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Uma das piscinas na cobertura do Wohnpark Alt-erlaa. Crédito: Zara Pfeifer.

Piscinas na cobertura para todos

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Tradução
Cauê Seignemartin Ameni

As piscinas na cobertura não deveriam ser uma exclusividade dos ricos. A Alt-erlaa, o conjunto habitacional vienense que é provavelmente o mais longe que a social-democracia do pós-guerra chegou a uma visão do verdadeiro luxo comunal, prova que nossas cidades poderiam ser diferentes se nossa classe política quisesse.

A última vez que vi uma piscina no terraço foi em Viena, uma cidade que construiu, sem dúvida, a melhor infraestrutura social da Europa durante o século XX. Não era uma piscina no céu ou uma piscina infinita, ou algo tão dramático – não se estendia entre quarteirões ou estava alocada em uma antiga propriedade industrial entre a embaixada dos EUA e a sede dos serviços secretos. Era apenas uma piscina. Você poderia simplesmente entrar, como eu fiz, sair da rua e subir no elevador e vê-la.

Ficava muito longe do luxuoso bairro Nine Elms, onde nem mesmo todos os que moram nos quarteirões com a piscina ao ar livre podem nadar (barbaramente, os moradores da “habitação acessível” são proibidos). Eu estava em Alt-erlaa, o conjunto habitacional que é provavelmente o mais longe que a social-democracia do pós-guerra chegou a uma visão de verdadeiro luxo comunal.

Até agora, é bastante famoso na esquerda, depois de ter sido apresentado em um documentário do Channel 4 que comparou essa espetacular casa com a espelunca que moramos e aceitamos em nome de ser uma “democracia proprietária”. Aqui na revista Tribune, muitas vezes ilustramos artigos sobre habitação com uma fotografia de Alt-erlaa; é uma forma de dizer “isso aqui é o que a gente quer”.

O Wohnpark Alt-erlaa, para dar-lhe o nome completo, foi construído na década de 1970 por uma das associações de moradores de Viena, fundada no início dos anos 20 pelo movimento de ocupação – ao contrário de outros esquemas famosos na cidade como o magnífico Karl-Marx-Hof, não era habitação social, mas era o que seria descrito no Reino Unido como “aluguel social”, bem abaixo do nível de mercado, para pessoas em lista de espera, e cuidadosamente controlado contra a inflação. Consiste em várias torres em um rico espaço verde extensivamente arborizado, que era um arranjo comum nas décadas do pós-guerra, embora decrescente quando a propriedade estava sendo construída na segunda metade dos anos 70.

A novidade foi o planejamento interno. O arquiteto da propriedade, Harry Glück, projetou cada bloco com um plano incomum em torno de um núcleo social central. Os apartamentos eram de aspecto único, compensados por varandas profundas, onde sempre foram plantadas trepadeiras, descendo em pirâmides até o chão, com equipamentos sociais naquele núcleo no centro. Podem ser salões de sinuca, cinemas, o que os moradores acharem mais útil e, no topo de cada um, uma grande piscina. Desde então, isso se tornou quase padrão na habitação social vienense, com, por exemplo, os quarteirões do novo subúrbio recém-construído em Aspern, cada um com piscinas na cobertura. Ele pegou, e agora é quase considerado comum, e eu vi arquitetos vienenses revirarem os olhos para eles, como se tudo fosse um pouco bobo.

Foto da Wohnpark Alt-erlaa

Viena é uma cidade um tanto miserável, algo que eu pessoalmente considero um ardil para esconder de forasteiros, como aqueles nas proximidades e, ironicamente, muito menos “socialistas” Bratislava e Budapeste, e especialmente aqueles migrantes que chegam às “portas de Viena” através do Balcãs. Talvez por isso Alt-erlaa tenha sido fortemente criticado quando foi construído.

O fato de os apartamentos não serem duplo, incomum em Viena, foi duramente criticado, e a abordagem ao estilo Le Corbusier de enormes torres em um parque estava fora de moda na época. A década de 1970 deu início à obsessão pelas “ruas tradicionais”, recentemente tão populares entre os thinktanks conservadores. A noção era e é que, sem a lógica das ruas “legíveis”, você fica entediado na melhor das hipóteses e, na pior, gera um colapso social.

Vale a pena repetir que cada estudo de Alt-erlaa mostra que é totalmente popular entre seus moradores e, francamente, é bizarro supor o contrário. Este prédio está entre as melhores habitações já construídas e, se fosse construída para os ricos, seria incontroverso dizê-lo. O que Alt-erlaa mostrou é que a melhor moradia já construída poderia ser feita para todos.

O que Alt-erlaa também representou foi o auge da ideia, proposta pela primeira vez pelos construtivistas soviéticos e seus seguidores na década de 1920, de que a habitação e os edifícios públicos poderiam funcionar como “condensadores sociais”. Você não podia simplesmente – como os soviéticos fizeram mais tarde – empilhar um monte de apartamentos uns em cima dos outros, não importa o quão higiênico isso pareça, e chamar de comunidade. Em vez disso, os primeiros blocos de apartamentos soviéticos, como o famoso Narkomfin em Moscou, atualmente sendo restaurado, tinham terraços, bibliotecas públicas e academias construídas.

Um arquiteto que aprendeu seu ofício com a vanguarda soviética foi Berthold Lubetkin, que frequentou a Vkhutemas, a escola de Moscou conhecida como a “Bauhaus soviética”. Quando se mudou para Londres, projetou, com seu coletivo Tecton, o Finsbury Health Centre. Embora modesto em comparação com a Alt-erlaa, era exuberante para os padrões municipais dos anos 30, com terraços na cobertura, jardim, materiais ricos, espaços abertos. Criticado por isso, Lubetkin declarou que “nada é bom demais para as pessoas comuns”.

Estas ainda são palavras para se viver, mas foram ditas tanto que se tornaram um pouco clichê. Significa algo específico, no entanto. Isso significa que não vemos uma piscina na cobertura de um prédio alto como um luxo ostensivo – vemos isso como algo que todos deveríamos ter. E negar isso é um insulto.

Sobre os autores

é o editor de cultura da Tribune. Seu último livro, "Red Metropolis: Socialism and the Government of London", saiu pela Repeater Books.

Cierre

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Published in Análise, Arquitetura, Cidades, Cultura and Europa

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