Após os acontecimento de quinta-feira passada em Amsterdã, muitos comentaristas estavam notavelmente desinteressados na verdade do que havia realmente acontecido. Os confrontos entre hooligans israelenses, torcedores holandeses e cidadãos locais, muitas vezes de minorias étnicas, se transformou rapidamente em um incidente internacional — e era óbvio o suficiente qual lado a maioria dos nossos líderes e mídia escolheria. A linguagem do “antirracismo” e “anti-semitismo” foi mobilizada para nos dizer quem era culpado e quem era bonzinho.
Joe Biden descreveu uma onda de “ataques antissemitas… ecoando momentos sombrios da história”. O rei holandês falou sobre como seu país falhou com os judeus “durante a Segunda Guerra Mundial”. A palavra “pogrom” se espalhou pela mídia, com a maioria dos veículos suprimindo fatos básicos sobre os acontecimentos.
A violência é ruim e não tem lugar dentro ou ao redor de um estádio de futebol. Felizmente, ninguém foi realmente “sequestrado”, como foi relatado inicialmente. Responder à provocação é frequentemente uma péssima ideia, e quaisquer casos de alguém sendo assediado por causa de sua nacionalidade ou religião devem ser examinados. Ainda assim, é difícil lembrar de uma ocasião semelhante em que hooligans apareceram procurando briga e depois são tratados como heróis. Foi isso que pelo menos várias centenas de torcedores do Maccabi Tel Aviv fizeram em Amsterdã.
Muitos passaram o último dia provocando brigas com pessoas que viam como muçulmanas, pedindo o assassinato coletivo de árabes, arrancando bandeiras da palestina e até protestando contra um minuto de silêncio pelas vítimas da enchente da semana passada em Valência, Espanha. Este último incidente, no estádio, foi transmitido ao vivo pela TV; toda a história foi amplamente documentada nas redes sociais bem antes de muitas das manchetes sensacionaistas e declarações políticas sérias.
“Os torcedores do Maccabi Tel Aviv mostraram aos telespectadores comuns e usuários das redes sociais quem eles realmente são.”
Muitos jornalistas ignoraram informações básicas sobre o que os torcedores israelenses fizeram em Amsterdã. Talvez isso tenha acontecido porque os hooligans estavam cantando a verdade e, consequentemente, revelaram o que realmente pensam sobre a guerra em Gaza, que os governos ocidentais apoiam e financiam.
Slogans como “Deixem as IDF [exército israelense] vencerem, fodam-se os árabes” não devem, neste momento, ser considerados piadas ou provocações extremistas. Esses slogans são a realidade do que Israel está fazendo e o que é apoiado pela maioria da sociedade israelense, exceto por uma corajosa minoria de críticos. Até mesmo uma figura como o ministro da defesa recentemente demitido Yoav Gallant — esta semana amplamente apresentado como um raro “moderado” no governo de Benjamin Netanyahu — rotulou os inimigos de Israel de “animais humanos” e insistiu que um “cerco completo” deveria cortar “eletricidade, combustível e comida” dos palestinos.
Um dos slogans mais vis cantados pelos torcedores do Maccabi Tel Aviv foi de que “não há escolas em Gaza, pois não há mais crianças”. Orgulhosa de sua intenção genocida, essa fala é parcialmente verdadeira. De acordo com a UNICEF, cerca de 625.000 crianças palestinas já passaram mais de um ano sem ir às aulas. Seiscentos e vinte e cinco mil. Quarenta e cinco mil alunos do primeiro ano, ou pelo menos crianças que deveriam estar no primeiro ano, não começaram o ano letivo em setembro; graças a Israel, milhares nunca começarão. Uma minoria de crianças está morta (pelo menos dezenas de milhares estão).
Mas Israel danificou ou destruiu cerca de 90% das escolas de Gaza. Com o bombardeio em massa de casas e a limpeza étnica de faixas inteiras de território, até mesmo os prédios que ainda estão de pé são usados pelos deslocados como um simples refúgio.
Nossos líderes políticos poderiam ter dedicado mais palavras a esse vasto e inconcebível sofrimento. Talvez os jornalistas que se apresentam como combatentes contra as “notícias falsas” e a “desinformação” pudessem ter pesquisado outras fontes além das contas governamentais do Twitter/X.
Mas a boa notícia é que menos pessoas estão comprando a narrativa israelense. Só na semana passada, 100 funcionários da BBC criticaram as reportagens tendenciosas e infundadas de seu próprio empregador por repetirem sem crítica as alegações israelenses sobre a guerra e desumanizarem os palestinos. Mesmo na Alemanha, cuja classe política está entre as mais extremas do mundo em seu apoio a Israel, mais cidadãos não confiam nas reportagens da mídia sobre a guerra.
Os torcedores do Maccabi Tel Aviv mostraram aos telespectadores comuns e usuários das redes sociais quem eles realmente são. Ouça-os e acredite neles.
Sobre os autores
é historiador do comunismo francês e italiano. Ele está atualmente escrevendo um livro sobre a crise da democracia italiana no período pós-Guerra Fria.