Israel realizou dois ataques terroristas no Líbano semana passada, levando toda a região para cada vez mais perto da beira de uma guerra total. Essas são as ações de um estado desonesto e o resultado direto de um clima de total impunidade.
Milhares de pagers e rádios bidirecionais carregados com explosivos foram detonados em todo o Líbano na última terça e quarta-feira.
As explosões ocorreram em supermercados lotados, em estradas movimentadas e em casas, escolas e hospitais. O ataque mutilou mais de 3.000 pessoas e matou pelo menos 30, entre elas crianças.
“Israel não confirmou nem negou qualquer papel nas explosões”, relatou o New York Times, “mas 12 atuais e antigos oficiais de defesa e inteligência que foram informados sobre o ataque disseram que os israelenses estavam por trás dele, descrevendo a operação como complexa e demorada”.
Carros e apartamentos foram incendiados e os hospitais ficaram lotados com milhares de vítimas. Como os dispositivos em questão começaram a apitar repetidamente antes de explodir, muitas vítimas os seguravam perto do rosto quando detonaram, causando ferimentos horríveis.
Grande parte da mídia corporativa se maravilhou com a chamada “precisão” e “sofisticação” do ataque, enquadrando-a como uma operação destinada apenas a atingir membros do Hezbollah. Isso é visivelmente falso, pois vários civis foram feridos e mortos.
“Quando a região está à beira da guerra, empresas militares como a Lockheed Martin veem suas ações dispararem.”
O verdadeiro objetivo de Israel era claro: atiçar o medo e o pânico em massa entre toda uma população libanesa. Durante o segundo ataque na quarta-feira, explosões puderam ser ouvidas durante o funeral de quatro pessoas mortas no dia anterior. Relatos não confirmados indicaram que painéis solares e caixas eletrônicos detonaram durante os ataques também. Pessoas em todo o Líbano disseram que têm medo de usar qualquer dispositivo eletrônico.
Existe uma palavra para tudo isso: terrorismo.
A tentativa de Netanyahu de permanecer no poder
Os ataques terroristas realizados no Líbano são ações imprudentes que podem levar toda a região à guerra, com autoridades israelenses ameaçando uma invasão iminente do sul do país.
O genocídio de Israel em Gaza devastou sua própria economia e provocou protestos e condenações internacionais. No entanto, ainda é do interesse do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu continuar pressionando por uma guerra eterna. É por isso que ele tem descartado as negociações de cessar-fogo a todo momento, insistindo em condições impossíveis de se cumprir para que ele possa estender o genocídio em Gaza pelo maior tempo possível.
É também por isso que ele vem tentando arrastar toda a região para uma guerra mais ampla. Afinal, o governo israelense vem bombardeando o Líbano desde que o genocídio em Gaza começou. Isso incluiu vários ataques usando fósforo branco em áreas povoadas, uma clara violação do direito internacional. Em outubro, poucos dias após o início do genocídio, um ataque israelense no sul do Líbano matou um repórter da Reuters e feriu outros 6 jornalistas.
Netanyahu quer uma guerra eterna porque quer permanecer no poder. Sua coalizão de governo é fraca e provavelmente entrará em colapso quando o ataque genocida de Israel a Gaza terminar. Uma invasão do Líbano colocaria o Irã e a Síria na briga e expandiria o genocídio em Gaza para uma guerra multifrontal. Isso provavelmente manteria a coalizão de Netanyahu intacta — e evitaria seu iminente julgamento por corrupção.
A guerra significa mais armas para Israel — e mais dinheiro para as corporações dos EUA
Os EUA disseram que se opõem a mais essa “escalada” militar e apoiam uma “solução diplomática” para o conflito entre Israel e o Hezbollah. Independentemente do que as autoridades dos EUA afirmem, uma guerra israelense com o Líbano garantirá mais armas e financiamento militar dos EUA para Israel — e encherá os bolsos dos fabricantes de armas norte-americanos.
Quando a região está à beira da guerra, empresas militares como a Lockheed Martin veem suas ações dispararem. Isso porque eles fazem parte de uma indústria multibilionária com interesse nas “guerras eternas”.
Eis como funciona: os EUA enviam a Israel bilhões de dólares dos contribuintes que são usados para comprar armas no mercado de fabricantes de armas sediados nos EUA, que exercem enorme influência sobre a política externa e de defesa dos EUA e têm um impacto enorme na economia do país.
Israel depende de um fluxo constante de armas dos EUA para manter um “estado de guerra permanente”, incluindo sua ocupação militar de décadas sobre milhões de palestinos e quase um ano de genocídio em Gaza. Em troca do apoio militar e diplomático inabalável dos EUA, Israel atua como um pilar central do domínio dos EUA na região, protegendo os chamados “interesses de Washington”. Como os fabricantes de armas são influentes, os “interesses dos EUA” geralmente se alinham com os das empresas sediadas nos EUA que estão fazendo as bombas.
Israel é um Estado desonesto. Se continuar a ser recebido com impunidade, só haverá mais morte e destruição. A única maneira de acabar com o genocídio em Gaza e evitar uma guerra regional é o governo dos EUA parar de armar Israel e ponto final.
Sobre os autores
Madeleine Hall
é coordenadora editorial digital da Jewish Voice for Peace. Ela é mestre em estudos árabes pela Walsh School of Foreign Service da Universidade de Georgetown.