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Um trabalhador coleta pedaços de carvão na cidade portuária de Cartagena, Colômbia, em 13 de junho de 2024. (Schneyder Mendoza / AFP via Getty Images)

O embargo de carvão da Colômbia contra Israel é um exemplo a ser seguido

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Tradução
Sofia Schurig

A Colômbia era a maior exportadora de carvão para Israel — mas o presidente Gustavo Petro anunciou que cortaria o fornecimento. A mobilização colombiana contra o genocídio em Gaza mostra ao mundo como exercer pressão material sobre Israel.

Em 8 de junho, o presidente colombiano Gustavo Petro anunciou que seu país suspenderá as exportações de carvão para Israel até que o genocídio cesse. O carvão colombiano representou mais de 60% de todo o carvão fornecido a Israel em 2023, e a rede elétrica israelense depende do carvão para 22% de sua produção. A mesma rede fornece eletricidade para os assentamentos ilegais de Israel, fábricas de armas e infraestrutura usada pelo exército israelense para perpetrar o genocídio contra os palestinos em Gaza.

Com a Colômbia sendo a maior exportadora de carvão para Israel, essa decisão não é apenas uma vitória em termos simbólicos, mas demonstra o enorme impacto que um embargo energético mais amplo poderia ter para acabar com o genocídio de Israel em Gaza, bem como o poder da organização transnacional que trouxe a decisão.

Poucas semanas após o início do genocídio, o maior sindicato de trabalhadores das minas da Colômbia, Sintracarbón, respondeu a um chamado de solidariedade do movimento sindical palestino, emitindo uma declaração exigindo a suspensão das exportações de carvão colombiano para Israel. Ao levantar esse pedido, os mineiros também destacaram o papel nefasto de Israel no treinamento de paramilitares e mercenários responsáveis por atrocidades generalizadas na Colômbia, e convocaram trabalhadores de todo o mundo a parar a produção de metais, minerais e combustíveis que são usados nessas guerras… o planeta está à beira de uma nova guerra mundial e são os trabalhadores que podem e têm a obrigação de parar essa ameaça contra a existência da raça humana.

Com base nesse apelo, uma aliança de grupos palestinos, sob a bandeira do Embargo Energético Global pela Palestina, iniciou uma demanda mais ampla por um embargo multinível contra as transferências de energia que alimentam o genocídio e o apartheid israelense sobre os palestinos. Isso inclui exigências para acabar com a transferência de energia para Israel, a compra de gás israelense e a colaboração de empresas de energia em projetos energéticos israelenses.

Um embargo energético tem o potencial de exercer pressão imediata e a longo prazo sobre Israel, particularmente através da cadeia de suprimentos de carvão. A maior parte do carvão de Israel vem da Colômbia e da África do Sul, dois países comprometidos em apoiar o povo palestino. No entanto, apesar de a África do Sul ter iniciado um caso no Tribunal Internacional de Justiça contra Israel e a Colômbia ter expulsado o embaixador israelense, as exportações de carvão de ambos os países continuaram inabaláveis.

A campanha de Embargo Energético Global pela Palestina nasceu da conexão entre lutas, construindo uma aliança com sindicatos colombianos e grupos indígenas, ambos com — de maneiras muito diferentes — uma longa história de luta contra a indústria do carvão na Colômbia. Essa união demonstra que a causa palestina não está isolada em uma escala mundial, mas faz parte de um movimento global mais amplo por ação coletiva e libertação.

As duas principais empresas responsáveis pela extração de carvão destinado a Israel são a suíça Glencore e a americana Drummond, que fornecem mais de 90% do carvão colombiano enviado a Israel. A extração de carvão por essas empresas tem efeitos devastadores, especialmente sobre as populações afrodescendentes e indígenas do norte caribenho do país. Elas foram deslocadas de suas terras, morreram devido ao pó tóxico do carvão, e tiveram recursos hídricos vitais, como o Rio Rancheria, poluídos e roubados. Ativistas ambientais, organizações tribais e sindicalistas que resistem à destruição ambiental têm sido constantemente alvo e são assassinados por corporações mineradoras e milícias de direita.

Em suas mobilizações, líderes indígenas traçaram paralelos entre as lutas de seus povos e a causa palestina, combinando apelos a Petro para cortar os laços comerciais com Israel com exigências de responsabilização das empresas mineradoras por suas violações dos direitos humanos na Colômbia, bem como por permitir o genocídio de Israel.

O anúncio de Petro veio após um dia global de ação transnacional contra a Glencore por seus abusos de direitos humanos no dia 28 de maio, onde organizações palestinas escreveram diretamente ao presidente com a exigência de que ele encerrasse as exportações de carvão.

Essa mobilização resultou na decisão monumental de suspender as exportações de carvão colombiano para Israel. Ela demonstra como mobilizações além-fronteiras, com demandas claras e através de princípios e valores compartilhados, podem tecer uma campanha eficaz que desafia poderes globais, imperialismo e colonialismo.

Relata-se que Israel possui reservas de carvão suficientes para cobrir suas necessidades imediatas. No entanto, precisará recorrer a outros fornecedores, como Austrália, Cazaquistão, Rússia e África do Sul, para suprir a carência, e provavelmente será forçado a pagar mais em prêmios.

Isso ressalta ainda mais a necessidade do embargo energético global. Se outros países seguirem o exemplo da Colômbia e se comprometerem a cortar o fornecimento de carvão, o custo econômico para Israel aumentará ainda mais, atuando como uma fonte significativa de pressão para concordar com um cessar-fogo.

“O anúncio da Colômbia representa apenas o início de uma campanha global para acabar com o genocídio e trazer justiça ao povo palestino após mais de sete décadas de regime colonial e de apartheid por parte de Israel.”

A solidariedade entre Colômbia e Palestina tornou mais provável que o governo colombiano atendesse a essas demandas. Em outras circunstâncias, mobilizações mais sustentadas serão necessárias para ter impacto. No entanto, outros estados-chave, como a África do Sul, que entrega cerca de 9% do carvão de Israel, ou o Brasil, que fornece petróleo bruto a Israel, também devem ser alvos de mobilizações globais.

Estados e líderes internacionais que não atenderem ao chamado continuarão cúmplices do genocídio de Israel em Gaza. Um embargo energético é uma maneira crucial de acabar com essa cumplicidade — e para a comunidade global adotar uma posição de princípio ao lado do povo palestino.

Sobre os autores

Rula Jamal

é jurista e defensora dos direitos humanos.

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Published in América do Sul, Guerra e imperialismo, Meio Ambiente and Notícia

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