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(Wikimedia Commons)

Olavo não tinha razão, mas tinha faro

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Da dissidência comunista ao tradicionalismo ultra conservador que pavimentou a base neofascista do governo Bolsonaro, Olavo de Carvalho ziguezagueou por diversas ideologias até encontrar a que mais apetecia os militares e as elites ressentidas: o anticomunismo. Mas foi da tradição revolucionária, de Gramsci aos zapatistas, que ele retirou suas melhores lições estratégicas.

Olavo de Carvalho morreu hoje, aos 74 anos, no seu auto-exílio em Richmond (Virginia), onde morava desde que saiu do Brasil em 2005. Como gostava de repetir, seguia a inspiração de Vladmir Lenin, do qual dizia ter aprendido que a revolução se faz de fora do país. Ao que tudo indica, Olavo foi mais uma vítima da COVID – uma doença que reiteradas vezes negou que existisse. Mesmo quando os corpos já empilhavam, Olavo desdenhava que a “suposta pandemia” não teria aumentado “nem em um único caso o número de mortos habituais de gripe”. O final irônico faz jus a um mentiroso contumaz dado as invenciones e conspiracionismo. 

É evidente que o “professor”, como costumam chamá-lo reverencialmente seus fãs, em algum momento se perdeu no personagem, e tinha dificuldade de distinguir entre a realidade e a teia de fantasias na qual terminava por se enroscar. Nunca era claro, nas falas de Olavo, o quanto era delírio e o quanto era pura desinformação calculada. Clássicos como “a Pepsi usa fetos abortados como adoçante”, “Theodor Adorno compôs as canções dos Beatles” e “Newton era biruta e Einstein um fanfarrão” lhe renderam a merecida homenagem do “selo Olavo de Carvalho de psicodelia argumentativa”.

Não é possível, no entanto, acusá-lo de incoerência: viveu, e morreu, segundo a máxima “acuse-os daquilo que você é”, retirada do fictício “Decálogo de Lenin”, uma farsa difundida na Guerra Fria, que, não surpreendentemente, o próprio Olavo popularizou no Brasil. Sua linguagem debochada, obcecada por “cu” e “piroca”, atraia entusiastas, encantados com a “espontaneidade popular” do discurso politicamente incorreto, hipnotizados pela combinação confiante do erudito com o xucro, que acabavam tomando por sinal superior de autenticidade.

Comemorar, mas aprender

É de esperar, e indica até certa saúde de espírito, que muitos se alegrem com a morte de alguém que, seja por sua propaganda negacionista seja por sua atuação política que contribuiu decididamente para a eleição do governo Bolsonaro, tenha causado tanto sofrimento e morte. Está liberado comemorar que o principal ideólogo do neofascismo brasileiro não esteja mais entre nós. Falta não fará. Mas isso não deve nos levar a uma posição de superioridade intelectual que rapidamente tacha nossos inimigos de idiotas ou simplórios. 

Olavo de Carvalho certamente foi uma fraude, um charlatão, vigarista, mas negar-lhe o título de “intelectual” porque não possuía formação acadêmica, títulos oficiais ou posto universitário é errar o alvo. E errar rude. Olavo se reivindicava o parteiro da nova direita, hoje no poder. Há aí uma boa dose de verdade.

Não costumo concordar com Pablo Ortellado, mas dessa vez ele está correto quando afirma que não é exagero dizer que “Olavo de Carvalho foi o mais influente intelectual público da história recente do país”. A missão da vida de Olavo foi, como não cansava de repetir, “destruir a hegemonia cultural da esquerda”. Para isso, pretendia formar uma nova geração de lideranças e militantes de direita, criar no Brasil um amplo ambiente cultural de ideias conservadoras, transformar o mercado editorial e cultivar uma audiência de massas para a literatura anti-socialista. Em alguma medida, todos esses objetivos foram atingidos, e a própria existência do governo Bolsonaro, eleito na crista de um movimento de massas reacionário, é a prova empírica. 

É fácil fazer chacota das birutices de Olavo, como se tratasse de um fenômeno folclórico marginal. É bem mais difícil, no entanto, reconhecer que ele venceu, e que a força política hoje a frente do poder de Estado, o bolsonarismo, dificilmente existiria nesse formato sem sua influência. Trata-se, sem dúvida, de uma figura nefasta, mas surpreendentemente bem sucedida no que se propôs a fazer. E seu sucesso fez do Brasil um lugar pior.

O guru do bolsonarismo

Essa influência não é velada, ou escondida. No auge de sua ascendência, Olavo emplacava ministros e marcava a pauta do governo. Seu poder já não era mais o mesmo, mas o significado de Olavo para o clã Bolsonaro não pode ser subestimado. O presidente decreta luto oficial e se declara no twitter pesaroso com a perda do que chama de “um dos maiores pensadores da história do nosso país”. Bolsonaro chama Olavo de um “farol para milhões de brasileiros”, e embora possamos questionar para onde esse farol está iluminando, não há dúvida que milhões se sentiram de fato “iluminados” pelo discurso de Olavo.

Em uma entrevista para a Revista Eco-pós sobre “Guerras Culturais”, argumentei que as manifestações pelo impeachment da presidenta Dilma haviam produzido algo inédito desde a redemocratização: um movimento de massas de extrema direita militante, com uma visão missionária e o senso de uma tarefa política a ser cumprida – um movimento que, em larga medida, é “informado e instruído pela visão de mundo cultivada e disseminada por Olavo de Carvalho”. Como noto na entrevista:

“Trata-se de um quadro abrangente, coerente e ambicioso – e se é verdade que, visto de fora, parece absurdamente delirante, de dentro as coisas fazem sentido. De fato, esse é o paradigma que o bolsonarismo adotou.”

É uma versão de um argumento que havia feito anos antes, em uma palestra entitulada “Olavismo Cultural”. Não há como negar que existe hoje um movimento de massas conservador que fala uma linguagem olavista. A tese era que a estrutura cognitiva do movimento bolsonarista foi modelada pelo discurso do Olavo: os bolsonaristas, conscientes disso ou não, interpretam o mundo com a visão que o Olavo forneceu. João Cezar de Castro chama de um “sistema de crenças Olavo de Carvalho”. E como todo movimento político precisa de uma paradigma intelectual para experimentar o mundo e orientar a ação, a família Bolsonaro simplesmente não podia prescindir do Olavo. É isso que explica a reverência inédita que a família Bolsonaro expressa diante da morte do guru, que há não muitos dias atrás desferia críticas severas contra o governo. Isso não impede que Carlos Bolsonaro agora cante “eterna gratidão” ao professor, que teria feito “florescer em muitos de nós um sentimento de esperança”. Não me lembro de nenhuma outra homenagem que Jair Bolsonaro tenha feito a qualquer brasileiro vítima da COVID, mas “o professor” ganhou até foto em postagem no instagram, que, por sinal, já foi curtida por quase 600 mil pessoas.

A esquerda pode se achar muito ilustrada ao desprezar a importância intelectual de Olavo de Carvalho. Afinal, era só um astrólogo sem ensino fundamental completo. Mas foi ele, e não qualquer autor progressista, que vendeu centenas de milhares de livros. Já em 2015, impulsinado pelos protestos golpistas, O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota atingia a marca de 100 mil cópias vendidas – e hoje já vendeu mais de 300 mil exemplares. O Imbecil Coletivo, originalmente lançado em 1996 e republicado em 2018, ficou meses nas listas dos mais vendidos. E antes mesmo de ser um fenômeno editorial, Olavo já era um pioneiro na exploração do espaço digital. Talvez tenha sido efetivamente o primeiro a realizar um “trabalho de base virtual”, utilizando a internet para difundir sua obra, organizar cursos e formar discípulos. Seu canal no YouTube, criado ainda em 2007, hoje tem mais de um milhão de inscritos – contabilizando no total cerca de 70 milhões de visualizações.

Do comunismo ao tradicionalismo

Nascido em Campinas, interior de São Paulo, em 1947, Olavo era um adolescente quando assistiu horrorizado o golpe de 1964. Décadas depois, cortejaria os militares viúvos do regime declarando que nunca uma revolução comunista tinha sido evitada com tão poucas vítimas. Mas na época, o jovem Olavo era um crítico, com simpatias de esquerda, o que o acabou levando a se aproximar do comunismo. 

De 1966 a 1968 esteve na órbita do PCB, e até chegou a conviver com militantes como José Dirceu e Rui Falcão (que se tornariam importantes dirigentes do PT após a redemocratização), na famigerada Casa do Estudante no Centro Acadêmico IV de Agosto. Depois da ressaca de 1968, amargando um sentimento de derrota política, mergulhou de cabeça, como muitos ex-radicais de sua geração, na contracultura e no mundo esotérico. Tornou-se astrólogo, transitou entre seitas e grupos iniciáticos, se envolveu com vigaristas discípulos do místico aermênio Georgiǐ Ivanovič Gǐurdžiev e acabou ingressando na tariqa Maryamiyya, do sheik tradicionalista Frithjof Schuon. Figura controversa e flamante, o suiço Schuon havia sido seguidor de Rene Guenon antes de fundar sua própria organização, sediada primeiro em Lausanne e depois em Bloomington, Indiana, nos Estados Unidos. 

Convertido ao islamismo e rebatizado de “Sid Mohammad Ibrahim”, Olavo foi o braço direito de Martin Lings (um dos principais líderes da Maryamiyya) no Brasil. A tariqa de Schuon, que tinha entre seus membros o renomado acadêmico Seyyed Hossein Nasr (que chegou a ser o presidente da Academia Imperial Iraniana de Filosofia antes da revolução 1979), contava também com discípulos e simpatizantes entre a alta burguesia global, e se viu envolvida por escândalos sexuais no começo dos anos 1990. O poeta Peter Lamborn Wilson (mais conhecido como Hakim Bey, autor de Zonas Autônomas Temporárias) narra os infortúnios de Schuon e seu grupo no livro Sacred Drift: Essays on the Margins of Islam.

Olavo saiu do tradicionalismo, mas o tradicionalismo nunca saiu dele. Sua grande inovação intelectual foi articular a visão de mundo anti-iluminista e antimoderna do tradicionalismo de Guenon e Evola com as paranóias e ansiedades do paleo-conservadorismo norte-americano. Foi em uma publicação da seita política de Lydon LaRouche que apareceu pela primeira vez um artigo sobre “marxismo cultural”. Com o título “A Nova Era das Trevas: Escola de Frankfurt e o Politicamente Correto”, saiu na revista Fidelio em 1992. Das páginas do Fidelio de LaRouche o meme do “marxismo cultural” ganhou a cabeça dos paleo-conservadores, como William Lind e Pat Buchanan, e em seguida de toda a sorte de extremista de direita e antisemita (como David Duke e Anders Breviki), chegando ao Brasil pelas mãos do Olavo de Carvalho. A partir daí ganhou o cérebro dos dementes, com uma ajudinha da família Bolsonaro. Virou um dos termos cruciais do léxico da alt-right mundialmente, junto com globalismo, “genocídio branco” e “ideologia de gênero”. 

Olavo foi também um pioneiro na leitura de que a “nova esquerda” haveria adotada uma “estratégia gramsciana” de guerra cultural de posições e longa marcha no interior das instituições, que mais tarde se tornaria parte integrante do senso comum conservador dos movimentos populistas de direita.

Olavismo cultural

Ao listar as contribuições de Olavo de Carvalho para o pensamento da direita radical, Alvaro Bianchi destaca a adaptação do ideário tradicionalistas às condições brasileiras e a formação de um “intelectual coletivo” reacionário, a la Gramsci. A escolha da cultura como campo de luta política prioritária, expressa na fórmula repetida por agitadores bolsonaristas de que “a política está rio abaixo em relação a cultura”, e sua ênfase de que a reforma cultural é pré-condição do sucesso político aproxima Olavo justamente do autor marxista que mais demonizou: Antonio Gramsci. Não à toa, Bianchi termina por defini-lo como um “antigramsciano gramsciano”.

A caracterização não é despropositada. Já no livro Jardim das Aflições, de 1995, Olavo é claro:

“O hábito de olhar as manifestações culturais como um adorno supérfluo impede de enxergar as tremendas consequências práticas que as ideias filosóficas podem desencadear sobre a vida de milhões de pessoas que nunca ouviram falar delas e que, se ouvissem, não as compreenderiam.”

Seu talento para polêmicas e o inegável estilo na escrita certamente contribuíram para as tremendas consequências práticas que suas ideias tiveram, infelizmente, sobre a vida de milhões de brasileiros. Consequências desastrosas e até fatais, mas não por isso menos efetivas. 

Lábia ajuda, mas não é o bastante. Olavo desfrutou desde o princípio da simpatia, e dos favores, dos elementos mais perniciosos da nossa classe dominante. Na década de 1990 e começo dos anos 2000, Olavo de Carvalho foi publicado por vários jornais e revistas de grande circulação. Foi colunista do Estado de São Paulo, do Globo, da Folha e da Época. Por anos a fio escreveu no Diário do Comércio, publicação da Associação Comercial de São Paulo. Foi entrevistado por Pedro Bial, no Bom Dia Brasil da Globo, ainda em 1996. Bial, a propósito, é reincidente, entrevistando-o novamente, com ainda mais pompa, em 2019, com o desastre bolsonarista já em curso. Na ocasião, Bial expressou orgulho de ter promovido a primeira entrevista de Olavo na televisão, segundo suas palavras então “um novo e brilhante pensador da direita brasileira”. Em 1998 é a vez de Boris Casoy entrevistá-lo, para discutir se o comunismo era ainda uma “força atuante no mundo”.

Presença garantida em palestras no Clube Militar, paparicado por generais saudosistas da ditadura como Hamilton Mourão, Hélio Ibiapina (presidente do clube por quatro mandatos) e Sérgio Coutinho (autor do olavíssimo A Revolução Gramsciana no Ocidente, publicado em 2002, e reeditado pela Biblioteca do Exército em 2016), Olavo era também estrela recorrente de eventos como o Fórum da Liberdade, um convescote ultra-liberal financiado por plutocratas brasileiros.

O que faltava a Olavo era uma crise geral do Estado que desestabilizasse o sistema político e abrisse uma brecha para que novos atores entrassem em cena. Quando a classe proprietária resolveu se aproveitar da fraqueza do governo para se livrar do PT e esmagar a esquerda, a liderança de Bolsonaro na direita radical e o campo intelectual cultivado por Olavo se fundiram num só projeto, para o qual as manifestações a favor do impeachment forneceram a base social. Olavo é simultaneamente um beneficiário e um catalisador desse movimento conservador radicalizado, que garantiu uma audiência de massas para suas ideias, e que em troca recebeu das mãos de Olavo uma chave de interpretação, uma grade de leitura integral da história. É por essas lentes, confeccionadas no meio olavista, que a nova direita lê o mundo, por elas identifica as grandes tendências, assim como as tarefas a serem executadas.

Em 2015, as camisetas “Olavo tem razão” começam a aparecer nas ruas. Já não era mais um nicho obscuro no orkut. Conforme um pedaço, minoritário mas numeroso e cada vez mais ativo, da população brasileira desperta para a política e se descobre de direita, a linguagem olavista era a única que estava a disposição. E é nela que os novos militantes da reação articulam sua agenda. Sob influência de Olavo, a extrema direita ganhou confiança, assumiu a iniciativa e agarrou a oportunidade quando a viu passar. Diante do olhar incrédulo, surpreso e assustado da esquerda, em pouco tempo o improvável se converteu em fato consumado: os lunáticos bolsonaristas chegaram ao poder.

Aprender com os inimigos

Apesar de toda a denúncia da modernidade, o grande trunfo do Olavo foi saber se aproveitar das novas tecnologias de comunicação muito melhor do que qualquer agitador da esquerda. Há 20 anos, já era ativo em fóruns e discussões nos universos subterrâneos da internet. Talvez tenha sido um dos agentes políticos no Brasil que primeiro se atentou à importância da internet e trabalhou com essas novas ferramentas. No começo dos anos 2000, Olavo já tinha um site bem desenvolvido para a época, onde disponibilizava todos os artigos que publicava em jornais. Não demorou para organizar cursos online e logo começou a fazer podcast – duas plataformas de comunicação e formação que estouraram no Brasil apenas nos últimos anos. Foi o criador do blog Mídia Sem Máscara, a versão de direita do Centro de Mídia Independente, possivelmente a primeira plataforma on-line de jornalismo independente conservador.

Um artigo de meados dos anos 2000 me chamou a atenção: Olavo comentava relatórios da Rand Corporation para falar de “guerra assimétrica” e “guerra informática”. Citava inclusive o caso dos zapatistas no México como exemplo de cyberwar: “militarmente irrisória”, a guerrilha de Chiapas usava habilmente a internet para “transformar em vitória política cada nova derrota que sofria em combate”.

Olavo costumava se irritar e perder a paciência com a burrice de seus seguidores. Reclamava que a direita não entendia Karl Marx e não lia Lenin. Apesar de sua guerra teórica à “mentalidade revolucionária”, foi justamente da tradição revolucionária, de Gramsci aos zapatistas, que retirou suas lições estratégicas. Era um inimigo da humanidade e uma alma maligna, mas de uma coisa não se pode duvidar: levava a esquerda a sério, e se esforçava para aprender com ela.

De fato, é possível dizer que, por um tempo, Olavo levou a esquerda mais a sério do que a própria esquerda se levava. Quando os liberais comemoravam o fim da história, ele via no comunismo uma força histórica atuante. Olavo enxergava no movimento revolucionário um inimigo formidável, admirável até, que poderia parecer dormente no momento, mas que estava longe de ter sido inteiramente derrotado. 

Numa coisa Olavo tem razão

Concluo com uma nota pessoal. Quando me politizei, na virada do milênio, o movimento revolucionário parecia mesmo, para todos os efeitos, uma página virada da história. Era animador ler em Olavo uma imagem muito mais poderosa e vibrante do movimento revolucionário do que qualquer coisa que eu era capaz de enxergar na realidade. 

Olavo dizia que a cada geração o movimento revolucionário faz sua crítica da experiência passada e se reorganiza aprendendo lições, mas o que eu via era uma esquerda que havia perdido sua consciência histórica, incapaz de recordar e se conectar com sua herança. Olavo falava de uma “estratégia das tesouras”, com a coordenação estratégica entre a esquerda radical e a esquerda moderada, uma ideia que me parecia excelente, mas não conseguia ver sendo aplicada em canto algum. Mais velho, cheguei a participar de reuniões do Foro de São Paulo (em Montevideo e San Salvador), e só pude me decepcionar com a absoluta falta de dentes do que deveria ser um impiedoso esquema de poder continental comunista. 

A esquerda real era em tudo, e em todos os lugares, mais fraca, mais desorganizada e mais perdida do que nas fantasias de Olavo. Frente a impressionante máquina estratégica que povoava as paranoias olavistas, a esquerda realmente existente parecia patética e imprestável: sem visão, sem ambição, sem músculo organizativo. Mas em uma coisa Olavo tem de fato razão: o movimento socialista pode ser uma ameaça real. 

Podemos voltar a ser, de verdade, aquilo que somos hoje só nos pesadelos dos nossos inimigos. Para estarmos à altura do nosso tempo, vamos precisar de muito trabalho duro organizativo. Não há atalho, mas há um caminho: estar presente nas lutas, construir pacientemente de baixo para cima, capilarizar nossa ação, traçar um bom mapa da realidade e desenvolver soluções práticas para problemas reais. 

Podemos até aprender uma coisa ou outra com o próprio Olavo, em especial, a dar a devida importância a batalha das ideias. 

Afinal, como dizia um outro inimigo de classe, o economista neoliberal Milton Friedman, apenas uma crise produz mudança de verdade, mas “quando essa crise ocorre, as ações tomadas dependem das ideias circulando por aí”. Nossa responsabilidade agora é não só combater as ideias neofascistas que Olavo tanto se esforçou para espalhar por aí, mas também desenvolver nossas próprias boas ideias e mantê-las vivas, até que “o politicamente impossível se torne politicamente inevitável”.

Sobre os autores

é professor da Universidade Federal do ABC e diretor de desenvolvimento da Jacobin Brasil.

Cierre

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Published in América do Sul, Militarismo, Perfil, Política and Sociologia

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