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O presidente mexicano, Andrés Manuel Lopez Obrador, faz saudação durante o briefing matinal diário no Palácio Nacional em 30 de setembro de 2024, na Cidade do México, México. (Manuel Velásquez/Getty Images)

Infraestrutura pública foi mais um dos legados da vitoriosa esquerda mexicana

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Tradução
Pedro Silva

Os espaços públicos são a pedra angular do legado do ex-presidente Andrés Manuel Lopez Obrador (AMLO) na política urbana do México. O apoio de seu governo à infraestrutura e arquitetura de caráter social continua a remodelar a paisagem e as vidas dos que vivem em áreas negligenciadas.

Em Huicalco, um bairro de classe trabalhadora na cidade de Tizayuca, no centro do México, as paredes de concreto aparente de um novo centro comunitário se destacam entre lojas familiares e casas despretensiosas. Esta instalação, Complejo Colibrí, é um dos 1.267 projetos públicos construídos durante o mandato do ex-presidente Andrés Manuel Lopez Obrador (AMLO), servindo como evidência material da “Quarta Transformação” do México — o esforço do partido no poder para tornar o país mais equitativo.

“Acredito que este é um sonho que se tornou realidade para muitos de nós”, diz a muralista Carmina Orta sobre o novo centro comunitário. “É um espaço lindo no meio da paisagem árida de Tizayuca.”

Situado em um terreno de 17.000m², o edifício brutalista — projetado pelos escritórios de arquitetura G3 Arquitectos e Anonimous — abriga salas de aula, escritórios e quadras esportivas cobertas. Do lado de fora, um amplo calçadão salpicado de vegetação e áreas de convivência desperta a curiosidade dos transeuntes e convida as pessoas a pararem.

Revitalizando o espaço público

Natural de Pachuca, capital do estado de Hidalgo, Orta chegou a Tizayuca em fevereiro do ano passado para ministrar três oficinas de arte no Complejo Colibrí, que foi aberto ao público em abril, mas inaugurado oficialmente em agosto.

“Eu dei aulas de desenho, pintura e caligrafia”, diz Orta, observando que, como as aulas no centro comunitário são gratuitas, pessoas de todas as origens podem participar. “Eu tinha alunos de todas as idades, mas o que eu mais gostava era de trabalhar com idosos.”

A entrada do Complejo Colibrí. (Cortesia do Ministério do Bem-Estar Social de Tizayuca)
A entrada do Complejo Colibrí. (Cortesia do Ministério do Bem-Estar Social de Tizayuca)

Não muito tempo atrás, o local do Complejo Colibrí era outro dos muitos terrenos baldios espalhados por Tizayuca. Apesar de sua proximidade com a Cidade do México e Pachuca, o status de Tizayuca como uma cidade menor no estado de Hidalgo resultou em escasso investimento em infraestrutura pública, com recursos fluindo para outros lugares.

Mesmo com a região experimentando rápido crescimento populacional, impulsionado pela expansão industrial, os níveis mais altos dos governos deram pouca atenção às necessidades recreativas e culturais das crianças e jovens locais. Hoje, Tizayuca enfrenta altos níveis de crime e violência.

“Revitalizar o espaço público contribui para recompor o tecido social”, diz Orta, observando que o novo centro comunitário está ajudando a fazer exatamente isso. “Todas as tardes, as quadras de vôlei e basquete estão cheias de crianças e jovens — Tizayuca realmente precisava de um espaço onde pudessem se sentir seguros.”

Embora existam vinte e três centros comunitários em Tizayuca, muitos deles estão em mau estado, enquanto outros não estão adequadamente equipados para atender às necessidades de uma população cada vez mais diversa. Ao fornecer um espaço flexível onde esportes, educação e cultura podem convergir, o Complejo Colibrí está lentamente preenchendo as lacunas deixadas por administrações anteriores.

“Este centro comunitário tem sido muito útil para desmantelar algumas das estruturas que mantinham os moradores de Tizayuca segregados geograficamente”, explica Javier Alazañes, ministro de bem-estar social do município, apontando como a prevalência da fragmentação socioespacial, ou a separação de pessoas por renda e classe na cidade, minou o senso de comunidade de Tizayuca.

“O Complexo Colibrí criou novas oportunidades de lazer não apenas para os moradores de Huicalco”, diz ele, “mas para os moradores de todo o município”.

Nos últimos seis meses, centenas de pessoas se inscreveram para aprender desenho, violão ou fazer artesanato indígena; muitas outras compareceram a um festival gastronômico ou simplesmente apareceram para jogar uma cascarita (jogo casual de basquete) com amigos depois do trabalho. O município planeja eventualmente manter o centro comunitário aberto 24 horas por dia, 7 dias por semana, e prevê até vinte mil visitantes anualmente.

“A cultura é um direito”, diz Alazañes. “Espaços como o Complejo Colibrí ajudam a mantê-la.”

Arquitetura socialmente orientada

Assim como Tizayuca, muitas comunidades em todo o país foram negligenciadas sob administrações neoliberais. Espaços públicos foram deixados subfinanciados e abandonados, enquanto outros foram privatizados após décadas de abandono. Em resposta, AMLO encarregou a Secretaria Federal de Terras e Desenvolvimento Urbano (SEDATU) de não apenas identificar projetos que pudessem melhorar espaços públicos e infraestrutura em comunidades pobres, mas também construí-los.

“O que nossa administração buscou foi reduzir as desigualdades sociais entre as pessoas que vivem em grandes centros urbanos, como Cidade do México, Guadalajara e Monterrey, e aquelas que vivem nas periferias”, diz Román Meyer-Falcón, que comandou a SEDATU durante a administração de AMLO. “Nessas áreas, a ausência do Estado é palpável, então, por meio de nosso programa de melhoria urbana, construímos espaços públicos onde as pessoas pudessem se sentir seguras na comunidade.”

Pessoas caminham até o Complejo Colibrí. (Cortesia do Ministério do Bem-Estar Social de Tizayuca)

Durante os seis anos da presidência de AMLO, mais de 190 comunidades em todo o país se beneficiaram do programa de melhoria urbana da SEDATU, que orquestrou a revitalização de parques e praças, bem como a construção de mercados públicos, bibliotecas, museus e centros comunitários. Os resultados deste programa sinalizam um afastamento gritante das administrações anteriores. A infraestrutura pública não é mais uma ideia tardia construída de forma barata nem um fardo para o que era um Estado cada vez mais obsoleto.

Liderada por Meyer-Falcón, a SEDATU colaborou com arquitetos e acadêmicos de renome internacional, incluindo Fernanda Canales e Mauricio Rocha, para revigorar o papel da arquitetura na Quarta Transformação do México. Até agora, 223 projetos receberam reconhecimento global, incluindo o Complejo Colibrí de Tizayuca.

“No programa de melhoria urbana, a arquitetura funciona como um mecanismo que fomenta um senso de dignidade e enraizamento para as comunidades locais”, diz Meyer-Falcón, enfatizando que “a vantagem da arquitetura socialmente orientada é que ela garante a permanência e a durabilidade de um investimento”.

Construindo para o povo

A infraestrutura pública construída desde 2018 pode ser considerada o legado mais tangível de AMLO, já que as políticas introduzidas durante seu mandato continuam a transformar o cenário do México — tanto literal quanto figurativamente.

“Construir arquitetura pública de alta qualidade nas regiões mais pobres do país é a marca deixada pela Quarta Transformação na arquitetura do México”, diz León Staines-Díaz, professor de arquitetura e planejamento urbano no Instituto de Tecnologia e Educação Superior de Monterrey. Ele acrescenta que a mudança política do país exigiu uma expressão arquitetônica única porque sinaliza um afastamento de quase quatro décadas de governo neoliberal.

“A quarta transformação visa dar continuidade ao trabalho iniciado no período revolucionário”, explica.

Após a Revolução Mexicana, o movimento modernista deu ao México uma base arquitetônica sólida. Arquitetos como José Villagrán e Juan O’Gorman abraçaram as linhas limpas e os designs eficientes do modernismo, facilitando a produção em massa de escolas e hospitais por todo o país, muitos dos quais continuam a operar hoje.

Uma árvore cresce dentro de uma sala elegante no Complejo Colibrí. (Cortesia do Ministério do Bem-Estar Social de Tizayuca)

Da mesma forma, os projetos construídos nos últimos seis anos mostram os benefícios sociais de envolver arquitetos na infraestrutura pública, trazendo eficiência, flexibilidade e sustentabilidade aprimoradas. Como o Complejo Colibrí em Hidalgo, edifícios icônicos como o Museo Meteorito, um museu de geologia em Yucatán, e o Mercado Matamoros, um mercado público em Tamaulipas, combinam materiais e métodos de construção locais com a geometria monumental da arquitetura contemporânea, trazendo a arquitetura pública do México de volta à vanguarda — e às pessoas.

No entanto, muitos desafios estão por vir.

Como esses projetos estão localizados em comunidades menos ricas, os governos locais muitas vezes não têm os recursos e a experiência para administrar os novos espaços de forma eficaz, o que leva a fechamentos inesperados e degradação.

“Acredito que é muito importante que as cidades vejam os espaços públicos como um meio de promover o bem-estar das pessoas”, diz Staines-Díaz. “Mas nem todo o suporte para essa infraestrutura precisa vir do governo federal; governos estaduais e municipais também podem se envolver.”Embora a SEDATU pareça estar mudando o foco de projetos de revitalização urbana para moradias muito necessárias, Staines-Díaz sugere que os governos locais devem olhar para a iniciativaUtopías da Cidade do México em Iztapalapa. “Se você envolver a comunidade [e] considerar os recursos locais, incluindo o tempo e a capacidade das pessoas, elas farão um projeto seu.” Essa estratégia de base para criar espaços públicos garante que a comunidade se aproprie dos projetos e que o legado do governo de AMLO continue vivo.

Sobre os autores

é uma escritora e editora freelancer baseada em Calgary. Seu trabalho apareceu no Globe and Mail, Tyee e Sprawl.

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Published in América Central, Análise, Arquitetura, Cidades and Política

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