações de rua para libertar o grito preso na garganta de milhões de brasileiros: fora Bolsonaro! O dia 29 de maio foi um sucesso, colocando em movimento centenas de milhares de pessoas ao longo de todo o território nacional. Foram mais de 500 mil pessoas nas ruas, com atos registrados em 213 municípios, em todos os 26 estados da federação.

Foi o primeiro passo significativo em direção à derrubada do governo Bolsonaro e sua quadrilha. Demonstrar nas ruas a força do povo e a insatisfação generalizada da população com a sua política genocida é a única forma de pôr fim à tragédia que assola os trabalhadores. Para vencer a guerra, precisamos continuar fortalecendo a mobilização popular de massas. A próxima batalha já tem data marcada – 19 de junho.

Temos três tarefas imediatas: desmascarar o governo, organizar a luta e apresentar uma alternativa radical.

Em primeiro lugar, é preciso dizer com todas as palavras: Bolsonaro é corrupto e seu governo é um desastre. Essa simples verdade deve ser repetida, com paciência e didática, para toda a população trabalhadora. Dá trabalho desfazer o estrago das mentiras propagadas pela máquina de fake news do governo, mas nossa prioridade é deslocar do bolsonarismo aquelas parcelas da classe trabalhadora que foram seduzidos pelo discurso anti sistema do presidente. Trata-se de mostrar que a família Bolsonaro é parte de um sistema corrupto, e está a serviço da elite econômica. Enquanto 40 milhões de brasileiros passam um dia com uma única refeição e mais de 14,5 milhões de famílias vivem na extrema pobreza (com R$ 89,00 por mês), o presidente realiza churrasco com uma picanha cujo quilo custa R$ 1.800,00. O mesmo presidente que suspendeu o auxílio emergencial e cortou R$ 1 bilhão do orçamento das universidades federais está organizando um esquema de corrupção para comprar deputados e senadores com R$ 3 bilhões a fim de escapar do impeachment. É necessário desmoralizar a extrema direita, e isso passa por mostrar ao nosso povo trabalhador o que ela de fato é e o que de fato tem feito no governo. Faz parte do nosso trabalho insuflar a indignação e a fúria popular contra esses parasitas. 

Conversando com as pessoas comuns na rua, fica evidente uma coisa: não é difícil transmitir a urgência da derrubada desse governo para a população. Quase todo mundo perdeu algum familiar ou amigo querido para a Covid-19. Cada uma dessas 500 mil pessoas deixou famílias que agora sentem o peso do luto. É um luto que pode se tornar revolta, a partir da consciência que essas vidas teriam sido salvas caso o governo tivesse um plano logístico eficiente (o desastre da falta de oxigênio no Amazonas, a ausência de preparação de leitos de UTI em todo país, mostram isso), caso Bolsonaro não tivesse atrasado – e até boicotado – a compra de vacinas, caso houvesse sido garantido uma renda mínima para as pessoas ficarem em casa tornando possível o isolamento social em larga escala. 

Essa revolta, de fato, já está aquecida nas periferias e favelas, que se tornaram alvos da violência policial, mesmo em meio a pandemia, endossada pelo discurso abertamente fascista da família Bolsonaro. Casos como o assassinato do menino Guilherme na Zona Sul de São Paulo e a chacina de Jacarezinho no Rio de Janeiro não ficaram sem resposta: revoltas espotâneas tomaram as ruas para denunciar o racismo e a brutalidade estatal.

O segundo desafio é organizar a luta. As campanhas de solidariedade que foram construídas para enfrentar a fome também ajudaram a preparar a resistência nas periferias. A partir desse esforço concreto de ajuda mútua, podemos mobilizar os bairros populares mais castigados pelos efeitos da pandemia e da crise econômica para se somarem às manifestações do dia 19. É particularmente crucial aliar a insatisfação dos bairros populares com as lutas das categorias da classe trabalhadora que estão sofrendo com o arrocho salarial, a retirada de direitos e a ameaça de privatizações, como é o caso dos combativos trabalhadores metroviários, dos Correios e da Eletrobras. Fomentar desde já a agitação política no lugar de trabalho e a solidariedade prática entre as categorias em luta pode gerar mais para frente o clima necessário para a construção de uma greve geral capaz de derrubar o governo. 

Por fim, um combustível potente para a revolta é a rebeldia da juventude que está vendo seus sonhos serem destruídos. Essa juventude quer defender a vida e a educação. Cada vez mais, quer também esquentar as ruas para fazer história. Articular os vários pontos de insatisfação, para ir costurando um amplo movimento coletivo de massas, é uma tarefa política. O fora Bolsonaro é a bandeira em torno da qual podemos aglutinar forças e reunir diferentes setores.

Devemos dar consequência estratégica às lutas. É insuportável viver sob esse governo. Não há tempo para esperar que a saída seja construída no próximo ano. Já perdemos tempo demais – e vidas demais. Contar com as eleições não passa de uma aposta, e, sem um plano efetivo de enfrentamento, uma aposta de alto risco. Colocar o poder popular na rua hoje pode não só inviabilizar o governo como ir além: apontar uma saída à esquerda. É só da nossa classe em movimento que nascerá uma alternativa socialista – que eleve a moral popular, não se subjugue aos grandes proprietários e aos militares, que tenha coragem de defender o que é do povo.

É por isso que estarei ocupando as ruas hoje, 19 de junho – e muito bem acompanhada. Com a revolta do povo que é escravizado há séculos, mas não se curva. Com a esperança da juventude que vislumbra um futuro de justiça e igualdade. Com a força daqueles que construíram esse país com o próprio suor. É nossa tarefa histórica, é nossa responsabilidade: derrotar o fascismo nas ruas.

Sobre os autores

é dirigente da Unidade Popular pelo Socialismo em São Paulo e diretora de Relações Internacionais da UNE.

Cierre

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Published in América do Sul, Análise, Antifascismo and Política

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