Os estadunidenses, ou talvez em sua maioria os jovens e heterossexuais, vem sofrendo de uma seca sexual. As razões para isso são complicadas, mas de acordo com um artigo exaustivo e copiosamente bem-pesquisado de Kate Julian, no The Atlantic, o problema é um coquetel enjoativo de alienação social, tecnologia, ansiedade, depressão e a pressão neoliberal para ser bem-sucedido. Além disso, o Wall Street Journal reporta que a rede de lingerie Victoria’s Secret vem passando por problemas pois “sexo não está vendendo”.
O capitalismo vem tentando vender sexo desde os seus primórdios – só que agora nós não estamos comprando. Julian cita o Ministro da Saúde sueco, após um estudo recente descobrir um problema similar naquele país: “Se tiverem se deteriorado as condições sociais para uma boa vida sexual – por exemplo, por causa do estresse ou de outros fatores nocivos –… isso é um problema político”. Nesse contexto, Por que as mulheres tem melhor sexo sob o socialismo e outros argumentos a favor da independência econômica (Autonomia Literária 2021), uma polêmica curta, direta, e maravilhosamente cativante da antropóloga Kristen Ghodsee, não poderia ser mais urgente.
“O capitalismo desregulado é ruim para as mulheres”, argumenta Ghodsee, “E se nós adotarmos algumas ideias do socialismo, as mulheres terão vidas melhores… e sim, até mesmo sexo melhor”. É um argumento com fundamentos históricos, baseado em sua extensa pesquisa acadêmica sobre a antiga União Soviética e os países do Bloco do Leste.
De maneira convincente, Ghodsee argumenta que através de serviços de cuidados infantis abertos ao público, da participação total na força de trabalho, do investimento em educação das mulheres, e de uma robusta propaganda feminista, os Estados socialistas realizaram enormes avanços para a igualdade feminina, mesmo em culturas bastante patriarcais. Também melhorou muito a qualidade material da vida das mulheres. A mortalidade feminina e infantil diminuiu e o analfabetismo essencialmente desapareceu. Tudo isso teve tremendas implicações para o sexo heterossexual: com homens e mulheres se beneficiando igualmente de serviços públicos como educação e saúde, e do acesso a empregos estáveis e à uma remuneração decente, as mulheres deixaram de depender dos homens, e o sexo e o amor puderam passar a ser considerados nos seus próprios termos, livres de incentivos econômicos. Nas palavras de Ghodsee, sem rodeios: “as mulheres não tinham que casar por dinheiro”.
É fácil imaginar como tais condições poderiam melhorar a vida das mulheres. Entretanto, será que é um fato evidente que o sexo desmercadificado é melhor? Afinal, algumas profissionais do sexo e seus clientes gostam da natureza de seus encontros; alguns homens e mulheres comprometidos provavelmente também sentem o mesmo. Eu não sinto menos prazer no sexo se o homem paga a conta (talvez eu até mesmo sinta mais prazer, o que só complica as coisas). Então, para a sorte de nós que ainda precisamos ser convencidas, Ghodsee apresenta fortes evidências para apoiar seu argumento de que as mulheres transam melhor no socialismo.
De todas as residentes do antigo bloco soviético, as vidas sexuais das mulheres da Alemanha Oriental foram alvo das pesquisas mais robustas, e esses dados foram contrastados com os de suas menos afortunadas correspondentes na Alemanha Ocidental, que viviam em um regime capitalista (além de religioso, um estorvo adicional à libido). Além de políticas como cuidados infantis universais e empregabilidade feminina, o governo realizava um forte trabalho de incentivo à ideologia feminista, promovendo a igualdade de gênero e a independência feminina como benefícios exclusivos do socialismo, e até mesmo propagandeando a importância dos homens dividirem o serviço doméstico. Pelo fato das mulheres da Alemanha Oriental terem se tornado economicamente independentes dos homens, eles se tornaram mais sexualmente atenciosos e generosos do que seus correspondentes no Ocidente. Em contraste, com as mulheres dependendo deles para a sua sobrevivência, os homens da Alemanha Ocidental tinham pouco incentivo para melhorar sua performance no quarto. Além disso, a vida na República Democrática Alemã era mais relaxante do que no Ocidente, com pouco estresse econômico e uma abundância de tempo para o lazer.
Essa diferença gerou resultados claros e mensuráveis. Os pesquisadores encontraram taxas muito mais altas de satisfação sexual nas mulheres da Alemanha Oriental do que na Ocidental. Um levantamento apontou que 80% das mulheres Orientais sempre sentiam orgasmos, comparadas com 63% na Alemanha Ocidental. Em uma divisão particularmente comovente, 82% das mulheres da Alemanha Oriental se sentiam “felizes” após o sexo, comparadas com pouco mais da metade disso no Ocidente. Essas estatísticas foram (charmosamente) utilizadas pelo Estado germânico oriental para argumentar pela superioridade do comunismo, e foram recebidos com um ceticismo defensivo pela mídia da Alemanha Ocidental.
Ghodsee, que não é nenhuma propagandista, repetidamente deixa claro que mesmo no terreno limitado desse livro, o socialismo não era perfeito. Ela admite que o “sexo soviético era uma porcaria” sob Stalin, com o aborto sendo ilegal de 1936 a 1955 e a igualdade feminina sendo de baixa prioridade. Ghodsee reconta os primórdios idealistas do feminismo na União Soviética, com a visão de Alexandra Kollontai do amor romântico de camaradagem que a mulher socialista liberada iria vivenciar, e como Stalin abandonou esses ideais em face das pressões econômicas. E assim como na maior parte do mundo no século XX, o bloco soviético não era um ótimo lugar para pessoas LGBT, o que deve ter afetado de maneira significativa a vida sexual de milhões.
Exceto talvez como uma tara hipotética, o totalitarismo não é lá muito sensual. O relato de Ghodsee sobre os aspectos sexualmente repressivos desses regimes é um lembrete estimulante de como o sexo necessita do libertarianismo tanto quanto do socialismo. É claro que o libertarianismo de livre-mercado dos irmãos Koch está em profundo desacordo tanto com o socialismo quanto com um bom sexo. Porém, um compromisso social-libertário de deixar adultos que consentem fazer o que quiserem é algo vital. Autoritários patriarcais que buscam controlar nossa sexualidade e reprodução, sejam stalinistas ou Republicanos contemporâneos, são os inimigos do sexo. Mesmo Estados que nós não encaramos como repressivos às vezes policiam a sexualidade das mulheres de forma brutal – veja, por exemplo, os efeitos punitivos da abordagem escandinava às profissionais do sexo.
A maior parte da arte erótica era proibida nos países socialistas. Contudo, havia importantes exceções. A Iugoslávia permitia algumas revistas eróticas. Em outras partes, manuais sexuais profundamente atentos ao prazer eram encorajados, e se tornaram campeões de vendas na República Democrática Alemã e na Polônia, como Ghodsee escreveu recentemente no Washington Post. Toda criança búlgara sabia onde estava escondido o exemplar dos seus pais de Man and Woman, Intimally (“Homem e Mulher, Na Intimamente”, em tradução livre).
Prazer e perigo
Esse livro é um tônico para um discurso severamente debilitado. Nos últimos anos, o prazer sexual das mulheres em grande parte desapareceu das políticas feministas e de esquerda – de fato, praticamente deixou de ser pensado como uma questão política séria. Esse apagamento é recente, até mesmo repentino, mas nós já vivenciamos isso antes.
Ao contrário do que dizia o estereótipo popular, o sexo, e especificamente o prazer das mulheres, era essencial para a segunda onda do feminismo estadunidense. (Exceto por alguns pontos fora da curva, como Emma Goldman ou Victoria Woodhull, as mulheres do passado são quase sempre vistas como puritanas assexuadas, provavelmente porque cada nova geração sente repulsa ao pensar na sexualidade de suas mães e avós.) Em grupos voltados à conscientização, as mulheres analisavam como o patriarcado as havia confundido em relação a seus próprios corpos, corrigindo essa confusão com espelhos. Livros foram escritos sobre o orgasmo feminino, com diagramas mostrando onde as terminações nervosas relevantes poderiam ser encontradas. O aborto sob demanda e o acesso ao controle de natalidade eram exigências centrais do movimento e estavam explicitamente ligados à libertação sexual feminina.
Nos anos 80, entretanto, enfrentando a reação negativa da direita, as feministas estadunidenses recuaram. O movimento começou a fugir de qualquer coisa que parecesse muito insinuante ou insultante para as boas maneiras conservadores. Eu me lembro de uma mulher que costumava ficar nas ruas de Nova York, gritando com as pessoas, especialmente as mulheres. “Assine a petição! Assine a petição!” Ela berrava para nós quando passávamos, com a intensidade de um pregador de praça, empurrando em nossas caras uma representação gráfica, da revista Hustler, de uma mulher sendo processada por um moedor de carne. (Aquela capa da Hustler de 1978 era uma paródia projetada pelo feminista Yippie Paul Krassner, destinada a criticar a exploração das mulheres feita pela revista; mas tais sutilezas facilmente se perdem em uma orgia de indignação.) Se nos recusássemos a assinar, ela gritava em nossos rostos: “espero que você seja estuprada! ” (lembro de parar para ler a petição, mas não lembro o que dizia.) Camille Paglia dirigiu um pequeno documentário, “Glenda e Camille Do Downtown” (“Glenda e Camille vão ao centro da cidade”, em tradução livre), no qual ela e sua amiga drag queen, Glenda Orgasm, instigam uma briga com as mulheres anti-pornografia.
Em um misto de tragédia e comédia irônica, parte do movimento feminista encontrou uma causa comum com a direita ao demonizar a pornografia e tornar-se “firme” contra esse crime. Elas se concentraram na violência sexual masculina contra as mulheres como o principal instrumento de opressão feminina, acima de qualquer outra coisa (ignorando o local de trabalho ou a família). “A pornografia é a teoria, o estupro é a prática”, escreveu Robin Morgan, editora da Revista Ms.
Muitas feministas protestaram, tanto contra o estreitamento do foco do movimento, quanto à visão emergente do sexo como nada além de perigo e trauma para as mulheres, argumentando que o sexo era uma fonte de “prazer e perigo” (o título de uma conferência feminista sobre sexualidade que foi um ponto de referência desse período, bem como a antologia que saiu dela, editada por Carole Vance). Algumas dessas críticas eram acadêmicas, como Vance, enquanto outras, como Susie Bright, Amber Hollibaugh e a falecida Ellen Willis (também mulheres da esquerda), escreviam para um público mais abrangente. O pessoal do “prazer e perigo”, inicialmente marginalizado, acabou por desfrutar de um significativo peso cultural e intelectual, auxiliadas por uma emergente cultura queer com uma visão altamente positiva em relação ao sexo, bem como pela música do movimento riot grrrl, que teve uma enorme influência no feminismo da década de 90. (Eu estava na casa dos vinte anos nesta década e escrevi um pouco sobre esses assuntos.) Algumas escreviam ensaios pessoais e os publicavam em zines e antologias. Nós protestávamos, no estilo ACT UP [1], para exigir direitos para os gays, recursos para a saúde feminina, financiamento para pesquisas sobre a Aids e o “aborto sob demanda e sem desculpas”. Fazíamos topless durante os protestos, com a palavra “SAPATÃO” escrita em nossas barrigas. Mulheres criavam pornografia feminista. Seria fácil zombar da explosão de butiques de vibradores deste período e ainda mais fácil tirar sarro das capas das revistas que anunciam o advento do “Do-Me Feminism” [2]. Mas a ideia de que as mulheres tinham direito ao desejo e ao prazer sexuais, sem que fossem definidos pela violência ou pelas expectativas masculinas, foi uma intervenção importante na cultura em geral, assim como uma re-intervenção (após um breve desvio causado pelas Reaganistas) no feminismo em si.
Em anos recentes, no entanto, o feminismo, incluindo o de esquerda, abandonou quase que totalmente a discussão sobre o prazer, retornando a uma fixação sobre a violência masculina. Embora o movimento #MeToo tenha levado a uma ação (há tempos necessária) em relação ao assédio no ambiente de trabalho e criado um espaço para que mulheres pudessem denunciar os horríveis abusos que ficaram escondidos por muito tempo, ele também levou ao retorno de um discurso feminista em que o sexo, para as mulheres, é mais uma vez visto primariamente como uma fonte de ameaça e de opressão. Isso ofusca muitas de nossas experiências mais estimadas – uma crítica que as feministas do “prazer e perigo” dos anos 80 lançavam contra as obcecadas pela anti-pornografia – e, pior ainda, ameaça apagar o prazer de nossas imaginações utópicas, ao invés disso nos encorajando a nos conformar com uma sociedade em que não sejamos estupradas.
É uma expectativa baixa – muito baixa – e mesmo assim, infelizmente, ainda não realizada por nenhuma sociedade, socialista ou capitalista. O movimento #MeToo, assim como o feminismo anti-pornografia dos anos 1980, está certo em insistir que para que o sexo seja “melhor”, ele deve ser consensual e livre de qualquer medo. Nós não deveríamos perder isso de vista, mesmo enquanto insistimos no direito das mulheres ao prazer. Surpreendentemente, a violência contra as mulheres (violência doméstica, estupro, assédio) está ausente da discussão de Ghodsee – isso porque, como ela aponta, os Estados socialistas suprimiam as discussões sobre esses problemas.
O material sobre a Alemanha Oriental cria alguns dos momentos mais cativantes no livro de Ghodsee. Como qualquer exército ocupante, os soviéticos usaram o estupro como uma arma contra os colonizados naquele país, com o total conhecimento da liderança soviética. Isso significa que a introdução de muitas mulheres germânicas ao “sexo sob o socialismo” foi um horror: alguns historiadores estimaram os estupros em ao menos centenas de milhares, com algumas mulheres sendo atacadas múltiplas vezes. (como qualquer coisa que diz respeito à antiga União Soviética, esse número tem sido amargamente contestado, num tipo de futebol político para aqueles que continuam a reviver a Guerra Fria). A correspondente de guerra soviética Natalya Gessen observou em 1945: “Os russos estavam estuprando todas as mulheres germânicas dos oito aos oitenta anos… era um exército de estupradores”.
Considerando esse início traumático, o bem-estar sexual das mulheres no que veio a ser a República Democrática Alemã é especialmente impressionante. É claro que a guerra é um inferno, e os soldados soviéticos passaram longe de serem os únicos estupradores na Segunda Guerra Mundial (E, apenas para contextualizar, eles estavam absolutamente embriagados). No entanto, a força e a escala específicas da brutalidade das tropas sugere um agudo fracasso da Rússia stalinista em produzir homens que conseguissem imaginar as mulheres como seres humanos semelhantes a si mesmos. Não culpo Ghodsee por não discutir esse episódio pavoroso, mas alguém precisa mencioná-lo, então eu deixarei isso aqui.
Nada disso diminui as muitas conquistas feministas da USSR e de seus aliados no bloco oriental, ou o fato de que a sociedade capitalista fracassou de maneira ainda mais espetacular em reconhecer e desenvolver a plena humanidade das mulheres. É assim que chegamos a esse estranho momento em que, como reporta Kate Julian, muitas mulheres compreensivelmente preferem não se arriscar no sexo com homens jovens tão pobremente socializados, tão viciados em pornografia, tão agressivos e afastados do mundo real, que não percebem que você provavelmente deveria perguntar a uma pessoa o que ela curte antes de asfixiá-la na cama por diversão.
Além desse tipo de alienação bizarra, o capitalismo produz uma extrema vulnerabilidade econômica, que expõe as mulheres a uma violência ainda maior. A insegurança econômica torna mais difícil abandonar os locais de trabalho e relacionamentos abusivos.
Camponesas e camareiras de hotel imigrantes são atacadas no trabalho com muito mais frequência do que empregadas de colarinho-branco – e com toda a repercussão na mídia sobre a violência sexual nos campuses universitários, as mulheres em idade universitária que não tem a sorte de estarem matriculadas em uma instituição de ensino possuem 30% mais chances de serem estupradas, de acordo com dados da Pesquisa Nacional de Vitimização de Crimes do Departamento de Justiça dos EUA de 1995 a 2011. A articulista da Jacobin, Belén Fernández, escrevendo sobre o estupro na Espanha em um ensaio de 2014 para a Al Jazeera, observou esse fato no contexto do neoliberalismo naquele país, apontando o “violento rompimento dos vínculos interpessoais” e da solidariedade humana em uma sociedade onde o capital reina supremo.
Apenas se conectar
A obsessão das feministas estadunidenses do movimento anti-pornografia com os aspectos menos prazerosos da sexualidade era bizarra e desagradável para a maioria das mulheres. Contudo, por melhores que fossemos em criticá-las, a maioria das feministas do “prazer e perigo” da década de 90 não tinha muito a dizer sobre como as condições materiais poderiam afetar o sexo para as mulheres, ou sobre como poderíamos fazer melhor. Politicamente, a década de 90 foi uma selva confusa, onde mesmo nos círculos feministas, poucas pessoas estavam falando sobre o socialismo. Nós não tínhamos, portanto, muitas soluções para os problemas que a maioria das mulheres enfrenta em suas vidas – falta de tempo, trabalho, cuidados para as crianças, desigualdade salarial, violência – e tudo isso torna a busca pelo prazer ainda mais complicada.
Talvez em partes essa seja a razão pela qual tenha ressurgido um feminismo obcecado pela violência, do tipo “os homens são um lixo”. Muitas mulheres vivenciam o sexo como uma fonte de violência, opressão, ou de obrigações tediosas, e os homens estão mais influenciados pela pornografia misógina (ou enganosa) do que nunca. A abordagem da década de 1990 seria tentar, mais uma vez, repensar o sexo em termos feministas, por meio de uma mudança na cultura. Mas Ghodsee oferece uma abordagem para o feminismo pró-sexo que é mais prática, com mais apelo para o discurso dominante (algo surpreendente e revigorante de se escrever sobre um texto socialista). Seu livro traz a ambição libidinal dos anos 1990 para a nossa nascente época socialista-feminista, onde ela talvez possa finalmente fazer sentido.
O capitalismo é ruim para o sexo. Mas o livro de Ghodsee – junto com os dados no artigo de Julian e em muitas outras fontes – sugere que talvez seja porque ele também é ruim para os relacionamentos. Após Stalin, as leis em torno do aborto foram liberalizadas, a ditadura patriarcal se atenuou, e o sexo melhorou para as mulheres soviéticas. Em um estudo contrastando as atitudes sexuais das mulheres russas antes e depois de 1989, o destaque vai para a ênfase que as mulheres da era soviética punham no romance e na amizade. Após a chegada do livre-mercado, as mulheres assumiram uma visão mais instrumental da sexualidade, como algo a ser trocado por dinheiro, segurança e presentes. “Academias de interesseiras” passaram a ensinar as mulheres a encontrar um homem rico. As pesquisas mostram que essa visão instrumental era rara entre as mulheres na era soviética.
Certamente a independência e a ausência de estresse econômico sobre as mulheres exerceu um papel no prazer socialista. Mas as pessoas que viviam nos países previamente socialistas também parecem ter experimentado vidas mais sociais e conectadas do que a maioria das pessoas em um regime capitalista. A amizade era uma parte central da vida diária. Os dados sobre nossas sociedades capitalistas atualmente assexuadas não surpreendem, considerando o quão isoladas as pessoas estão. O sexo é, ao menos em parte, uma forma de companheirismo. Socializar é um hábito facilmente perdido. Essa parece ser uma importante maneira de se medir uma sociedade: as pessoas se sentem seguras, amparadas, excitadas, e mesmo “felizes” na companhia de outros? Nesse momento, a nossa sociedade está fracassando miseravelmente.
Nós sempre vamos sofrer de desilusão amorosa. O socialismo não pode fornecer maravilhosos virtuoses do sexo oral a todos, o tempo todo. Algumas pessoas não se sentirão atraídas por nós, malditos sejam, e amantes continuarão a terminar uns com os outros, de maneira cruel, até mesmo sem explicações. Mas o livro de Ghodsee mostra que para as mulheres, o socialismo pode ao menos melhorar as condições para o prazer – e talvez inextricavelmente, para o amor.
[1] Organização que busca trazer conscientização ao HIV e Aids através de ações internas (empoderamento das pessoas que viviam com o vírus) e externas (conscientização dos órgãos governamentais e do público em geral).
[2] Vertente feminista que encoraja as mulheres a falarem abertamente sobre sexo e seus desejos sexuais.
Sobre os autores
é escritora da equipe da Jacobin, jornalista freelancer e autora de Selling Women Short: The Landmark Battle for Workers 'Rights at Wal-Mart.
[…] mais propensas a sentir-se confiantes com sua aparência física e relatavam taxas mais altas de satisfação sexual do que suas primas no lado Ocidental. Apesar de todo o seu autoritarismo político, a capacidade de […]