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(Reprodução Instagram)

Um tributo à camarada Nathalia Urban

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A revista Jacobina presta sua homenagem à militante socialista e jornalista internacionalista Nathalia Urban, que colaborou diversas vezes com este projeto, e apesar de ter partido tão jovem, deixou um enorme legado para o jornalismo e para as lutas anti-imperialistas.

A notícia devastadora da tragédia ocorrida com a nossa camarada e colaboradora Nathalia Urban, aos 36 anos, nos aturdiu no dia de ontem. Em tempos inglórios, de crise climática e guerras que se sucedem e se sobrepõem, o jornalismo brasileiro perdeu uma de suas mais corajosas, audaciosas e produtivas vozes — em uma partida tão repetina, precoce e injusta. Para honrar a memória de Nathália, lhe dedicamos este artigo, que não é um obituário, mas um tributo à sua obra.

Na revista Jacobina, Nathalia colaborou não só com inúmeros artigos e entrevistas — muitos dos quais reproduzidos em espanhol e em inglês — como, ainda, apresentando diversos episódios do projeto da TV Jacobina, o que incluiu entrevistas memoráveis com Juca Kfouri, Ladislau Dowbor, Txaí Suruí e Frei Beto, dentre outros, dividindo bancada com os editores desta publicação, este que vos escreve, Hugo Albuquerque, e Cauê Seignemartin Ameni. Seu autêntico internacionalismo, sem perder jamais a perspectiva anti-imperialista desde o Sul Global, e uma busca incansável pela verdade, produziu esse belíssimo material.

Com inúmeras participações em canais como Opera Mundi e Revista Fórum, Nathalia tinha presença fixa na TV 247, na bancada do Bom Dia 247, o jornal matutino do canal, além de sua participação no Veias Abertas, sobre política latino-americana, e no Globalistas, sobre política internacional em companhia do jornalista Brian Mier, além de participar do Mais à Esquerda com seu amigo Carlos Hortmann.

No 247, protagonizou momentos como participar da entrevista com o presidente Lula e o ex-ministro Celso Amorim, que lhe descreveu como “jovem impetuosa”, fazendo durante anos milhares de pessoas se sentirem abraçadas pelo seu afetuoso bordão “bom dia, boa tarde e boa noite“, alcançando pessoas de todo o mundo, em todos os fusos. Agora há pouco, o presidente Lula soltou uma nota de pesar pela partida, afirmando que “Nathalia deixa um vazio na comunicação e nos debates no Brasil, assim como na luta por um mundo mais justo”.

Dona de uma trajetória audaciosa, marcada pela perda precoce da mãe e depois a passagem de sua avó, que lhe apoiou na ida para o jornalismo; esse percurso incluiu passagens pela Universidade Federal da Paraíba, a PUC de São Paulo e a Universidade Católica de Santos. Mas Nathalia encontrou seu lugar no mundo na Escócia, depois de uma breve passagem por Londres, onde estava há uma década, se envolvendo com a luta por libertação nacional naquele país.

Na Escócia, Nathalia produziu, militou e se tornou parte das lutas locais, que não deixam de fazer parte de um constelação de outras batalhas por libertação nacional no entorno da Inglaterra e, por derivação, do mundo inteiro. Pioneira não só na Revolução Industrial e, por consequência, no capitalismo, a Inglaterra inventou na ilha da Grã-Bretanha a colonização moderna, o que inclui não só a exploração de sua classe trabalhadora como, ainda, a das nacionalidades em seu entorno.

As barbaridades perpetradas por escoceses, galeses e irlandeses prefiguraram o que o Império Britânico projetaria para o globo terrestre, quando estabeleceu “o império onde Sol nunca se põe”. Isso proporcionou uma perspectiva de primeira categoria para Nathália, convertida em uma anti-imperialista convicta e de raíz, capaz de unir diferentes mundos, como quando escreveu sobre as ligações da luta irlandesa com o Che.

Nos últimos tempos, além dos vínculos com as lutas do Reino Unido e da Pátria Grande, Nathalia esteve dedicada, em uma atividade quase ininterrupta, pela causa Palestina — transformando seus perfis nas redes sociais em verdadeiras máquinas de difusão de denúncias dos crimes cometidos por Israel. Isso lhe valeu uma boa dose de ataques e perseguições, o que não a fez arredar um pé da sua posição comprometida e corajosa. Mas não era fácil encarar tanta dor.

Nathalia seguiu a boa tradição do jornalismo socialista, cujo patrono é Karl Marx em pessoa, que une rigor crítico com a busca por uma verdade concreta, a qual não comporta concessões para a exploração dos seres humanos — nem pode fazer vistas grossas para a diferença entre oprimidos e opressores. Este legado de luta é o que motiva a existência de projetos como esta revista Jacobina e por isso nos fomos imensamente honrados com a presença dela por aqui.

Podemos dissertar longamente sobre como a mídia, e usuários de redes sociais, têm explorado como aves de rapina a passagem de Nathália. Mas o que importa — e se sobressaí — é como ela é amada pelo público que cativou por todos esses anos, enquanto jornalista das causas urgentes e impossíveis, camarada exemplar, amiga leal e lutadora incansável e carismática — das duras batalhas inclusive pessoais, como mulher latina imigrante da periferia na terra natal do capitalismo.

A partida de Nathalia nos ensina lições importantes sobre a necessidade de ampliarmos medidas de cuidado recíproco entre militantes e atentarmos especialmente sobre as mulheres militantes e imigrantes. Vivemos tempos catastróficos que exigem reforço redobrado de escuta e auxílio mútuo — não são tempos normais, os desafios são imensos e os riscos tremendos, nada disso pode ser ignorado ou tratado como de menor importância.

Poderíamos lamentar a perda precoce, mas preferimos celebrar a vida e a obra de Nathalia Urban. Em vez de chorar pelo fato de que morrem jovens aqueles que os deuses amam, ainda mais de forma trágica e por ora não esclarecida, preferimos declamar uns versos do poeta da Revolução, Maiakovsky, em O amor:

Talvez quem sabe um dia
Por uma alameda do zoológico
Ela também chegará


Ela que também amava os animais
Entrará sorridente assim como está
Na foto sobre a mesa


Ela é tão bonita
Ela é tão bonita
Que na certa
Eles a ressuscitarão
O século trinta vencerá
O coração destroçado já
Pelas mesquinharias

Sobre os autores

é publisher da Revista Jacobina, editor da Autonomia Literária, mestre em direito pela PUC-SP e advogado.

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Published in América do Sul, DESTAQUE, Imprensa, Notícia and Perfil

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