Baseado no livro Markets in the name of socialism: the left-wing origins of neoliberalism [Mercados em nome do socialismo: as origens do neoliberalismo na esquerda], de Johanna Bockman (Stanford University Press, 2011). Publicado originalmente na Radical History Review.
Os cientistas sociais têm explicado a virada rumo ao capitalismo neoliberal olhando não apenas para as classes econômicas que buscavam esta nova forma de capitalismo, mas também para as ideologias que estes grupos utilizam – tanto para imaginar essa nova forma quanto para convencer outros da sua necessidade e desejabilidade. [1] Dada a natureza econômica da ideologia neoliberal, aos economistas foi dado um lugar primordial como criadores e muitas vezes como propagadores da ideologia neoliberal. Alguns cientistas sociais argumentaram que economistas de direita como Milton Friedman e Friedrich von Hayek mobilizaram com sucesso think tanks, associações e departamentos de Economia de direita e converteram elaboradores de políticos públicas à sua visão de mundo de livre-mercado. [2] Outros têm defendido que os economistas tradicionais, de forma mais geral, intencionalmente ou não, têm disseminado políticas neoliberais por meio da sua teoria econômica neoclássica profissional, que funciona como uma espécie de cavalo de Tróia capitalista neoliberal. [3] Outro conjunto de trabalhos demonstra que economistas com formação neoclássica nos EUA têm conquistado posições poderosas em instituições financeiras internacionais, como o Banco Mundial e o FMI, que impuseram ideias neoliberais sobre países de todo o mundo e apoiaram a formação de defensores o neoliberalismo em todo o mundo. [4] Contudo, os estudiosos não têm compreendido adequadamente as ideias profissionais dos economistas da linha dominante.
A teoria econômica dominante tem uma ligação muito mais tênue não só com o neoliberalismo, mas até mesmo com o capitalismo, do que geralmente se pensa. Os economistas tradicionais assumem que os mercados livres, sob condições específicas, produzem resultados ótimos, ideais. Simultaneamente, e de maneira surpreendente, estes mesmos economistas assumem que um planejador central poderia teoricamente, embora não necessariamente na prática, também alcançar estes mesmos resultados otimizados. Consequentemente, os economistas tradicionais podem utilizar modelos matemáticos para testar várias políticas públicas, evitando a bagunça do mundo dos mercados. Dois fenómenos surpreendentes emergiram desta dualidade entre mercados competitivos e planejamento central no núcleo da economia neoclássica. Em primeiro lugar, uma vez que um Estado socialista centralizado e um mercado competitivo estão no cerne da economia neoclássica, economistas neoclássicos consideram uma série de socialismos – e não apenas o socialismo centralmente planificado – como sendo diretamente relevantes para o seu trabalho profissional. Não tentarei definir o socialismo, mas sim aceitar a diversidade de formas como os economistas o compreendem, incluindo tanto modelos abstratos (por exemplo, o comunismo sem Estado, socialismo de mercado, sistemas controlados pelos trabalhadores e planejamento estatal centralizado) quanto formas concretas (por exemplo, o socialismo de mercado húngaro, a autogestão dos trabalhadores na Iugoslávia e o socialismo estatal soviético). [5] Quer os economistas neoclássicos tenham ou não um interesse ou um compromisso político com o socialismo, estes vários socialismos, bem como os mercados, continuam sendo centrais para a prática da economia neoclássica. Em segundo lugar, desde o final do século XIX, economistas socialistas têm utilizado a economia neoclássica não apenas como uma forma de descrever ou prever a economia, mas também como modelos/projetos para futuras sociedades socialistas. Economistas críticos do autoritarismo criaram modelos alternativos democráticos e socialistas de mercado. O pensamento irreal e dualista da Guerra Fria, que dividia o mundo entre o capitalismo neoliberal e de livre mercado e o socialismo estatal soviético, continua a restringir a nossa compreensão da Economia profissional, do neoliberalismo e do que estava verdadeiramente em jogo em 1989.
Neste artigo, examino três eventos que criaram e reforçaram mal-entendidos sobre a economia neoclássica, o socialismo e o neoliberalismo. Estes acontecimentos são o debate sobre o cálculo socialista, as reformas econômicas no Leste Europeu socialista e a “queda do comunismo” no Leste Europeu em 1989. Começo com o desenvolvimento histórico das ideias econômicas neoclássicas através do debate sobre o cálculo socialista da década de 1930, revelando a utilização pelos economistas do Estado socialista como uma ferramenta metodológica e, mais tarde, como plano para vários socialismos. Em seguida, volto-me para os economistas do Leste Europeu que procuraram implementar reformas econômicas baseadas nestes modelos neoclássicos de socialismo, em diálogo com os seus colegas do Ocidente capitalista. Utilizo estas histórias para fornecer uma nova explicação dos debates econômicos em torno de 1989. Os políticos e os seus especialistas econômicos apresentaram uma utopia capitalista desconexa – de que livre do Estado e do Partido Comunista, o mercado iria finalmente prosperar – apoiada, nas suas mentes, por princípios da teoria econômica neoclássica. Contudo, neste período e anteriormente, os economistas não estavam lutando em nome do mercado ou do Estado, nem por alguma mistura keynesiana dos dois. Mais fundamentalmente, alguns grupos de economistas aceitaram ou mesmo promoveram instituições autoritárias como o Estado e grandes corporações, enquanto outros defenderam instituições socialistas democráticas como sendo necessárias para o funcionamento bem sucedido tanto do mercado quanto do planejamento. [6] Ao avançarmos para além das opiniões políticas dos economistas, para as suas ideias profissionais, obtemos uma melhor compreensão do neoliberalismo, do papel da economia neoclássica no seu surgimento e das alternativas que estavam simultaneamente presentes.
O debate do cálculo socialista
“Tal como a maioria dos professores de teoria econômica, descobri que vale a pena dedicar algum tempo ao estudo de qualquer problema específico em questão a partir do ponto de vista de um Estado socialista.”
— Fred M. Taylor, 1928, no discurso presidencial do encontro anual da Associação Econômica Americana.
Nos Estados Unidos e agora em todo o mundo, a economia neoclássica representa a corrente principal da disciplina. O que é economia neoclássica? William Stanley Jevons na Grã-Bretanha, Carl Menger na Áustria e Léon Walras na Suíça são geralmente creditados como tendo descoberto simultaneamente a economia neoclássica na década de 1870. [7] Os economistas neoclássicos se afastaram da visão clássica de que o valor dos bens é baseado nos custos objetivos de sua produção (teoria do valor-trabalho) rumo a visão neoclássica de que o valor é subjetivo ou percebido, que o agente individual – um indivíduo ou um empresa – julga a utilidade de certos bens ou serviços. Esta mudança para uma compreensão subjetiva do valor e dos preços na década de 1870 criou aquilo que ficou conhecido como a “Revolução Marginalista” porque os economistas neoclássicos começaram a estudar o comportamento dos agentes individuais nas margens, tais como a satisfação adicional que um consumidor obtém de cada acréscimo de unidade de consumo extra (ou marginal). [8] Embora nem todos os economistas neoclássicos usassem princípios matemáticos, tais compreensões marginais do comportamento econômico permitiram aos economistas aplicar cálculo, teoremas e metáforas do campo da Física para a área da economia, o que parecia prometer uma nova fundamentação científica baseada nas regularidades do mundo mecânico. [9] Os economistas neoclássicos também estudaram a maneira como os mercados coordenam os agentes de uma forma regular, permitindo assim aos economistas descrever e prever a ação coletiva. Estes economistas assumiram que os mercados (individualmente e coletivamente) têm pelo menos um estado de equilíbrio no qual os preços encorajariam a produção, distribuição e consumo mais eficientes. A teoria econômica neoclássica não foi imediatamente popular entre os economistas, mas já havia se tornado a linha dominante na época da Segunda Guerra Mundial. [10] Em suma, a economia neoclássica é caracterizada pelo estudo de agentes individuais, valores e preços subjetivos, cálculo marginal, ação coletiva através de mercados e equilíbrio de mercado.
Embora a centralidade dos indivíduos, mercados e preços possa sugerir uma perspectiva capitalista sobre a economia, na verdade o socialismo desempenha um papel central na teoria econômica neoclássica, como sugerido pelo Discurso Presidencial de 1928 da AEA de Fred M. Taylor. [11] Os relatos da história do pensamento econômico geralmente não reconhecem o papel do socialismo e dos socialistas na economia neoclássica, antes tendem a relegar o pensamento econômico socialista a capítulos ou seções separadas.[12] Os pesquisadores, no entanto, reconheceram um diálogo entre economistas e socialistas, o “debate do cálculo socialista”. Grande parte dos mal-entendidos sobre a teoria econômica surgiram das descaracterizações deste dito debate.
De acordo com a narrativa padrão, em 1922, o economista austríaco Ludwig von Mises teria publicado uma crítica devastadora ao socialismo, argumentando que uma economia sem dinheiro, mercados ou preços não permitiria o cálculo econômico racional e, portanto, o socialismo era impossível ou pelo menos fatalmente ineficiente. [13] Robert B. Ekelund Jr. e Robert F. Hébert iniciaram a sua história do debate sobre o cálculo socialista com o trabalho de Mises de 1922. Em 1936, sustenta esse relato, Oskar Lange respondeu a Mises com um modelo em que os planejadores definiam os preços iniciais através de cálculos neoclássicos e que depois permitiam que os preços se ajustassem através dos mercados. Para Lange, este sistema permitia o cálculo econômico racional e sugeria a possibilidade do socialismo. Em resposta a Lange, Friedrich von Hayek reafirmou depois o argumento de Mises: uma economia socialista não seria impossível, mas seria ineficiente. Ao longo das décadas, diferentes autores declararam a vitória para cada lado. [14]
O fato de Lange ter respondido pela primeira vez catorze anos depois de Mises ter disparado o seu salvo inicial deveria evocar algumas questões sobre a natureza deste “debate”. O tempo e acontecimentos históricos potencialmente significativos quase não desempenham nenhum papel na narrativa convencional sobre o debate. A narrativa apresenta o debate como sendo sobre o livre-mercado versus o planejamento centralizado, o que mistura a União Soviética, o socialismo, o planejamento central, o keynesianismo e quase qualquer forma de intervenção governamental na economia em um objeto amorfo em oposição ao objeto igualmente amorfo de um capitalismo de livre-mercado de alguma forma aliado a economistas (não-marxistas). Ativistas de direita têm usado o “debate do cálculo socialista” para fazer amplas reivindicações ideológicas sobre o socialismo, o capitalismo e até sobre a própria Economia em si. [15]
Na verdade, economistas de ambos os lados do debate – incluindo a Escola Austríaca naquele momento e, mais tarde, a Escola de Chicago – partilhavam a abordagem econômica neoclássica construída a partir de um modelo socialista. Para melhorar a nossa compreensão da economia neoclássica, removi intencionalmente o “debate do cálculo socialista” e o keynesianismo do seu lugar habitual no centro da história da economia, uma posição que cegou a maioria dos estudiosos da centralidade do socialismo para a economia neoclássica tal como praticada de Chicago a Moscou, de Cambridge a Belgrado. [16]
Economistas do século XIX e o socialismo
Tal como todos os fundadores da economia neoclássica, Léon Walras sustentava que a concorrência no livre-mercado produziria resultados económicos otimizados. Ele também se declarava socialista. Em 1874, Walras escreveu: “a produção num mercado regido pela livre concorrência é uma operação pela qual os serviços podem ser combinados e convertidos em produtos de tal natureza e em tais quantidades que proporcionem a maior satisfação possível das necessidades […] ”, a máxima utilidade no mínimo custo. [17] Para explicar por que a concorrência perfeita proporcionaria a máxima utilidade social, Walras criou uma das ferramentas neoclássicas mais importantes, o seu modelo de equilíbrio geral. O modelo de equilíbrio geral descreve uma economia inteira com uma série de equações matemáticas, mostrando como esta economia atinge e funciona em equilíbrio, o ponto onde a oferta e a procura estão perfeitamente equilibradas. Numa economia livremente competitiva, as empresas ou indivíduos se moveriam na direção de um preço de equilíbrio que equacione a oferta e a procura, um processo que Walras chamou de tâtonnement ou “tatear”. Curiosamente e de maneira importante para esta análise, Walras imaginava um leiloeiro mediando este processo, anunciando e alterando os preços para equilibrar a oferta e a procura. Idealmente, no modelo de Walras, um grande número de empresas competiria e seria forçada a aceitar os preços de equilíbrio do mercado (ou do leiloeiro) como algo dado e a tomar decisões de produção orientadas para o lucro com base nos custos mais baixos possíveis (custos marginais). Como resultado, estas empresas maximizariam a satisfação da sociedade e minimizariam os custos de produção.
O próprio Walras foi um grande defensor da livre concorrência e do socialismo: “eu me defino como socialista democrático porque vejo na escravidão, na servidão e no proletariado três fases empíricas de uma mesma questão, nomeadamente, a da propriedade e da taxação, ou da distribuição da riqueza social entre os homens na sociedade”. [18]
Walras se declarava socialista pelo menos desde no mínimo 1861, embora fosse um socialista bastante idiossincrático na época. [19] Para Walras, o socialismo forneceria as instituições necessárias para a livre concorrência e a justiça social. O socialismo, na opinião de Walras, implicaria na propriedade estatal da terra e dos recursos naturais e na abolição dos impostos sobre o rendimento. [20] Como proprietário das terras e dos recursos naturais, o Estado poderia então arrendá-los a muitos indivíduos e grupos, o que eliminaria os monopólios e, assim, permitiria a livre competição. O arrendamento de terras e de recursos naturais também proporcionaria receitas estatais suficientes para tornar desnecessário os impostos sobre o rendimento, permitindo ao trabalhador investir as suas poupanças e tornar-se “um proprietário ou capitalista ao mesmo tempo que continua a ser um trabalhador”. [21] As instituições socialistas – e não a intervenção estatal – defendidas por Walras permitiriam assim a realização da livre concorrência absoluta idealizada pela economia neoclássica. Para Walras, a livre concorrência também proporcionaria um meio neutro para conduzir trocas que maximizariam a satisfação social, mas não se tratava do laissez-faire, uma vez que ele defendia instituições socialistas. Aspectos matemáticos da economia neoclássica ajudariam a explicar esta economia competitiva e sugeririam as reformas necessárias para concretizá-la. [22] Para Walras, a concorrência perfeita, o socialismo, a economia neoclássica e a matemática não apenas se complementavam, mas, na verdade, tornavam possíveis umas às outras. Walras entendia o livre-mercado como sendo necessário para o socialismo e o socialismo como sendo necessário para o livre-mercado.
Durante o século XIX, a maioria dos economistas escreveu prolificamente sobre o socialismo e o comunismo – e, em contraste com Walras, frequentemente de forma bem negativa. A maioria dos manuais e livros didáticos de matérias de Economia continham extensas críticas ao socialismo. [23] Entretanto, tanto a economia acadêmica quanto o socialismo desenvolveram-se e se transformaram, num diálogo – muitas vezes controverso – entre si. [24] Em resposta às condenações pelos socialistas das severas desigualdades sociais, muitos economistas começaram a questionar o apoio tradicional da sua própria profissão ao capitalismo de laissez-faire. [25] Ainda que alguns possam ter se tornado politicamente simpáticos ao socialismo, os economistas neoclássicos não podiam concordar intelectualmente com o marxismo, principalmente devido ao compromisso de Marx com a teoria do valor-trabalho. [26] Dado que os economistas neoclássicos haviam construído sua teoria e sua identidade sobre uma crítica da teoria econômica clássica e da sua teoria do valor-trabalho, eles criticavam o socialismo marxista pela sua teoria clássica do valor-trabalho. Como resultado, mesmo que pudessem ter sido politicamente simpáticos, muitos economistas permaneceram intelectualmente em desacordo com o socialismo.
Os economistas neoclássicos entendiam a sua disciplina como sendo aplicável e necessária em qualquer sistema econômico, incluindo o socialismo. [27] Os críticos neoclássicos do socialismo, em particular, salientavam que os socialistas, especialmente aqueles que seguiam Karl Marx, não discutiam a natureza de uma futura economia socialista. [28] Como resultado, os socialistas previram incorretamente que uma economia socialista seria libertada de categorias econômicas – como preços, dinheiro, oferta e procura, e lucro – e das leis econômicas. Economistas neoclássicos que apoiavam as políticas de laissez-faire e criticavam o socialismo, que definiam como socialismo marxista, argumentavam que tanto as economias capitalistas quanto as socialistas partilhariam as mesmas leis econômicas e a mesma racionalidade econômica e, portanto, as tentativas de evitar estas leis apenas levariam a decepções. [29] Por exemplo, em 1902, o economista holandês N. G. Pierson escreveu: “espero demonstrar que é um erro acreditar […] que os esforços da economia teórica são desnecessários. Este ramo do conhecimento nunca pode ser negligenciado – nem mesmo no caso do socialismo ser levado à prática.” [30] Assim, para estes críticos, a economia neoclássica era universalmente aplicável a todos os sistemas económicos.
Ao mesmo tempo, o socialismo ajudou a desenvolver a teoria econômica neoclássica. Algumas das principais inovações na economia neoclássica vieram daqueles críticos do socialismo que, ao mesmo tempo, utilizaram um modelo abstrato de um Estado socialista como ferramenta metodológica. [31] Nas palavras de Hayek, “e até certo ponto, desde o início, os problemas de uma economia dirigida centralmente encontraram um lugar de destaque nas exposições da teoria econômica moderna”. [32] Para construir as suas teorias sobre o valor, o economista neoclássico da Escola Austríaca e crítico do socialismo Friedrich von Wieser usou um “Estado comunista”: “devemos pensar no Estado comunista como o Estado perfeito […] O valor natural será aquele que seria reconhecido por uma comunidade completamente orgânica e altamente racional.” [33] Wieser considerava este Estado comunista como sendo
um excelente auxílio para se compreender o que restaria da nossa economia atual se pudéssemos eliminar do pensamento a propriedade privada, bem como os problemas que são consequência da imperfeição humana. A maioria dos teóricos, especialmente os da escola clássica, fizeram tacitamente abstrações semelhantes. Em particular, o ponto de vista a partir do qual o preço se torna um julgamento social de valor equivale na realidade a um desrespeito por todas as diferenças individuais que emergem no poder de compra e que separam o preço do valor natural. Muitos teóricos escreveram portanto sobre a teoria do valor do comunismo sem terem consciência disso. [34]
Nesta economia idealizada sem propriedade privada ou desigualdade de rendimentos, as mercadorias teriam o seu “valor natural” e os preços seriam equivalentes ao seu valor natural. Tal como outros economistas neoclássicos, Wieser considerava o cálculo do valor como sendo idêntico no capitalismo e no socialismo. [35] De forma relacionada, outro economista da Escola Austríaca, Eugen von Böhm-Bawerk, gastou as primeiras cem páginas do seu livro sobre a teoria do capital discutindo uma comunidade com “uma única economia, guiada por uma vontade individual”. [36] Na mente do economista neoclássico, a economia planificada centralmente – uma economia “guiada por uma vontade individual” e sem propriedade privada – fornecia conhecimento aplicável a uma economia livremente competitiva. Embora estes economistas frequentemente se opusessem ao socialismo como um objetivo prático da política econômica, eles usavam o socialismo na forma de um planejador central como uma ferramenta para desenvolver a economia neoclássica. [37]
Em 1893, Vilfredo Pareto assumiu a cátedra de Léon Walras em economia política na Universidade de Lausanne, na Suíça. [38] Pareto e Enrico Barone, seu colega em Lausanne, demonstraram que o mercado e um planejador central eram, na prática, matematicamente idênticos. [39] No seu livro didático de economia política de 1896-97, Pareto, seguindo Walras, descreveu toda a economia competitiva como um conjunto de equações sobre oferta e procura, preços, e assim por diante. De acordo com o que mais tarde seria chamado de “otimalidade de Pareto”, “eficiência de Pareto” ou “Primeiro Teorema Fundamental do Bem-Estar”, o equilíbrio desta economia competitiva produziria o bem-estar social máximo, uma situação na qual seria impossível melhorar a condição de uma pessoa sem piorar a condição de outra. [40] Esta economia com eficiência de Pareto não é necessariamente justa e pode ser “perfeitamente nojenta”, como, por exemplo, numa sociedade escravista com eficiência de Pareto. [41] O chamado Segundo Teorema Fundamental do Bem-Estar afirma que deve haver uma realocação inicial de recursos através de transferências de um montante fixo de propriedades e recursos daqueles que se beneficiavam do equilíbrio do mercado para aqueles que não se beneficiavam antes de se permitir que o mercado operasse novamente. [42] Este Segundo Teorema Fundamental do Bem-Estar quase nunca chegou a ser realizado na vida real, mas implica que o mercado exige uma reorganização radical da riqueza para que possa ser eficiente e justo. Esta ideia econômica básica informou as políticas públicas pós-1989 na Europa Oriental.
Ao mesmo tempo, Pareto percebeu que um economista num “ministério da produção” de “um Estado socialista” poderia adotar os modelos matemáticos do mercado e, em vez de prever como um livre mercado poderia agir, o economista poderia resolver as equações e descobrir os melhores preços e quantidades, sem o mercado. [43] Pareto declarou que “ambos os sistemas não são diferentes na forma e levam ao mesmo ponto. Este resultado é extremamente notável.” [44] Enrico Barone apresentou outras contribuições matemáticas em 1908. [45] Pareto e Barone concordavam que resolver de verdade essas equações apresentaria imensas dificuldades práticas, mas, de acordo com a teoria econômica neoclássica, tal sistema socialista era no mínimo teoricamente possível. [46] Barone, no entanto, sugeriu que as equações fossem resolvidas “experimentalmente” em “uma escala muito ampla”, sugerindo que um Estado socialista poderia usar mercados em vez de um planejador central para alocar os recursos. [47] Enquanto Pareto e Barone desenvolveram um modelo matemático de mercado que poderia ser utilizado por um planejador central, Barone apresentou a ideia de que os socialistas poderiam ser capazes de usar o mercado competitivo para o socialismo.
Economistas neoclássicos sustentavam que o planejamento central poderia produzir os mesmos resultados que o mercado competitivo. Em vez de contrastar o mercado com o planejamento centralizado, os economistas neoclássicos usavam tanto o mercado quanto o planejamento central como ferramentas metodológicas para desenvolver o seu conhecimento profissional. Eles também acabaram desenvolvendo ferramentas para futuros socialistas.
A influência da Revolução Bolchevique
Os acontecimentos mundiais alteraram a discussão. A Revolução Bolchevique de 1917, bem como os governos socialistas do entreguerras na Áustria e na Alemanha, tornaram o socialismo uma possibilidade real. Nas explicações convencionais, Ludwig von Mises, da Escola Austríaca, teria iniciado neste momento o debate do cálculo socialista basicamente sobre se o socialismo seria possível (ou eficiente). [48] Descobri, no entanto, que, em face ao socialismo, Mises afirmou que a teoria econômica neoclássica e os mercados não eram universais, mas sim puramente capitalistas, rejeitando pressupostos centrais da sua própria disciplina. Em contraste com Mises, muitos outros economistas neoclássicos entendiam as suas ferramentas metodológicas como modelos para o socialismo. [49]
Otto Neurath, um aluno dos economistas neoclássicos da Escola Austríaca e do líder da Escola Histórica Alemã, Gustav Schmoller, seguiu esse caminho. No final de 1918, os governos austríaco e alemão criaram comissões de “socialização” (Sozialisierungs). [50] Os economistas debatiam sobre as implicações que a socialização da economia poderia trazer. [51] Neurath passara a década de 1910 desenvolvendo a “economia de guerra”, que ele acreditava que criaria o socialismo internacional. [52] Em 1919, ele apresentou ao efêmero Soviete Bávaro o seu modelo de “socialização plena”, uma economia socialista planificada, completamente centralizada e na qual não existiria o dinheiro. [53] Neurath defendia que esta economia funcionaria sem dinheiro ou mercados e que, portanto, seria planejada administrativamente em espécie. Este modelo de fato assemelhava-se muito ao “Estado comunista” do economista da Escola Austríaca Friedrich von Wieser. O Soviete da Baviera contratou Neurath para implementar o seu plano, mas o Soviete terminou antes que ele pudesse fazê-lo plenamente. [54] Chegando a Viena em 1919, após a sua participação no Comissariado do Povo para a Produção Social na República Soviética Húngara, [55] Karl Polanyi reconheceu de forma semelhante que apenas a economia neoclássica forneceria um modelo para uma economia sem mercado:
Marx de fato criou uma teoria da economia capitalista; contudo, ele evitou conscientemente mencionar uma teoria da economia socialista. A única teoria de uma economia sem mercado que temos à nossa disposição originou-se da escola marginalista e, na verdade, como a teoria de uma economia fechada. Por mais paradoxal que possa parecer a muitos ouvidos, uma economia administrada pelos comunistas só poderia recorrer a esta escola para fundar a sua própria economia teórica. [56]
Neurath apenas transformou o “estado comunista” de Wieser de uma ferramenta metodológica num modelo para o socialismo. [57] Embora popular entre os conselhos de trabalhadores, o seu modelo provocou críticas gerais por parte de economistas socialistas e anti-socialistas.
Socialistas alemães e austríacos, incluindo Karl Kautsky e muitos outros, criticaram o modelo de Neurath. [58] Em geral, Kautsky e outros social-democratas rejeitavam a autoridade estatal, uma vez que o Estado seria um instrumento da opressão de classe. [59] Muitos economistas socialistas partilhavam desta perspectiva e desenvolveram modelos de socialização estatal não-centralizada, indo assim para além das opções políticas simplistas de mercado ou planejamento.
Estes economistas neoclássicos defendiam a propriedade socializada, associações geridas democraticamente e, mais tarde, mercados. Segundo Eduard Heimann, em 1921, os proponentes da socialização buscavam superar “o antagonismo dos produtores e consumidores. . . confiando a representantes dos produtores e dos consumidores a gestão em comum da economia, especialmente a fixação dos preços. . . . Apenas Neurath é uma exceção.” [60] Polanyi também não apoiava um Estado centralizado ou as opiniões de tais “liberais econômicos” como Mises e Hayek, mas antes entendia os mercados e a economia neoclássica, juntamente com instituições democráticas descentralizadas dos trabalhadores, como um programa econômico positivo para o socialismo. [61] No início da década de 1930, “socialistas de mercado” sugeriam que as empresas socialistas poderiam competir em mercados. [62] Franz Oppenheimer, por exemplo, defendia comunas econômicas que competiriam em um livre mercado. [63] Como resultado, os socialistas de mercado criaram um novo modelo neoclássico de socialismo, o socialismo de mercado, que ultrapassava um Estado central autoritário através de um modelo que melhorava a social-democracia com instituições econômicas e políticas radicais.
A maioria das explicações convencionais do debate sobre o cálculo socialista baseiam-se no relato de Hayek sobre o debate que ele apresentou na Áustria e na Alemanha em 1935. [64] Hayek fez de Mises o centro do debate, quando na verdade ele foi apenas um participante importante entre muitos. A maioria dos socialistas do final do século XIX e início do século XX assumia que uma sociedade socialista utilizaria o dinheiro, no mínimo para os consumidores. [65] Os economistas neoclássicos há muito assumiam a necessidade de preços numa economia socialista, então Mises não trouxe nenhuma grande revelação nesse ponto. Suas afirmações mais controversas eram sobre o pensamento econômico neoclássico e os mercados. Em vez de argumentar que o capitalismo e o socialismo partilhavam leis econômicas comuns que não podiam ser evitadas, como fizeram outros economistas neoclássicos anteriormente, Mises declarou que “o socialismo é a abolição da economia racional”. [66] Portanto, a teoria econômica neoclássica só poderia ser aplicada ao capitalismo. Concordando com Neurath, Mises entendia a economia socialista como sendo a erradicação da propriedade privada e dos preços de mercado, que seriam substituídos por trocas em espécie centralmente planejadas. Para Mises, Neurath não entendia as dificuldades envolvidas. [67] Sem mercados, propriedade privada e preços de mercado, seria impossível decidir racionalmente como agir na economia. Mises, portanto, também considerava o socialismo e os mercados como categorias mutuamente excludentes. [68] Portanto, de acordo com Mises, o socialismo – entendido como sendo uma economia centralmente planificada – era impossível. A sua rejeição em universalidade representou uma ruptura com a teoria econômica neoclássica tanto quanto era uma crítica ao socialismo.
O principal alvo das críticas de Mises na década de 1920 eram os marxistas que entendiam o socialismo como planejamento central autoritário e propriedade estatal dos meios de produção. Ao mesmo tempo, de acordo com um economista posterior da Escola Austríaca, Don Lavoie, Mises pensava que os socialistas de mercado, com o seu uso da teoria econômica neoclássica e as críticas ao planejamento central marxista, eram seus aliados “contra a ameaça do ressurgimento da teoria clássica do valor no forma de marxismo.” [69] Para Mises e outros economistas da Escola Austríaca, “é preciso admitir que hoje só existe uma teoria econômica”, que era a teoria marginalista. [70] Mises e os socialistas de mercado partilhavam a sua Economia neoclássica, mas discordavam politicamente – especialmente no que diz respeito à defesa de Mises da propriedade privada e do capitalismo – e profissionalmente. [71] Mises só percebeu mais tarde que compartilhava mais com os marxistas do que com os socialistas de mercado, porque os marxistas também entendiam o capitalismo e o socialismo como sendo fundamentalmente diferentes. [72] Mises em breve se afastaria da teoria econômica neoclássica e se voltaria para questões filosóficas.
O novo socialismo na Grã-Bretanha
Na década de 1930, o “novo socialismo”, baseado na teoria econômica neoclássica e nos mercados tornou-se imensamente popular na Grã-Bretanha e nos EUA. [73] Este socialismo de base neoclássica aterrissou na Escola de Economia de Londres (London School of Economics, ou LSE), fundada em 1895 por socialistas fabianos. [74] Há muito eles criticavam a economia ortodoxa clássica e apoiavam escolas çeconômicas alternativas. Na década de 1890, os socialistas fabianos já abraçavam a economia neoclássica, como observou Friedrich Engels: “terrivelmente, os Jevons-Mengerianos prevalecem na Sociedade Fabiana e olham com desprezo o há muito desatualizado Marx.” [75] Chegando como membro do corpo docente em 1926, John Hicks ajudou a desencadear um renascimento da economia neoclássica walrasiana e paretiana. [76] Em 1929 e 1930, respectivamente, Lionel Robbins e Arnold Plant, ambos críticos do socialismo e defensores da economia neoclássica austríaca, começaram a lecionar na LSE. Eles trouxeram consigo as ideias de Mises e os debates neoclássicos austríacos e alemães sobre o socialismo. Estudantes e professores socialistas – como Evan Durbin, Abba Lerner e Oskar Lange – estudaram com estes anti-socialistas para aprenderem os trabalhos mais avançados em teoria econômica neoclássica, que eles próprios usaram para criar modelos para o socialismo de mercado. [77] De acordo com vários relatos, em seu entusiasmo, Abba Lerner viajou até à Cidade do México para convencer Leon Trotsky de que este novo socialismo de mercado de base neoclássica ajudaria a União Soviética. [78] A LSE tornou-se um centro do socialismo de mercado neoclássico na década de 1930.
Em 1931, o principal membro da Escola Austríaca de Economia Neoclássica, Friedrich von Hayek, chegou à LSE e, segundo Peter Boettke, foi “pego de surpresa” pelos estudantes da LSE. [79] Emergindo dos debates em Viena sobre o planejamento centralizado versus mercado, Hayek encontrou os estudantes socialistas da LSE defendendo mercados livres e o socialismo, o que soava familiar aos socialistas de mercado alemães contemporâneos. Em resposta à adesão deles ao socialismo de mercado, Hayek re-embalou os debates mais antigos da Europa Central para o seu novo público em um volume de leituras intitulado Planejamento Econômico Coletivista. Nesse processo, Hayek criou a interpretação predominante do debate sobre o cálculo socialista e forneceu uma estratégia para grupos de direita e libertários para várias décadas por vir. No volume, ele publicou as críticas ao socialismo feitas por Ludwig von Mises em 1920, por N. G. Pierson em 1902, por George Halm e por ele mesmo, bem como o modelo matemático do socialismo de Enrico Barone de 1908. Ao reunir essas obras de diferentes períodos do debate socialista, Hayek tirou essas obras de seu contexto histórico e dos debates históricos dos quais elas emergiram. Dessa maneira, ele des-historicizou o socialismo e o definiu como sendo propriedade estatal e planejamento central de todos os recursos materiais produtivos. [80] Hayek portanto abraçou a nítida distinção de Mises entre socialismo e mercado.
Durante a década de 1930, muitos economistas neoclássicos chegaram à conclusão de que o socialismo, na verdade, forneceria as instituições necessárias para a realização da concorrência de mercado perfeita, tal como imaginada pelos economistas neoclássicos. O socialista e economista britânico H. D. Dickinson escreveu: “Os belos sistemas de equilíbrio económico descritos por Böhm-Bawerk, Wieser, Marshall e Cassel não são descrições da sociedade tal como ela é, mas visões proféticas de uma economia socialista do futuro”. [81] Para Oskar Lange, apenas um sistema socialista poderia alcançar a livre-concorrência, tal como descrita pelos economistas, e poderia maximizar o bem-estar social, porque eliminaria a propriedade privada nas áreas que carecem de concorrência e, assim, removeria os obstáculos à livre concorrência. [82] Lange pouco depois mudou-se para os Estados Unidos e começou a ensinar economia neoclássica na Universidade de Chicago. [83] Ele e o ex-presidente da AEA Fred M. Taylor – que, conforme citado no início desta seção, achava que valia a pena estudar qualquer problema “do ponto de vista de um Estado socialista” – publicaram então seus famosos artigos Sobre a Teoria Econômica do Socialismo. Em “A Cautious Case for Socialism” (“Uma defesa cautelosa do socialismo”), Kenneth Arrow, um economista neoclássico estadunidense que futuramente seria laureado com o “Nobel de Economia”, relembrou o tempo que passou na Universidade de Columbia no início da década de 1940: “o socialismo era a forma como o mercado ideal deveria ser alcançado. Esta doutrina era defendida por muitos.” [84] Economistas socialistas na Áustria, Grã-Bretanha, Alemanha e Estados Unidos concordavam nessa época que as instituições socialistas fariam com que a realidade econômica se aproximasse dos modelos neoclássicos.
A partir do século XIX, os economistas neoclássicos assumiram que mercados competitivos proporcionavam resultados ótimos. Eles logo provariam que um planejador central poderia fornecer os mesmos resultados ideais. Os economistas neoclássicos começaram a utilizar um Estado socialista como ferramenta metodológica para desenvolver o seu conhecimento profissional. Os novos governos socialistas na Áustria, na Alemanha e na União Soviética fizeram com que alguns economistas neoclássicos repensassem as suas ferramentas metodológicas como modelos/planos para o socialismo. Em resposta, o líder da Escola Austríaca, Ludwig von Mises, argumentou que um Estado socialista não seria capaz de realizar cálculos racionais e que, portanto, a Economia e os mercados neoclássicos não se aplicavam a um Estado socialista, uma mudança radical no pensamento neoclássico. Mises defendeu, em oposição, a propriedade privada e o capitalismo. Economistas social-democratas desenvolveram então um novo modelo neoclássico de socialismo de mercado, que incluía a democracia dos trabalhadores e um mercado competitivo, como uma alternativa ao Estado socialista e como um passo para mais perto do comunismo sem Estado. Essas ideias viajaram para a Grã-Bretanha e para os Estados Unidos na década de 1930. Ao longo dessa década, Mises, Hayek e outros economistas conservadores da Escola Austríaca começaram a rejeitar a teoria econômica neoclássica, pelo menos em parte, devido ao apoio dela aos mercados e ao socialismo, e voltaram-se para discussões filosóficas. [85] Ao mesmo tempo, vários socialismos – reais e teóricos – forneceram aos economistas os meios para desenvolver as suas teorias e métodos, e a teoria econômica neoclássica forneceu aos socialistas modelos para o socialismo.
A trajetória do Leste Europeu
No prefácio russo ao seu livro Teoria Econômica da Classe Ociosa, um dos líderes do Partido Comunista Soviético, Nikolai Bukharin, relembrou os seus anos de exílio na década de 1910:
Fui para Viena depois de ter sucesso na minha fuga da Sibéria; ali assisti às palestras do professor Böhm-Bawerk (1851–1914), da Universidade de Viena. Na biblioteca da Universidade de Viena, examinei a literatura dos teóricos Austríacos. Não me foi permitido, contudo, terminar este trabalho em Viena, uma vez que o governo austríaco me aprisionou em uma fortaleza […] Na Suíça, para onde me dirigi após a minha deportação da Áustria, tive a oportunidade de estudar a Escola de Lausanne (Walras), bem como os economistas mais antigos, na biblioteca da Universidade de Lausanne, e assim pude rastrear as traços da teoria da utilidade marginal até às suas raízes. Em Lausanne também realizei um estudo exaustivo dos economistas anglo-americanos […] Depois de chegar aos Estados Unidos, pude estudar de maneira ainda mais aprofundada a literatura econômica americana na Biblioteca Pública de Nova Iorque.
Bukharin estudou a economia neoclássica tão de perto porque ela fornecia alguns dos modelos e ferramentas mais importantes para o socialismo, aos quais ele planejava realizar “uma crítica sistemática”. Ele rejeitou especificamente a escola marginalista Austríaca como sendo “burguesa” e “o oponente mais poderoso do marxismo”. [86]
Em geral, a liderança do Partido Comunista Soviético condenava a teoria econômica neoclássica como sendo burguesa e apoiava a economia política marxista. Ao mesmo tempo, os economistas soviéticos utilizavam a economia matemática neoclássica nos bastidores da União Soviética. [87] Eles limitaram-se a criar modelos de planejamento otimizado na produção e nas forças armadas, ao invés de explorar publicamente a democracia econômica radical. No final dos anos 1930 e na década de 1940, Leonid Kantorovich, por exemplo, aplicou ideias neoclássicas aos problemas de produção na indústria de compensados de madeira, bem como aos problemas do corte de metal para tanques e do posicionamento de campos de mineração. [88] Em 1961, mais de quarenta instituições conduziam pesquisas sobre economia matemática. [89] Em 1975, Kantorovich, juntamente com um economista americano, ganhou o “Prémio Nobel” em ciências económicas, o Prêmio Sverige Riksbank em Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel. Na União Soviética, a economia neoclássica tendia para modelos de planejamento otimizado incorporados no interior de instituições hierárquicas e autoritárias que sustentavam o poder dos líderes políticos soviéticos. [90]
Os economistas do Leste Europeu levariam a economia neoclássica em direções mais democráticas do que os seus homólogos da União Soviética. Eles reviveram projetos neoclássicos de socialismo de mercado, sobretudo na Polônia, onde Oskar Lange regressou para trabalhar, na Hungria, com as suas reformas de mercado em 1968, e na Iugoslávia, com o seu socialismo de autogestão dos trabalhadores e baseado no mercado. A teoria econômica neoclássica fornecia uma linguagem tanto para o planejamento centralizado quanto para os socialismos descentralizados alternativos. O caso da economia iugoslava ilustra estes pontos.
O caso da teoria econômica na Iugoslávia
Em 1948, a liderança soviética expulsou a Iugoslávia do Cominform, a organização dominada pelos soviéticos que unia os partidos comunistas do Bloco do Leste. Buscando trilhar um novo caminho, os líderes iugoslavos em breve rejeitaram o sistema soviético e desenvolveram um novo tipo de socialismo, que eles entendiam que exigiria o desaparecimento imediato do Estado como sendo o próximo passo no caminho para o comunismo. [91] Esta nova forma de socialismo visava descentralizar o Estado e a economia, criar uma democracia econômica baseada nos trabalhadores, se afastar da propriedade estatal dos meios de produção para a sua propriedade “social” e expandir o papel do mercado na economia. [92] Um observador de longa data da Iugoslávia chamou o sistema de “socialismo laissez-faire”, [93] embora estes planos para o futuro refletissem as intenções e não a realidade do novo sistema.
Um dos principais especialistas econômicos iugoslavos, Boris Kidric, e outros entendiam o mercado como uma ferramenta socialista durante a transição para o comunismo sem Estado. [94] De acordo com Kidric, nesta transição, o planejamento centralizado seria transformado num planejamento apenas das proporções da economia, deixando as empresas para operar alinhadas a essas proporções e com “a lei da oferta e da procura”. [95] Nas palavras do vice-presidente iugoslavo, Edvard Kardelj, em 1954, as empresas, “por meio da livre-concorrência com outras empresas no mercado”, ficariam interessadas em alcançar “os melhores resultados no que diz respeito à qualidade e quantidade de bens, custos de produção mais baixos e bom marketing.” [96] O mercado, outra forma de descentralização, substituiria a intervenção estatal na economia. Já em 1950, o governo iugoslavo tinha convertido muitos preços fixos em preços de mercado. [97] Com o tempo, novas leis tornaram as empresas mais autônomas. Na década de 1960, os Iugoslavos aboliriam o planejamento centralizado de estilo soviético, permitiriam o investimento orientado pelas empresas e abririam a sua economia para o mercado mundial. [98] Embora a liderança mais tarde mudasse o sistema, o modelo iugoslavo baseava-se originalmente na descentralização, na autogestão do trabalho, em mercados e na propriedade social dos meios de produção.
Economistas iugoslavos logo reconheceram o grande e “acrítico” interesse dos seus colegas nas teorias econômicas burguesas ocidentais. [99] Eles consideravam a economia neoclássica, especialmente os métodos quantitativos e a teoria dos preços, altamente relevantes para a criação do socialismo iugoslavo. [100] Os economistas iugoslavos aprendiam sobre a economia neoclássica através da leitura de periódicos e livros iugoslavos e de outros países da Europa de Leste, participando em conferências internacionais e, em menos casos, estudando no estrangeiro. Para desenvolver especialistas para o novo sistema, o governo iugoslavo enviou acadêmicos e pesquisadores aos países ocidentais – especialmente Grã-Bretanha, França, Itália, Suíça e Estados Unidos – para treinamento especializado a partir de 1952. [101] O governo iugoslavo também continuou enviando especialistas à União Soviética e aos países da Europa Oriental para formação.
Depois de conhecer Oskar Lange e “discutir com ele alguns problemas teóricos do mercado em uma economia planejada socialista” em 1955, [102] e de estudar na LSE em 1958, o professor de economia política da Universidade de Belgrado, Ivan Maksimović, publicou um dos primeiros livros iugoslavos inteiramente dedicados à teoria econômica “burguesa” – isto é, neoclássica. Em The Economic Theory of Socialism in Bourgeois Economic Science (“A teoria econômica do socialismo na ciência econômica burguesa”), Maksimovic demonstrou que tinha um extensivo conhecimento da literatura ocidental sobre o socialismo de base neoclássica e sobre a economia neoclássica ocidental de forma mais ampla. [103] Ele discutiu centenas de trabalhos de economistas ocidentais. Em oposição às teorias da Escola Austríaca – que ele considerava principalmente como sendo de interesse histórico, uma vez que, pelo menos na sua opinião, a Escola Austríaca havia perdido o debate do cálculo socialista -, Maksimovic entendia a economia neoclássica como um potencial modelo normativo para o socialismo, já que este “pensamento econômico burguês” não era, de fato, necessariamente sobre o capitalismo:
Os membros das escolas Austríaca e de Lausanne utilizaram o método de dedução das leis econômicas gerais a partir do comportamento econômico do sujeito econômico individual, o homo economicus. Portanto, era quase natural que chegassem à conclusão de que nessas “leis” obtidas não havia nada especificamente capitalista. As leis que foram formuladas na teoria do valor subjetivo e na teoria do preço e do mecanismo de troca (condições de equilíbrio “subjetivas” e “objetivas”) tinham pouca ou nenhuma ligação direta com o quadro social e institucional da economia capitalista. [104]
De acordo com Maksimovic, a teoria econômica burguesa fornecia as ferramentas para determinar a escala ótima da produção, os preços ótimos e o nível máximo de bem-estar social, o que forneceriam então princípios normativos para a política econômica socialista. Ainda que ele tenha expressado algumas reservas sobre isso, Maksimovic defendia o uso da economia neoclássica dentro do socialismo existente.
Depois de terminar o seu doutorado na Universidade de Manchester, um dos principais pesquisadores do Gabinete Federal de Planejamento Econômico -e que em breve alcançaria renome mundial -, o economista iugoslavo Branko Horvat considerava a economia neoclássica muito mais útil do que o marxismo para o socialismo. No seu livro Economic Theory of a Planned Society (Teoria Econômica de uma Sociedade Planificada), publicado em servo-croata em 1961 e depois em inglês em 1964, Horvat afirmou que categorias marxistas como a teoria do valor-trabalho aplicavam-se apenas ao capitalismo e não tinham lugar numa teoria do socialismo:
Todo o aparato conceitual, desenvolvido para lidar com uma situação essencialmente diferente, torna-se inaplicável. Se for para a economia socialista ter uma teoria do valor, deverá ser uma teoria diferente. Uma tentativa de utilizar categorias marxistas fora do contexto da economia política capitalista demonstraria uma completa mal-compreensão da sua teoria […] A adequação da teoria marxista do valor ao sistema capitalista não nos preocupa aqui e, como acabamos de ver, não se destina a ser aplicada e nem é aplicável a uma economia socialista. [105]
Horvat e seus colegas reconheciam que o marxismo era principalmente uma crítica ao capitalismo, e não um modelo para o socialismo. Horvat referia-se a muitos dos autores já mencionados anteriormente, H. D. Dickinson, Friedrich von Hayek, Oskar Lange, Abba Lerner e Ludwig von Mises, mostrando suas conexões com suas ideias. A economia neoclássica forneceu a Horvat e aoutros um conjunto de ferramentas para melhorar o socialismo.
Na década de 1960, as universidades iugoslavas tinham tornado a microeconomia neoclássica uma parte padrão do seu currículo de Economia. [106] Economistas iugoslavos com formação neoclássica logo publicaram seus próprios livros didáticos. Por exemplo, Mercados e Preços, de 1966, de France Cerne, era basicamente um manual padrão de introdução à Economia no estilo ocidental. [107] Tal como acontece com os livros introdutórios americanos, Mercados e Preços continha gráficos e explicações de curvas de oferta e demanda, elasticidade, curvas de indiferença e custos de oportunidade. Cerne terminou seu livro com uma discussão sobre a literatura neoclássica ocidental sobre o socialismo. Ele observou que os economistas neoclássicos ocidentais consideravam o capitalismo com a sua estrutura monopolista como sendo incapaz de realizar a plena concorrência e, portanto, incapaz de fornecer o máximo bem-estar social. Mas ele também criticava esses economistas por acreditarem que um Estado socialista poderia concretizar melhor esta plena concorrência. Em vez do Estado socialista, Cerne afirmava que os preços deveriam ser formados livremente num mercado, como no “sistema capitalista de concorrência completa” e nas teorias de concorrência completa dos economistas. [108] Cerne seguia o trabalho de outros economistas iugoslavos ao argumentar contra o socialismo estatal e a favor da superioridade de empresas independentes e autogeridas pelos trabalhadores, interagindo num mercado totalmente competitivo, uma espécie de socialismo de mercado.
Está claro que nem todos os economistas iugoslavos praticavam ou sequer conheciam a economia neoclássica. Alguns economistas continuaram a praticar a economia política marxista à maneira soviética. Muitos economistas tinham dificuldade para ler os principais periódicos económicos internacionais e concentravam-se principalmente em examinar empiricamente o seu próprio sistema, sem os métodos da economia neoclássica. Alguns economistas e líderes políticos continuaram a atacar os economistas neoclássicos pelas suas ideias e práticas. [109] Apesar disso, grupos de economistas na Iugoslávia rapidamente identificaram o potencial socialista na economia neoclássica. Começaram a ler textos neoclássicos, estudaram no estrangeiro, reuniram-se com os seus homólogos ocidentais e contribuíram para uma discussão neoclássica transnacional.
Debates neoclássicos no Leste Europeu
Os iugoslavos não trabalhavam em isolamento. Os economistas iugoslavos e de outros países do Leste Europeu discutiam entre si a economia neoclássica e as suas aplicações tanto para o socialismo centralmente planejado quanto para o socialismo de mercado. Contribuições particularmente importantes para esta discussão internacional incluíram as do húngaro János Kornai, de 1957, em Overcentralization in Economic Administration (“Sobre-centralização e administração econômica”), as do checoslovaco Ota Šik, de 1967, em Plan and Market under Socialism (“Plano e mercado no socialismo”), e as de Pole Włodzimierz Brus, de 1961, em The General Problems of the Functioning of the Socialist Economy (“Os problemas gerais do funcionamento da economia socialista”). [110] Na sua obra, Brus declarou: “agora mais do que nunca, é necessário que estudemos os escritos ocidentais sobre planejamento econômico, especialmente porque nos preocupamos com muitos problemas do funcionamento de uma economia socialista com os quais não havíamos lidado até agora.” [111] O livro explicava as ideias econômicas soviéticas da década de 1920, a discussão econômica neoclássica dos anos 1930 sobre o socialismo, o “rico material” sobre o sistema iugoslavo “em polaco e também em outras línguas”, as ideias econômicas das reformas húngaras e as formas de construir um “mecanismo de mercado” no interior de uma economia planificada. [112] Os europeus orientais aprendiam gradualmente sobre o trabalho uns dos outros e desenvolveram métodos neoclássicos para o socialismo em diálogo entre si, bem como com os americanos e os europeus ocidentais. [113]
Embora os economistas do Leste Europeu com formação neoclássica entrassem continuamente em conflito com facções dentro do Partido Comunista do seu país, estes economistas encontravam-se cada vez mais divididos internamente entre aqueles que apoiavam o planejamento centralizado e aqueles que buscavam opções democráticas. Planejadores matematicamente sofisticados muitas vezes imaginavam a realização eficaz do planejamento centralizado através de novas técnicas neoclássicas, computadores e empresas de grande escala. [114] Em contraste, outros economistas buscavam um maior controle pelos trabalhadores sobre as empresas e a concorrência entre tais empresas nos mercados. [115] A ascensão ao poder de líderes partidários-estatais que apoiavam as reformas descentralizadoras traria novas reformas de mercado e discussões sobre democracia no local de trabalho. As reações contra as reformas de mercado, especialmente na década de 1970, trariam de volta a influência dos planejadores centralizantes. Estas divisões entre os economistas neoclássicos repetiam as mesmas entre os seus homólogos nos Estados Unidos e na Europa Ocidental.
No final da década de 1980, os planejadores e outros economistas neoclássicos mais autoritários no Oriente e no Ocidente, entretanto, continuavam a apoiar instituições mais hierárquicas, tais como empresas/corporações de grande escala e um Estado disciplinar forte, considerado necessário tanto para mercados competitivos, quanto para o planejamento centralizado. Em contraste, outros economistas entendiam o mercado e o planejamento como estando necessariamente incorporados em instituições socialistas descentralizadas que permitiriam a democracia política e econômica. Estes economistas neoclássicos socialistas democráticos do Oriente e do Ocidente sustentavam que os mercados exigiam democracia econômica, empresas que funcionassem independentemente do Estado, empreendedorismo, leis para encorajar pequenas e médias empresas, desregulamentação da maioria dos preços, uma variedade de formas de propriedade (incluindo propriedades sociais não-estatais, comunitárias locais, cooperativas e propriedade privada) e democracia política. Esta batalha dentro da economia neoclássica sobre as instituições se intensificaria em 1989.
O que estava em jogo em 1989?
Branko Milanovic, um economista formado na Iugoslávia que trabalhou com Branko Horvat e que hoje é funcionário do Banco Mundial, relembra que por volta de 1990 encontrou Jeffrey Sachs em uma livraria em Washington, DC. Sachs tinha o novo livro de Milanovic, que pediu a Milanovic que autografasse. Milanovic se recorda:
Pensei por um segundo e escrevi: “Para Jeff Sachs, que está tentando salvar o socialismo”. Jeff ficou meio chocado e disse: “não quero salvar o socialismo; quero enterrá-lo.” Fiquei surpreso na época, mas percebi mais tarde: eu ainda estava atrasado em relação ao que estava acontecendo. Eu via as primeiras reformas na Polónia como sendo uma forma de introduzir elementos de mercado no socialismo, da mesma maneira em que a economia keynesiana introduzia algum controle estatal no capitalismo. Pressionando ainda mais longe o paralelo, eu via a crise socialista da década de 1980 como um caminho na direção da criação de um socialismo reformado e sustentável. Mas Jeff (com razão) via a crise como sendo o fim do socialismo e o início da transição para o capitalismo. [116]
Milanovic não era de forma alguma o único economista com formação neoclássica que imaginava a realização do socialismo de mercado, e não do capitalismo, após 1989. Esse ano trouxe o fim do monopólio dos partidos comunistas da Europa Oriental e abriu a possibilidade de finalmente realizar o socialismo democrático e descentralizado que muitos europeus orientais vinham buscando há tanto tempo. [117] Os mercados e transições democráticas não tinham necessariamente o capitalismo como seu objetivo. [118] Os economistas do Leste Europeu há muito rejeitavam o socialismo estatal soviético e há muito abraçavam os mercados. A nossa perplexidade diante disso provém da aceitação atual de uma conexão necessária entre os mercados e o capitalismo e de uma disjunção necessária entre os mercados e o socialismo. Nas mentes de muitos economistas neoclássicos em todo o mundo na década de 1980, os mercados eram essenciais para a construção de um socialismo mais socialista do que qualquer coisa até então vista no Oriente. Só mais tarde é que os economistas do Leste Europeu rejeitaram o socialismo e pareceram abraçar o capitalismo.
János Kornai observou: “Testemunhamos um renascimento muito estranho das ideias do socialismo de mercado na Europa Oriental”. [119] No final da década de 1980, os economistas da Europa Oriental continuavam a pensar em termos de reformas, em vez de considerar uma mudança para o capitalismo. [120] O socialismo de mercado era o modelo para as reformas. De acordo com Kornai, “na Hungria, e também em vários outros países socialistas, o princípio do ‘socialismo de mercado’ tornou-se uma ideia orientadora do processo de reforma”. [121] Os economistas do Leste Europeu há muito imaginavam as reformas como sendo um processo que poderia avançar ou retroceder, como “fases” ou “ondas” de reforma, mas essencialmente como sendo um processo linear, um caminho único. [122] Na década de 1970, as facções do partido-Estado suspenderam as reformas de mercado. Para os economistas, a década de 1980 trouxe um regresso ao caminho da reforma de mercado. Estes economistas muitas vezes apresentaram propostas de reforma em 1988 e 1989 como a continuação de reformas anteriores, como as da década de 1950 e de 1968. [123] A experiência de recorrentes obstáculos políticos à reforma fez com que os economistas se interessassem por reformas econômicas radicais, o que, no contexto do final da década de 1980, significava mercados competitivos “genuínos” e instituições socialistas, especialmente empresas de propriedade social, não-estatais e autogestão dos trabalhadores. [124] A forma pura de socialismo de mercado que reunia mercados competitivos e instituições socialistas tinha uma longa tradição na economia neoclássica, pelo menos desde a década de 1920, e evocava grande entusiasmo no final da década de 1980 na Europa Oriental e em outros locais. [125] A transição oferecia a possibilidade de uma reforma econômica radical e da realização final do socialismo de mercado.
Os economistas da Europa Oriental continuavam com suas críticas de décadas ao socialismo centralmente planejado. Por exemplo, o economista húngaro Tamás Nagy argumentava que o sistema húngaro da época era neo-estalinista e estava em crise. [126] Durante o final da década de 1980, os economistas do Leste Europeu continuavam discutindo o modelo de planejamento centralizado porque, na sua opinião, as suas economias ainda funcionavam segundo este modelo, que representava um ponto de equilíbrio de Pareto. O economista checoslovaco Vàclav Klaus observou que a economia altamente centralizada da Tchecoslováquia “alcançou um equilíbrio muito estável […] Na verdade, é uma espécie de ponto ótimo de Pareto.” [127] Kornai também julgava este “sistema clássico” como sendo estável e internamente coerente. [128] Todavia, o sistema socialista clássico estava ficando para trás do capitalismo em termos de produtividade e crescimento e de maneira crescente, o que impelia os tomadores de decisões políticas a implementar reformas de mercado. Os economistas falavam extensivamente sobre a crise econômica iminente da economia planificada centralmente. O húngaro Mihály Laki advertia que, se a economia fosse reformada apenas minimamente, “o socialismo tradicional de tipo soviético continuará existindo e o mercado não será, mesmo mais tarde, um poder integrador na economia. Se o sistema for completamente transformado, a economia de mercado irá desenvolver-se.” [129] Portanto, uma reforma radical e abrangente seria necessária como um “grande impulso” para se afastar permanentemente do socialismo estatal soviético, que aparentemente representava uma ineficiente armadilha de Pareto, para mudar para uma nova localização ótima de Pareto. [130]
Os políticos em todo o mundo no final da década de 1980, mesmo os de esquerda, abraçavam os mercados, como observou Stephanie Mudge:
Na década de 1990, a ascensão de políticas favoráveis ao mercado por todo o espectro político tornou-se um fenômeno inconfundível […] Os defensores mais eficazes de políticas entendidas como sendo neoliberais na Europa Ocidental (e em outros locais) frequentemente têm sido membros de elites políticas e intelectuais que simpatizam com ou que são representantes da esquerda e da centro-esquerda. [131]
Não obstante, este não era um fenômeno novo entre os economistas da Europa Oriental, que em 1989, defendiam uma “genuína economia de mercado” e o socialismo. O economista polonês Leszek Balcerowicz insistia em uma economia de mercado, que o verdadeiro socialismo de mercado teria. [132] Mais tarde, ele explicou: “o termo ‘socialismo de mercado’ deveria ser usado, na minha opinião, apenas com respeito aos modelos que prevêem um mercado genuíno, que inclui a livre fixação de preços.” [133] A economista húngara Béla Csikós-Nagy usava o termo mercado socialista, mas também defendia uma economia de mercado: “a economia de mercado socialista não pode ser basicamente diferente daquela da economia de mercado moderna.” [134] Para os economistas de toda a Europa Oriental, os mercados eram essenciais para todos os sistemas econômicos, capitalistas ou socialistas. [135] Este novo socialismo deveria concretizar o ideal de reforma e incluir os mercados, especialmente os provocativos mercados de capital e de trabalho. [136] De acordo com esta visão, somente através do mercado os países da Europa Oriental evitariam a crise econômica e o colapso. No final de 1988, o principal responsável pela política econômica do partido-Estado húngaro, Miklós Németh, declarou: “a economia de mercado é a única forma de evitar uma catástrofe social ou uma morte longa e lenta”. [137] A infame exigência de Vàclav Klaus por “um mercado sem adjetivos”, portanto, estava enquadrada nas tradições neoclássicas do socialismo. Estes economistas não equiparavam necessariamente mercados e capitalismo.
Da sua perspectiva reformista linear, os economistas do Leste Europeu compreendiam que a severa crise econômica tinha pressionado os regimes comunistas a avançar novamente, após o retrocesso da década de 1970, no caminho das reformas. Durante o socialismo, os economistas reformistas do Leste Europeu entendiam a “transição de mercado” como um movimento em direção ao socialismo de mercado:
- socialismo estatal centralmente planejado ➞ socialismo de mercado
No final da década de 1980, só uma reforma radical e abrangente criaria o “grande impulso” para se avançar completamente para além do modelo centralmente planejado para o novo equilíbrio do socialismo de mercado. O objetivo da reforma radical não era o capitalismo, mas um sistema fundamentalmente diferente do sistema socialista centralmente planificado. Se, no entanto, uma economia não alcançasse outro ponto de equilíbrio de Pareto, então a economia tenderia naturalmente a regressar ao modelo centralmente planificado. Portanto, uma transição de mercado poderia seguir um de dois caminhos:
- socialismo estatal centralmente planejado ➞ socialismo de mercado
- socialismo estatal centralmente planejado ➞ socialismo de mercado ➞ socialismo estatal centralmente planejado
Outros economistas imaginavam a transição de mercado de várias outras maneiras.
Para esses economistas, uma economia de mercado genuína não iria apenas simular o capitalismo. O modelo abstrato de socialismo de mercado de Oskar Lange passou a ser visto como um “capitalismo simulado”. [138] O modelo não incluía as instituições necessárias para permitir o poder dos trabalhadores e criar o socialismo real, para evitar monopólios e hierarquias e para permitir a verdadeira concorrência. Alguns estudiosos se perguntavam o que exatamente tornava socialista o modelo de Lange. Para Balcerowicz, muitos pacotes de reforma socialista de mercado apenas criariam um capitalismo simulado, um sistema econômico com instituições capitalistas, como sociedades por ações e bolsas de valores, mas sem capitalistas. [139] Balcerowicz argumentou que essas formas simuladas acabariam por evoluir para o capitalismo. Portanto, o socialismo de mercado nesta forma não seria um estável ponto de equilíbrio ótimo de Pareto, mas sim um instável ponto de transição. Vemos agora três cenários de transição possíveis:
- socialismo estatal centralmente planejado ➞ socialismo de mercado
- socialismo estatal centralmente planejado ➞ socialismo de mercado ➞ socialismo estatal centralmente planejado
- socialismo estatal centralmente planejado ➞ socialismo de mercado (simulado) ➞ capitalismo de mercado
Para alguns, o socialismo de mercado era o objetivo da transição, enquanto para outros ele proporcionava uma parada de descanso na estrada para o capitalismo. [140] O economista estadunidense Steven Roseielde até entendeu o fato de David Lipton e Jeffrey Sachs darem consultoria ao governo soviético para criar “alguma forma aceitável de socialismo de mercado que se adapte aos seus propósitos e aos do Ocidente desenvolvido”. [141] O capitalismo simulado poderia levar em várias direções.
Para além do “capitalismo sem capitalistas” de Lange e de outras formas de capitalismo simulado, os economistas assumiam que existia outra forma socialista que seria um ótimo de Pareto. Balcerowicz observou muito brevemente que o inevitável deslizamento do socialismo de mercado para o capitalismo poderia ser evitado por meio do “modelo de economia de autogestão dos trabalhadores”. [142] Um modelo abstrato baseado no esquema de autogestão dos trabalhadores iugoslavos, o “Modelo Ilírio”, continuava sendo um potencial e desejável ponto final da transição de mercado. Durante as décadas de 1960 e 1970, economistas de todo o mundo demonstravam grande entusiasmo com o modelo socialista iugoslavo, especialmente porque a Iugoslávia tinha algumas das taxas de crescimento mais elevadas do mundo. [143] Na década de 1980, entretanto, o mundo testemunhou a queda da Iugoslávia em crise da dívida, inflação, na violência nacionalista, no lento colapso estatal e na crise econômica geralizada. [144] Contudo, apesar da crise iugoslava, a autogestão dos trabalhadores continuava a representar um modelo para muitos no Bloco Oriental, um modelo que poderia enfim ser concretizado com as reformas econômicas corretas. [145] Kornai reconhecia o forte apoio popular a este sistema. [146] O economista húngaro Károly Attila Soós escreveu: “No período atual, cheio de incertezas políticas e econômicas e de mudanças radicais, a prática da autogestão, que, no fim das contas, foi aceita pela nossa sociedade, poderia ser preservada como um elemento valioso do status quo.” [147] O socialismo de autogestão dos trabalhadores permanecia como uma opção de transição. [148]
O modelo ilírio existia como uma opção viável para a qual os economistas, no papel de uma espécie de planejador central, poderiam ajudar a economia a saltar. De acordo com Balcerowicz, a economia de mercado no socialismo não teria propriedade privada dos meios de produção, mas sim alguma forma de propriedade socialista: socialismo ilírico, propriedade dos trabalhadores, arrendamento do capital social, conforme discutido por Tibor Liska e Boris Brutzkus, ou instituições capitalistas sem capitalistas privados como discutido por Márton Tardos. Para Balcerowicz, se tratavam de “modelos puros”, e não modelos híbridos misturando planejamento e mercados. [149] Os economistas argumentavam que reformas parciais ou modelos híbridos mistos, como o keynesianismo, não levariam a estes modelos ótimos de Pareto e puros, como o modelo de laissez-faire Ilírio. Portanto, é possível que, quando Vàclav Klaus supostamente afirmou que a Terceira Via era o caminho mais seguro para o Terceiro Mundo, ele estivesse rejeitando sistemas mistos, e não a variedade de modelos puros. Dado que o modelo Ilírio não colapsaria rumo ao capitalismo, pelo menos na mente de Balcerowicz, continuava representando uma opção. Portanto, temos outro modelo de transição de mercado:
- socialismo estatal centralmente planejado ➞ socialismo de mercado
- socialismo estatal centralmente planejado ➞ socialismo de mercado ➞ socialismo estatal centralmente planejado
- socialismo estatal centralmente planejado ➞ socialismo de mercado (simulado) ➞ capitalismo de mercado
- socialismo estatal centralmente planejado ➞ socialismo de mercado (simulado) ➞ modelo abstrato iugoslavo de autogestão dos trabalhadores (Modelo Ilírio)
A transição de mercado tinha vários destinos possíveis, incluindo o Modelo Ilírio baseado na autogestão dos trabalhadores iugoslavos.
Ao longo da década de 1980, os europeus do Leste pareciam estar implementando as “lições” do socialismo. Entregaram empresas estatais aos trabalhadores, na esperança de concretizar a autonomia empresarial, o controle dos trabalhadores, o empreendedorismo e o fenecimento do Estado. [150] Em toda a Europa Oriental, os economistas também defendiam o arrendamento de empresas estatais e a propriedade destas empresas por entidades não-estatais. Estas reformas, aos olhos desses economistas, criariam a condição essencial para a concorrência de mercado, a autonomia empresarial e o socialismo.
Após 1989, as elites políticas e econômicas interessadas na autoridade centralizada tanto nas empresas quanto no Estado mudaram a discussão política para a transição capitalista. Nesta nova estrutura de oportunidades políticas, economistas como David Lipton e Jeffrey Sachs podiam fornecer a sua visão de terapia de choque para apagar o passado socialista e construir o capitalismo sobre uma tábula rasa. Eles e outros apresentaram as opções como sendo um socialismo estatal centralmente planejado atrasado e fracassado, ou um capitalismo competitivo de livre- mercado e bem-sucedido. Estas dicotomias obscurecem as divisões muito mais importantes entre aqueles que defendiam formas radicais de democracia e aqueles que trabalhavam por novas formas de autoritarismo. Os economistas do Leste Europeu com uma compreensão hierárquica da teoria econômica neoclássica – tais como os planejadores centrais – podiam fazer a transição mais facilmente do planejamento para a reforma neoliberal. De acordo com Vladimir Gligorov, aqueles que apoiavam o planejamento centralizado não-mercantil “podiam adaptar-se mais facilmente ao processo de liberalização” porque “tudo o que precisavam fazer era substituir a determinação normativa – ou seja, administrativa – de salários e lucros por mecanismos de mercado apropriados”. [151] Aqueles que estavam comprometidos com a expansão da autogestão dos trabalhadores e de outras instituições democráticas, por outro lado, “tiveram de desistir de tudo o que defendiam”. [152] Muitas críticas de esquerda à globalização e ao capitalismo neoliberal tem condenado especificamente o mercado, quando na verdade se poderia argumentar que as preocupações mais urgentes são a exploração do trabalho, o confinamento dos pobres e a privatização dos meios de produção e dos bens comuns. Visualizar a batalha como sendo entre mercado e planejamento obscurece o que estava verdadeiramente em jogo em 1989.
Conclusões
As ideias dos economistas neoclássicos moldam as economias em todo o mundo. Para compreender a natureza do neoliberalismo, devemos estudar não apenas as opiniões políticas destes economistas, mas também as suas ideias profissionais. Através desta análise de três eventos – o debate do cálculo socialista, as reformas econômicas no Leste Europeu socialista e 1989 – que são frequentemente utilizados para demonstrar que a economia neoclássica seria capitalista, procurei demonstrar que a o pensamento econômico neoclássico, na verdade, tem muitas conexões com socialismos heterogêneos.
Desde o século XIX, os economistas neoclássicos têm assumido que tanto o mercado competitivo quanto o Estado socialista centralmente planejado proporcionam resultados ótimos/ideais. Em resposta à concretização de um modelo de Estado centralizado na União Soviética, economistas de todo o mundo propuseram alternativas socialistas democráticas, que poderiam evitar Estados autoritários e aproximar as sociedades do comunismo sem Estado. A Iugoslávia tentou realizar tal alternativa. Ainda que 1989 tenha proporcionado uma oportunidade para finalmente concretizar o radical socialismo de mercado imaginado durante tantas décadas pelos economistas, também abriu a possibilidade para que outros economistas concretizassem as suas ideias autoritárias em nome dos mercados. Os planejadores centrais do Leste Europeu, os defensores americanos do livre-mercado e as novas e velhas elites uniram-se, endossando uma utopia capitalista desenraizada e a economia neoclássica, ao mesmo tempo em que mantinham e reforçavam instituições autoritárias como as grandes empresas e o Estado. A história da teoria econômica neoclássica ajuda a explicar o fato do neoliberalismo ser simultaneamente uma ideologia de livre-mercado, anti-estatal e de um conjunto de políticas autoritárias.
Observadores externos muitas vezes vêm confundindo a economia neoclássica com o neoliberalismo e não tem conseguido distinguir o neoliberalismo dos socialismos não-estatais porque assumiram que o socialismo estatal era a única forma possível de socialismo. Assim, críticos do neoliberalismo têm assumido que os mercados seriam necessariamente capitalistas, quando os economistas neoclássicos entendiam os mercados como sendo tanto capitalistas quanto socialistas e que o socialismo, na verdade, poderia proporcionar as melhores condições para mercados competitivos e vice-versa. A aparente conversão em massa dos economistas do Leste Europeu ao capitalismo deu suporte à visão triunfalista neoliberal. No entanto, muitos destes economistas defendiam várias formas de socialismo baseadas na democracia econômica e política. Os estudos da história do neoliberalismo têm mantido as divisões do mundo da Guerra Fria entre capitalismo neoliberal versus socialismo estatal, e dessa forma, tem esquecido as alternativas que estavam presentes simultaneamente com o neoliberalismo. Estas alternativas sobrevivem hoje nas práticas da “economia solidária”, nas experiências participativas atualmente em curso na América Latina e em obr recentes sobre o socialismo. [153] Espero ter demonstrado que as ideias profissionais dos economistas deveriam ser compreendidas mais profundamente, a fim de se compreender a natureza do neoliberalismo e o que estava em jogo em 1989 e depois.
Notas
[1] Fred L. Block, The Vampire State: And Other Myths and Fallacies about the U.S. Economy [“O Estado vampiro: e outros mitos e falácias sobre a economia dos EUA”] (New York: New Press, 1996); Mark Blyth, Great Transformations: Economic Ideas and Institutional Change in the Twentieth Century [“Grandes transformações: ideias econômicas e mudança institucional no século XX”] (New York: Cambridge University Press, 2002); John L. Campbell, “Institutional Analysis and the Role of Ideas in Political Economy,” [“Análise institucional e o papel das ideias na economia política”] Theory and Society 27 (1998): 377–409; John L. Campbell e O. K. Pedersen, “Introduction,” em The Rise of Neoliberalism and Institutional Analysis [“A ascensão do neoliberalismo e análise institucional”], eds. John L. Campbell and O. K. Pedersen (Princeton, NJ: Princeton University Press, 2001), 1–23; David Harvey, A Brief History of Neoliberalism (Oxford, UK: Oxford University Press, 2005) [Neoliberalismo: História e Implicações (Edições Loyola, São Paulo, 2008)]; Margaret R. Somers e Fred Block, “From Poverty to Perversity: Ideas, Markets, and Institutions over 200 Years of Welfare Debate,” [“Da pobreza à perversidade: Ideias, mercados e instituições ao longo de 200 anos de debate sobre bem estar social”] American Sociological Review 70 (2005): 260–87.
[2] Pierre Bourdieu e Loïc Wacquant, “On the Cunning of Imperialist Reason” [“Sobre a sagacidade da razão imperialista”], Theory, Culture and Society 16 (1999): 41–58; Campbell, “Institutional Analysis” [“Análise institucional”]; Miguel A. Centeno, “The Politics of Knowledge: Hayek and Technocracy,” [“A política do conhecimento: Hayek e a tecnocracia”] em The Politics of Expertise in Latin America [A política dos especialistas na América Latina], eds. Miguel A. Centeno e Patricio Silva (New York: St. Martin’s, 1998), 36–51; Richard Cockett, Thinking the Unthinkable: Think- Tanks and the Economic Counter- Revolution, 1931–1983 [“Pensando o impensável: think-tanks e contrarevolução econômica, 1931-1983”] (London: HarperCollins, 1995); R. M. Hartwell, A History of the Mont Pelerin Society [“Uma história da sociedade de Monte Pelerin”] (Indianapolis, IN: Liberty Fund, 1995); Harvey, A Brief History [Neoliberalismo: história e implicações]; John L. Kelly, Bringing the Market Back In: The Political Revitalization of Market Liberalism [“Trazendo o mercado de volta: a revitalização política do liberalismo de mercado”] (New York: New York University Press, 1997); Naomi Klein, The Shock Doctrine: The Rise of Disaster Capitalism (New York: Metropolitan Books/Henry Holt, 2007) [A Doutrina do choque: a ascensão do capitalismo do desastre (Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 2008)]; Stephanie Mudge, “What is Neo- liberalism?” [“O que é neo-liberalismo?”] Socio-Economic Review 6 (2008): 703–31; James A. Smith, The Idea Brokers: Think Tanks and the Rise of the New Policy Elite [“Os negociantes de ideias: think tanks e a ascensão da nova elite de decisões políticas públicas”] (New York: Free Press, 1993); Juan Gabriel Valdés, Pinochet’s Economists: The Chicago School in Chile [“Os economistas de Pinochet: a Escola de Chicago no Chile”] (Cambridge: Cambridge University Press, 1995); Daniel Yergin e Joseph Stanislaw, The Commanding Heights: The Battle between Government and the Marketplace that is Remaking the Modern World [“As alturas do comando: a batalha entre governo e o mercado que está refazendo o mundo moderno”] (New York: Simon and Schuster, 1998).
[3] Paul Dragos Aligica e Anthony John Evans, The Neoliberal Revolution in Eastern Europe: Economic Ideas in the Transition from Communism [“A revolução neoliberal no Leste Europeu: ideias econômicas e a transição a partir do comunismo”] (Cheltenham, UK: Edward Elgar, 2009); Glen Biglaiser, Guardians of the Nation?: Economists, Generals, and Economic Reform in Latin America [“Guardiões da nação? Economistas, generais e reforma econômica na América Latina”] (Notre Dame, IN: University of Notre Dame Press, 2002); Bruce Kogut e J. Muir Macpherson, “The Decision to Privatize: Economists and the Construction of Ideas and Policies,” [“A decisão de privatizar: economistas e a construção de ideias e de políticas públicas”] em The Global Diffusion of Markets and Democracy [“A difusão global de mercados e democracia”], eds. Beth A. Simmons, Frank Dobbin, and Geoffrey Garrett (Cambridge: Cambridge University Press, 2008), 104–40.
[4] Sarah L. Babb, Managing Mexico: Economists from Nationalism to Neoliberalism [“Gerindo o México: economistas do nacionalismo ao neoliberalismo”] (Princeton, NJ: Princeton University Press, 2001); Yves Dezalay e Bryant G. Garth, The Internationalization of Palace Wars: Lawyers, Economists, and the Contest to Transform Latin American States [“A internacionalização das guerras palacianas: advogados, economistas e a disputa para transformar os Estados latinamericanos”] (Chicago: University of Chicago Press, 2002); Witold J. Henisz, Bennet A. Zelner, e Mauro F. Guillén, “The Worldwide Diffusion of Market- Oriented Infrastructure Reform, 1977–1999,” [“A difusão mundial de reformas de infraestrutura orientadas ao mercado, 1977-1999”], American Sociological Review 70 (2005): 871–97; Mitchell A. Orenstein, Privatizing Pensions: The Transnational Campaign for Social Security Reform [“Privatizando as aposentadorias: a campanha transnacional para a reforma da seguridade social”] (Princeton, NJ: Princeton University Press, 2008).
[5] Em geral, os economistas neoclássicos não consideram a intervenção estatal por si só como sendo socialista [com exceção dos austríacos]. Ao invés disso, um sistema socialista teria pelo menos um dos seguintes: propriedade social (estatal ou não-estatal) dos meios de produção, apropriação não privada do mais-valor, e /ou democracia econômica.
[6] Em contraste com um trabalho anterior junto com Gil Eyal, concentro-me aqui nos debates internos à economia neoclássica. Johanna Bockman e Gil Eyal, “Eastern Europe as a Laboratory for Economic Knowledge: The Transnational Roots of Neoliberalism” [“Europa Oriental como laboratório para o conhecimento econômico: as raízes transnacionais do neoliberalismo”], American Journal of Sociology 108 (2002): 310–52.
[7] Descrições particularmente úteis da teoria econômica neoclássica são fornecidas por E. Roy Weintraub, General Equilibrium Analysis: Studies in Appraisal [“Análise de equilíbrio geral: estudos em avaliação”] (Cambridge: Cambridge University Press, 1985); Christian Arnsperger e Yanis Varoufakis, “What is Neoclassical Economics?” [“O que é economia neoclássica”] Post- Autistic Economics Review 38 (2006), www.paecon.net/PAEReview/ issue 38/ArnspergerVaroufakis38.htm.
[8] Historiadores do pensamento econômico tem há muito questionado se houve uma verdadeira revolução no pensamento ou apenas uma longa evolução. Ver Richard S. Howey, The Rise of the Marginal Utility School, 1870–1889 [“A ascensão da escola da utilidade marginal, 1870-1889”] (New York: Columbia University Press, [1960] 1989); Jurg Niehans, A History of Economic Theory: Classic Contributions, 1720–1980 [“Uma história da teoria econômica: contribuições clássicas, 1720-1980”] (Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1994), 162.
[9] Economistas, como os membros de outras profissões no século XIX, buscaram profissionalizar e legitimar suas jurisdições por meio de tais técnicas científicas programas educacionais para obter benefícios de um mercado de trabalho exclusivo. Andrew Abbott, The System of Professions: An Essay on the Division of Expert Labor [“O sistema das profissões: um ensaio sobre a divisão do trabalho de especialista”] (Chicago: University of Chicago Press, 1988); Mary O. Furner, Advocacy and Objectivity: A Crisis in the Professionalization of American Social Science, 1865–1905 [“Defesa de ideias e objetividade: uma crise na profissionalização da ciência social americana, 1865-1905”] (Lexington: University Press of Kentucky, 1975); Philip Mirowski, More Heat Than Light: Economics as Social Physics, Physics as Nature’s Economics [“Mais calor que luz: economia como física social, física como economia da natureza”] (Cambridge: Cambridge University Press, 1989).
[10] Michael Bernstein, A Perilous Progress: Economists, Their Discipline, and Public Purpose in Twentieth Century America [“Um perigoso progresso: economistas, sua disciplina e propostas públicas na América do século XX”] (Princeton, NJ: Princeton University Press, 2001); Howey, Rise of the Marginal Utility School [“A ascensão da escola da utilidade marginal”]; Yuval P. Yonay, The Struggle over the Soul of Economics: Institutionalist and Neoclassical Economists in America between the Wars [“A luta pela alma da teoria econômica: economistas institucionais e neoclássicos na América do entreguerras”] (Princeton, NJ: Princeton University Press, 1998).
[11] Fred M. Taylor, “The Guidance of Production in a Socialist State” [“A orientação da produção em um Estado socialista”], American Economic Review 19 (1929): 1–8.
[12] Por exemplo, ver Robert B. Ekelund Jr. e Robert F. Hébert, A History of Economic Theory and Method [“Uma história da teoria e do método econômico”] (New York: McGraw- Hill, 1990); Niehans, History of Economic Theory [“História da teoria econômica”].
[13] Por exemplo, ver Ekelund e Hébert, A History [“Uma história”], 575–77.
[14] Por exemplo, ver Abram Bergson, “Socialist Economics,” em A Survey of Contemporary Economics [“Uma relação da economia contemporânea”], ed. Howard S. Ellis (Berkeley: University of California Press, 1948), 412–48, 447; Don Lavoie, Rivalry and Central Planning: The Socialist Calculation Debate Reconsidered [“Rivalidade e planejamento central: o debate do cálculo socialista reconsiderado”] (Cambridge: Cambridge University Press, 1985); Peter Murrell, “Did the Theory of Market Socialism Answer the Challenge of Ludwig von Mises? A Reinterpretation of the Socialist Controversy” [“O socialismo de mercado respondeu o desafio de Ludwig von Mises? Uma reinterpretação da controvérsia socialista”], History of Political Economy 15 (1983): 92–105.
[15] Ver Friedrich A. von Hayek, “The Nature and History of the Problem,” [“A natureza e a história do problema”] em Collectivist Economic Planning: Critical Studies on the Possibilities of Socialism [“Planejamento econômico coletivista: estudos críticos sobre as possibilidades do socialismo”], ed. Friedrich A. von Hayek (London: George Routledge & Sons, [1935] 1938), 1–40; Israel M. Kirzner, “The Economic Calculation Debate: Lessons for Austrians” [“O debate do cálculo econômico: lições para os Austríacos”], Review of Austrian Economics 2 (1988): 1–18; Murray Rothbard, “The End of Socialism and the Calculation Debate Revisited” [“O fim do socialismo e o debate do cálculo revisitado”], Review of Austrian Economics 5 (1991): 51–76.
[16] A. W. Coats também concorda que as histórias da teoria econômica têm superestimado o papel de Keynes. A. W. Coats, “The Distinctive LSE Ethos in the Inter- war Years,” [“O distintivo ethos da LSE nos anos do entreguerras”] Atlantic Economic Journal 10 (1982): 18.
[17] Léon Walras, Elements of Pure Economics or the Theory of Social Wealth [“Elementos de teoria econômica pura ou a teoria da riqueza social”] (Philadelphia: Orion Editions, [1874] 1984), 255.
[18] Léon Walras, Études d’économie sociale [‘Estudos em economia social“] (Rome: Bizzarri, [1896] 1969), 144.
[19] Roberto Baranzini, “Léon Walras: Il singolare socialismo di un marginalista atipico” [“Léon Walras: o socialismo singular de um marginalista atípico”], em Marginalismo e Socialismo nell’Italia Liberale, 1870–1925 [“Marginalismo e socialismo na Itália liberal, 1870-1925”], eds. Marco E. L. Guidi e Luca Michelini (Milão: Fondazione Giangiacomo Feltrinelli, 2001), 35–65; Renato Cirillo, “The ‘Socialism’ of Léon Walras and His Economic Thinking” [“O socialismo de Léon Walras e seu pensamento econômico”] American Journal of Economics and Sociology 39 (1980): 295–303; Carl Landauer, European Socialism: A History of Ideas and Movement, From the Industrial Revolution to Hitler’s Seizure of Power, vol. 2 [“Socialismo europeu: uma história de ideias e movimento, da revolução industrial até a tomada do poder por Hitler, vol. 2”] (Berkeley and Los Angeles: University of California Press, 1959), 1623. Para mais conteúdo sobre a bem conhecida ligação entre a teoria econômica neoclássica walrasiana e o socialismo, ver Philip Mirowski, Machine Dreams: Economics Becomes a Cyborg Science [“Sonhos de máquina: a Economia se torna uma ciência ciborgue”] (Cambridge: Cambridge University Press, 2002); Cristobal Young, “The Politics, Mathematics and Morality of Economics: A Review Essay on Robert Nelson’s Economics as Religion” [“A política, matemática e moralidade da Economia: um ensaio de resenha sobre ‘Economia como religião’, de Robert Nelson”] Socio- Economic Review 3 (2005): 161–172.
[20] As ideias de Walras sobre a nacionalização da terra são paralelas àquelas apresentadas por Henry George no imensamente popular Progresso e pobreza, publicado pela primeira vez em 1879. Henry George, Progress and Poverty [“Progresso e pobreza”] (London: J. M. Dent, 1879).
[21] A citação é Walras, Études d’économie sociale [“Estudos de economia social”], 144–145, extraídas de Cirillo, “The ‘Socialism’ of Léon Walras” [“O ‘socialismo’ de Léon Walras”], 300.
[22] Baranzini, “Léon Walras,” 48.
[23] Os autores de tais manuais descreveram principalmente várias experiências comunistas – incluindo as dos Owenistas, Saint-Simonianos, Blanc e Fourier, que foram consideradas fracassos – a Primeira Internacional e as obras então recentemente publicadas de Karl Marx. Os economistas, independentemente da sua visão política, consideravam estas experiências e movimentos socialistas suficientemente relevantes para a economia para serem incluídos em manuais básicos. Por exemplo, ver Charles Gide, Principles of Political Economy [‘Princípios de economia política“] (Boston: D. C. Heath, 1904); Vilfredo Pareto, Cours d’Economie Politique [“Curso de economia política”], vol. 1 (Lausanne: F. Rouge, 1896); Henry Sidgwick, The Principles of Political Economy [“Os princípios de economia política”] (New York: MacMillan, 1887); Frank William Taussig, Principles of Economics [“Princípios de Economia”] (New York: MacMillan, 1911).
[24] Alguns economistas acreditavam que as suas críticas tinham ajudado o socialismo: “Foi, contudo, apenas depois da Economia ter assumido um carácter científico que o socialismo, ao antagonizar com a Ciência recentemente estabelecida, foi pela primeira vez claramente formulado.” Gide, Princípios.
[25] Embora o economista britânico Henry Sidgwick não tenha reconhecido qualquer influência positiva do socialismo na Economia, ele reconheceu que a crítica socialista fez com que os economistas parassem de justificar o status quo e o laissez-faire e passassem a estudar a distribuição da riqueza e da renda. Henry Sidgwick, “The Economic Lessons of Socialism” [“As Lições Econômicas do Socialismo”], The Economic Journal 5, no. 19 (1895): 340.
[26] Riccardo Faucci e Stefano Perri, “Socialism and Marginalism in Italy, 1880–1910,” [“Socialismo e marginalismo na Itália, 1880-1910”] em Socialism and Marginalism in Economics, 1870–1930 [“Socialismo e Marginalismo na Economia”], ed. Ian Steedman (London: Routledge, 1995), 116–69; Howey, Rise of the Marginal Utility School [“Ascensão da escola da utilidade marginal”]; John W. Mason, “Political Economy and the Response to Socialism in Britain, 1870–1914” [“Economia política e a resposta ao socialismo na Grã-Bretanha, 1870-1914”], The Historical Journal 23 (1980): 565–87.
[27] Landauer, European Socialism [“Socialismo europeu”], 1619–35.
[28] Ludwig von Mises, “Economic Calculation in the Socialist Commonwealth” [“Cálculo econômico na comunidade socialista”] [1920] 1938, em Hayek, Collectivist Economic Planning [“Planejamento econômico coletivista”], 87–88; Friedrich von Wieser, Natural Value [“Valor natural”] (Fairield, NJ: Augustus M. Kelley, [1893] 1989), 64. Hayek criticou tanto a teoria econômica clássica quanto a escola histórica, bem como o marxismo, por “sufocar com sucesso todas as tentativas de estudar os problemas que qualquer política socialista construtiva teria de resolver”. Hayek, “Nature and History of the Problem” [“Natureza e história do problema”], 9–14.
[29] Wieser, Natural Value [“Valor natural”]; Eugene von Böhm- Bawerk, The Positive Theory of Capital [“A teoria positiva do capital”] (London: Macmillan, [1889, 1891] 1971).
[30] N. G. Pierson, “The Problem of Value in the Socialist Community,” [“O problema do valor na comunidade socialista”] em Hayek, Collectivist Economic Planning [“Planejamento econômico coletivista”], 43.
[31] O economista Carl Landauer observou que “é verdade que nos últimos anos antes da Primeira Guerra Mundial foram lançadas as bases para o grande avanço da teoria socialista no período entre guerras, mas este trabalho preparatório foi feito principalmente por alguns dos críticos do socialismo e não pelos próprios socialistas.” Landauer, European Socialism [“Socialismo europeu”], 1611, e também em 1624. Ver Hayek, Collectivist Economic Planning [“Planejamento econômico coletivista”], 24; Lavoie, Rivalry [“Rivalidade”], 80.
[32] Hayek, Collectivist Economic Planning [“Planejamento econômico coletivista”], 24.
[33] Wieser, Natural Value [“Valor natural”], 60.
[34] Ibid., 61.
[35] Eduard Heimann, “Theory of a Socialist Economy” [“Teoria da economia socialista”], Social Research 6 (1939): 89.
[36] Böhm- Bawerk, The Positive Theory [“A teoria positiva”], 113.
[37] Os economistas hoje chamam essa ferramenta de modelo do “planejador social”.
[38] Ainda que Pareto e Walras divergissem em muitas questões, Pareto fez várias contribuições significativas para o modelo de equilíbrio geral walrasiano. The New School, “Vilfredo Pareto, 1848–1923”, www.newschool.edu/nssr/het/proiles/pareto.htm (acessado em 25 de Junho de 2011).
[39] Eles portanto provaram a dualidade matemática.
[40] Pareto, Cours [“Curso”], vols. 1 and 2; Vilfredo Pareto, The Manual of Political Economy [“O manual de política econômica”] (New York: A. M. Kelley, [1927] 1971), 261.
[41] Amartya Sen, Collective Choice and Social Welfare [“Escolha coletiva e bem-estar social”] (San Francisco: Holden- Day, 1970), 22.
[42] Pareto, Cours [“Curso”], vol. 2, 99.
[43] Pareto, Cours [“Curso”], vol. 2, 92–97.
[44] Pareto, Cours [“Curso”], vol. 1, 59.
[45] De maneira semelhante a outros economistas neoclássicos, Barone declarou: “o sistema de equações do equilíbrio coletivista não é outro senão o da livre concorrência”. Enrico Barone, “The Ministry of Production in the Collectivist State” [“O ministério da produção no Estado Coletivista”] em Hayek, Collectivist Economic Planning [“Planejamento econômico coletivista”], 245–90, 274.
[46] Pareto, Cours [“Curso”], vol. 1, 321; Barone, “The Ministry” [“O ministério”], 287–90.
[47] Barone, “The Ministry” [“O ministério”], 288.
[48] Bruce Caldwell, “Hayek and Socialism” [“Hayek e socialismo”], Journal of Economic Literature 35 (1997): 1856–90; Lavoie, Rivalry [“Rivalidade”].
[49] Eduard Heimann reconheceu que anteriormente “os aspectos políticos do problema não tinham sido seriamente considerados por estes autores [críticos do socialismo] porque o socialismo parecia jazer além de qualquer limite de possibilidade prática”. Heimann, “Theory” [“Teoria”], 92.
[50] Thomas Ernst Uebel, “Introduction: Neurath’s Economics in Critical Context” [“Introdução: a Economia de Neurath em contexto crítico”] em Economic Writings, Sections 1904–1945 [“Escritos econômicos, seções 1904-1945”], eds. Thomas Ernst Uebel e R. S. Cohen (Dordrecht, the Netherlands: Kluwer Academic Publishers, 2004): 40.
[51] Gunther K. Chaloupek, “The Austrian Debate on Economic Calculation in a Socialist Economy” [“O debate austríaco sobre o cálculo econômico em uma economia socialista”], History of Political Economy 22 (1990): 659–75.
[52] Uebel, “Introduction” [“Introdução”] 26–33.
[53] Allan Mitchell, Revolution in Bavaria, 1918–1919; the Eisner Regime and the Soviet Republic [“Revolução na Bavária, 1918-1919; o Regime de Eisner e a República Soviética”] (Princeton, NJ: Princeton University Press, 1965), 293.
[54] Ibid., 293–304; Uebel, “Introduction” [“Introdução”] 40.
[55] Gareth Dale, “Karl Polanyi in Budapest: On His Political and Intellectual Formation.” [“Karl Polanyi em Budapeste: Sobre sua formação política e intelectual”] European Journal of Sociology 50 (2009): 126.
[56] Karl Polanyi, “Sozialistische Rechnungslegung” [“Contabilidade socialist”], Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik 49 [“Arquivo de Ciências Sociais e Política Social”] (1922): 377–420, 379–80.
[57] Embora Neurath criticasse a teoria econômica neoclássica austríaca, ele também continuou a praticando. Uebel, “Introduction” [“Introdução”], 56.
[58] Chaloupek, “The Austrian Debate” [“O debate austríaco”], 662.
[59] Andrew Zimmerman, Alabama in Africa: Booker T. Washington, the German Empire, and the Globalization of the New South [“Alabama na África: Booker T. Washington, o Império Alemão e a globalização do Novo Sul”] (Princeton, NJ: Princeton University Press, 2010), 96–98.
[60] Landauer, European Socialism [“Socialismo europeu”], 1787.
[61] Polanyi, “Sozialistische Rechnungslegung”; Karl Polanyi, The Great Transformation: The Political and Economic Origins of Our Time (Boston: Beacon Press, [1944] 2001) [A grande transformação: as origens de nossa época (Elsevier, 2011)], 150–57, 378, 413.
[62] Eduard Heimann, Sozialistische Wirtschafts- und Arbeitsordnung [“Sistema econômico e de trabalho socialista”] (Potsdam: Alfred Protte, 1932); Carl Landauer, Planwirtschaft und Verkehrswirtschaft [“Economia planejada e troca econômica”] (Munich and Leipzig: Verlag von Duncker & Humblot, 1931); Landauer, European Socialism, 1643–1650 [“Socialismo europeu, 1643-1650”]. Os economistas socialistas de mercado incluíam Eduard Heimann, Carl Landauer, Emil Lederer, Franz Oppenheimer, Klara Tisch, e Herbert Zassenhaus.
[63] Eduard Heimann, “Franz Oppenheimer’s Economic Ideas” [“As ideias econômicas de Franz Oppenheimer”], Social Research 11 (1944): 38, www.franz- oppenheimer.de/eh44a.htm.
[64] Geoffrey M. Hodgson, Economics and Utopia: Why the Learning Economy Is Not the End of History [“Teoria econômica e utopia: por que a economia que aprende não é o fim da História”] (London: Routledge, 1999), 33–36; Lavoie, Rivalry.
[65] Landauer, European Socialism [“Socialismo europeu”], 1639.
[66] Mises, “Economic Calculation,” [“Cálculo econômico”] 110.
[67] Ludwig von Mises, Die Gemeinwirtschaft: Untersuchungen uber den Sozialismus (Jena, Germany: Verlag von Gustav Fishcher, 1922). A tradução em inglês do livro de Mises foi intitulada Socialism: An Economic and Sociological Analysis [‘Socialismo: uma análise econômica e sociológica“] (London: Jonathan Cape, [1932] 1936).
[68] O próprio Mises mais tard reitera: “Assim, a alternativa ainda é entre o socialism ou uma economia de mercado.” Ludwig von Mises, Socialism: An Economic and Sociological Analysis [“Socialismo: uma análise econômica e sociológica”] (London: Jonathan Cape, [1932] 1936), 142.
[69] Lavoie, Rivalry [“Rivalidade”], 3. Mises’s Die Gemeinwirtschaft de 1922 não faz referência às novas ideias dos socialistas. A posterior tradução para o inglês possui um apêndice e várias páginas respondendo a essas novas ideias. Mises, Socialism, 136–42. Mises escreveu de maneira bem positiva sobre os escritos do economista neoclássico Eduard Heimann acerca do socialismo de mercado, ao mesmo tempo em que repetiu que o cálculo racional exigiria a propriedade privada. Ludwig von Mises, “Neue Beiträge zum Problem der sozialistischen Wirtschaftsrechnung” (“Novas contribuições ao problema do cálculo econômico socialista”), Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik 51 (1923): 488–500.
[70] Ludwig von Mises, citado em Heinz D. Kurz, “Marginalism, Classicism and Socialism in German- Speaking Countries, 1871–1932,” “Marginalismo, classicismo e socialismo nos países falantes de alemão, 1871-1932” em Socialism and Marginalism in Economics, 1870–1930 [“Socialismo e marginalismo na Economia, 1870-1930”], ed. Ian Steedman (London: Routledge, 1995), 7–86, 68–69.
[71] Por exemplo, Hans Mayer, um professor de economia na Universidade de Viena, praticava a economia neoclássica e não considerava as conclusões políticas de Misescomo sendo inerentes a ela. Earlene Craver, “The Emigration of the Austrian Economists” [“A emigração dos economistas austríacos”], History of Political Economy 18 (1986): 1–32, 10. Becchio discute Polanyi e Neurath, que criticavam a abordagem política de Mises mas utilizavam as mesmas ferramentas analíticas. Giandomenica Becchio, “Two Heterodox Economists: Otto Neurath and Karl Polanyi,” [“Dois economistas heterodoxos: Otto Neurath e Karl Polanyi”] Working Paper No. 11/2005, University of Torino, www.cesmep.unito.it/WP/2005/11_WP_Cesmep.pdf, 16.
[72] Lavoie, Rivalry [“Rivalidade”], 3.
[73] W. H. Hutt, “Economic Institutions and the New Socialism” [“Instituições econômicas e o novo socialismo”], Economica 7, no. 28 (1940): 419–34.
[74] Hoje, a LSE é famosa pelas batalhas entre o defensor do Estado de bem-estar social William Beveridge e o crítico do Estado de Bem-Estar Social da Escola Austríaca, Hayek.
[75] Essa citação é utilizada por Kurz, “Marginalism,” [“Marginalismo”] 24, mas supostamente vem de Karl Marx e Friedrich Engels, Briefe über ‘Das Kapital’ [Correspondência sobre “O Capital”] (Berlin: Dietz, 1954), 352.
[76] “The London School of Economics 1895–1945” [‘A Escola de Economia de Londres, 1895-1945“], Economica 13 (1946): 1–31.
[77] A. P. Lerner, “Economic Theory and Socialist Economy” [“Teoria econômica e economia socialista”], The Review of Economic Studies 2 (1934): 51–61; Oskar Lange, “On the Economic Theory of Socialism: Part One,” [Sobre a teoria econômica do socialismo: parte um], The Review of Economic Studies 4 (1936): 53–71; Oskar Lange, “On the Economic Theory of Socialism: Part Two,” [Sobre a teoria econômica do socialismo: parte dois], The Review of Economic Studies 4 (1937): 123–42.
[78] Ronald Coase, “The Nature of the Firm: Origin” [“A natureza da empresa: origem”], Journal of Law, Economics, and Organization 4 (1988): 8; Kenneth J. Koford, Jeffrey B. Miller, e David C. Colander, “Application of Market Anti- Inflation Plans in the Transition to a Market Economy” [“Aplicação de planos de mercado anti-inflação na transição para uma economia de mercado”] Eastern Economic Journal 19 (1993): 379.
[79] Peter J. Boettke, “Hayek and Market Socialism: Science, Ideology, and Public Policy” [“Hayek e o socialismo de mercado: ciência, ideologia e política pública”], palestra de Hayek na LSE, Outubro de 2004, 9, mises.org/etexts/ hayek2004.pdf.
[80] Michelini também argumentou que Hayek reuniu uma “cacofonia” de diferentes vozes. Luca Michelini, “Marginalismo e socialismo nell’Italia liberale, 1870–1925” (“Marginalismo e socialismo na Itália liberal, 1870–1925”), em Guidi e Michelini, Marginalismo e Socialismo, xli- cxxxi, cxxvi.
[81] H. D. Dickinson, Economics of Socialism [“Economia do socialismo”] (London: Oxford University Press, 1939), 205.
[82] Lange afirmou: “O sistema capitalista está muito distante do modelo de economia competitiva elaborado pela teoria econômica, e mesmo que o sistema capitalista tivesse conformidade com o modelo, ele estaria longe de maximizar o bem-estar social. Só uma economia socialista pode satisfazer plenamente a afirmação feita por muitos economistas em relação às conquistas da livre concorrência.” Lange, “On the Economic Theory of Socialism: Part Two,” [Sobre a teoria econômica do socialismo: parte dois], 127, 132–137.
[83] Após a Segunda Guerra Mundial, a pedido de Joseph Stalin, Lange retornou para a Polônia para lecionar e para ser conselheiro do governo. Tadeusz Kowalik, “Biography of Oskar Lange” [“Biografia de Oskar Lange”], em On Political Economy and Econometrics: Essays in Honour of Oskar Lange [“Sobre política econômica e econometria: ensaios em homenagem a Oskar Lange”] (Oxford: Pergamon Press, 1965), 1–13. A posterior chegada de Milton Friedman ao Departamento de Economia da Universidade de Chicago marcou uma mudança na política do departamento.
[84] Kenneth Arrow, “A Cautious Case for Socialism” [“Uma defesa cautelosa do socialismo”], Dissent 25 (1978): 476. Incluía agradecimentos “especialmente ao professor aqui em Columbia ao qual devo tanto, intelectualmente e pessoalmente, Harold Hotelling” (ibid.). Hotelling foi o orientador da dissertação de Kenneth Arrow e de outro economista neoclássico, Milton Friedman.
[85] De acordo com Caldwell, à medida que Hayek se tornava mais envolvido nos debates sobre o socialismo, ele “decidiu que era necessária uma abordagem mais integradora ao estudo de fenômenos sociais complexos, que a análise econômica padrão tomada por si só poderia ser inadequada, se não enganosa, para a compreensão dos problemas do socialismo.” Caldwell, “Hayek and Socialism” [“Hayek e socialismo”], 1857.
[86] Nikolai Bukharin, “Preface to the Russian Edition” [“Prefácio à edição russa”] Economic Theory of the Leisure Class [“Teoria econômica da classe ociosa”] ([1919] 1927), www.marxists.org/archive/bukharin/works/1927/leisure- economics/index.htm.
[87] Johanna K. Bockman e Michael Bernstein, “Scientific Community in a Divided World: Economists, Planning, and Research Priority During the Cold War” [“Comunidade científica em um mundo dividido: Economistas, planejamento e prioridade de pesquisa durante a Guerra Fria”], Comparative Studies in Society and History 50 (2008): 581–613; Slava Gerovitch, From Newspeak to Cyberspeak: A History of Soviet Cybernetics [“Da novilíngua à ciberlíngua: uma história da cibernética soviética”] (Cambridge, MA: MIT Press, 2002); Aron Katsenelinboigen, Soviet Economic Thought and Political Power in the USSR [“Pensamento econômico soviético e poder político na USSR”] (New York Pergamon Policy Studies, 1980), 28; Joseph Schumpeter, History of Economic Analysis [“História da análise econômica”] (New York: Oxford University Press, 1966); Pekka Sutela, Economic Thought and Economic Reform in the Soviet Union [“Pensamento econômico e reforma econômica na União Soviética”] (Cambridge: Cambridge University Press, 1991), 17.
[88] Roy Gardner, “L. V. Kantorovich: The Price Implications of Optimal Planning” [“L. V. Kantorovich: as implicações de preço do planejamento otimizado”], Journal of Economic Literature 28 (1990): 638–48, 640. 89. Gerovitch, From Newspeak [“Da novilíngua”], 269.
[90] De acordo com Gerovitch, economistas na União Soviética também desenvolveram modelos de planejamento descentralizado entre meados e o fim da década de 1960. Ibid., 274.
[91] Sabrina P. Ramet, The Three Yugoslavias: State- Building and Legitimation, 1918–2005 [“As três Iugoslávias: construção e legitimação estatal”] (Washington, DC: Woodrow Wilson Center Press, 2006), 190–91.
[92] Deborah D. Milenkovitch, Plan and Market in Yugoslav Economic Thought [“Plano e mercado no pensamento econômico iugoslavo”] (New Haven: Yale University Press, 1971); Dennison I. Rusinow, The Yugoslav Experiment, 1948–1974 [“O experimento iugoslavo, 1948-1974”] (London: C. Hurst for the Royal Institute of International Affairs, 1977).
[93] Rusinow, The Yugoslav Experiment [‘O experimento iugoslavo“], 231.
[94] De acordo com Kidric, em 1949, a lei do valor “se tornou uma poderosa arma do planejamento, um meio de realizar as tarefas da construção socialista que foram pensados antecipadamente no plano.” Milenkovitch, Plan and Market [“Plano e mercado”], 58. Mais tarde, na década de 1970, altos funcionários do partido rejeitariam o mercado e a lei do valor como uma ferramenta para o socialismo. Deborah D. Milenkovitch, “The Case of Yugoslavia” [“O caso da Iugoslávia”], American Economic Review 67 (1977): 58.
[95] Boris Kidric, “Teze o ekonomici prijelaznog perioda u našoj zemlji” [“Tese sobre o período de transição econômica no nosso país”], em Socijalizem i ekonomija [“Socialismo e Economia”], ed. Viljem Merhar (Zagreb: Globus, [1950] 1979), 89.
[96] Citado em Benjamin Ward, “The Firm in Illyria,” [“A empresa em Ilíria”] American Economic Review 48 (1958): 569.
[97] John Michael Montias, “Economic Reform and Retreat in Jugoslavia” [“Reforma econômica e recuo na Iugoslávia”], Foreign Affairs 37 (1959): 293–305.
[98] Rusinow, The Yugoslav Experiment [‘O experimento iugoslavo“], 63, 173, 207.
99. “Skupština Economskog Fakulteta u Zagrebu” [“Congresso de Economia da Faculdade de Economia de Zagreb”], Ekonomski Pregled [“Revista Econômica”] 6 (1955): 1027; Branislav Šoškic, “Opšti pogled na stanje naše ekonomske nauke” [“Visão geral da condição da nossa ciência econômica”], Naša Stvarnost [“Nossa realidade””] 12 (1959): 613; Radivoj Uvalic, “Stanje i razvoj ekonomske misli i prakse i njihov medjusobni odnos u nasoj zemlji” [“A condição e desenvolvimento do pensamento e da prática econômica e suas relações mútuas no nosso país”], Ekonomist [“Economista”] 2 (1952): 24.
[100] Šoškic, “Opšti.”
[101] Alguns economistas já haviam estudado economia no estrangeiro durante a década de 1930s. Radivoj Uvalic, “The Teaching of Economics in Yugoslavia” [‘O ensino de economia da Iugoslávia“], em The University Teaching of Social Sciences: Economics [“O ensino universitário de ciências sociais: Economia”], eds. C.W. Guillebaud et al. (Amsterdam: UNESCO, 1954), 262.
[102] Ivan Maksimovic, “Professor Oskar Lange on Economic Theory of Socialism and Yugoslav Economic Thinking” [“Professor Oskar Lange sobre a teoria econômica do socialismo e o pensamento econômico iugoslavo”] em On Political Economy and Econometrics [“Sobre economia política e econometria”], 347.
[103] Ivan Maksimovic, Teorija Socijalizma u Grad¯anskoj Ekonomskoj Nauci [“A teoria do socialismo na ciência econômica burguesa”] (Belgrade: Nolit, 1958).
[104] Ibid., 17.
[105] Branko Horvat, Ekonomska Teorija Planske Privrede [“Teoria econômica da economia planejada”] (Belgrade: Kultura, 1961); Branko Horvat, Towards a Theory of Planned Economy [“Rumo a uma teoria da economia planificada”] (Belgrade: Yugoslav Institute of Economic Research, 1964), 14.
[106] Jože Mencinger, “Economics — Slovenia,” [“Economia – Eslovênia”] em Three Social Science Disciplines in Central and Eastern Europe: Handbook on Economics, Political Science and Sociology [“Três disciplinas de ciência social na Europa Central e no Leste Europeu: manual de economia, ciência política e sociologia”], eds. Max Kaase, Vera Sparschuh, e Agnieszka Wenninger (Berlin and Budapest: Social Science Information Centre and Collegium Budapest, 2002), 187–94.
[107] Milenkovitch, Plan and Market [“Plano e mercado”], 231; France Cerne, Tržište i cijene [“Mercados e preços”] (Zagreb: “Informator,” 1966). Este livro foi publicado originalmente em 1960 em esloveno, e depois foi publicado em sérvo-croata em 1966.
[108] Cerne, Tržište [“Mercado”], 236–37.
[109] Em 1968, Branko Horvat discutiu suas experiências particulares com tais ataques. Branko Horvat, Ekonomska nauka i narodna privreda: Ogledi i studije [“Ciência econômica e economia nacional: ensaios e estudos”] (Zagreb: Naprijed, 1968).
[110] O livro de Brus apareceu no Reino Unido e nos EUA como The Market in a Socialist Economy [“O mercado em uma economia socialista”] (London and Boston: Routledge and K. Paul, 1972).
[111] Brus, Market [“Mercado”], 41.
[112] Brus, Market [“Mercado”], 138, 70, 73, 82.
[113] Economistas húngaros rapidamente aprenderam sobre a obra de Brus, e Brus tornou-se uma das influências mais importantes sobre as reformas econômicas húngaras. László Szamuely, 1986. A Magyar Közgazdasági Gondolat Fejlo˝dése, 1954–1978 [“O desenvolvimento do pensamento econômico húngaro, 1954–1978”], ed. László Szamuely (Budapest: Közgazdasági és Jogi Könyvkiadó, 1986), 266, 307.
[114] Como discute Gerovitch, alguns planejadores também buscaram o planejamento descentralizado por meio da cibernética, mas, durante a década 1970, tanto as ideias centralizadas quanto descentralizadas mantinham as hierarquias existentes. Gerovitch, From Newspeak [“Da novilíngua”], 9, 274.
[115] Tamás Bauer, “The Second Economic Reform and Ownership Relations: Some Considerations for the Further Development of the New Economic Mechanism” [“A segunda reforma econômica e relações: algumas considerações para aprofundar o desenvolvimento do novo mecanismo econômico”], Eastern European Economics 22 (1984): 33–87; Horvat, Towards a Theory [“Rumo a uma teoria”].
[116] Branko Milanovic, mensagem de email para o autor, 4 de janeiro, 2008.
[117] Naomi Klein reconheceu de maneira semelhante que os europeus orientais entenderam aquele ano como um momento de possibilidades: “em 1989, a história estava dando em uma reviravolta emocionante, entrando num período de abertura e possibilidade genuínas.” Naquele momento, Ralf Dahrendorf observou de forma semelhante: “os países que abandonaram o socialismo realmente existente não abraçaram no lugar dele um outro sistema como o capitalismo, eles escolheram a sociedade aberta, na qual há uma centena de diferentes caminhos à frente para a liberdade, e um punhado de ofertas a qualquer momento.” Naomi Klein, The Shock Doctrine: The Rise of Disaster Capitalism (New York: Metropolitan Books, 2007) [A Doutrina do choque: a ascensão do capitalismo do desastre (Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 2008)], 184; Ralf Dahrendorf, Reflections on the Revolution in Europe [“Reflexões sobre a revolução na Europa”] (New Brunswick: Transaction [1990] 2005), 116–17.
[118] Os socialistas vinham discutindo “a transição” por décadas antes de 1989, seja ela a transição do capitalismo para o socialismo ou comunismo, ou a transição do socialismo estatal para o socialismo de autogestão dos trabalhadores, ou a transição do socialismo estatal para uma economia de mercado no interior do socialismo.
[119] János Kornai, “Comments and Discussion” [“Comentários e discussão”], em “Creating a Market Economy in Eastern Europe: The Case of Poland” [“Criando uma economia de mercado no Leste Europeu: o caso da Polônia”], Brookings Papers on Economic Activity 1 (1990): 141.
[120] Éva Voszka, “Ownership Reforms or Privatization?” [“Reformas de propriedade ou privatização?”] Eastern European Economics 30 (1991): 80. Ver também a nota 117.
[121] János Kornai, The Road to a Free Economy [“A estrada para uma economia livre”] (New York: Norton, 1990), 57.
[122] Por exemplo, ver László Szamuely, “The First Wave of the Mechanism Debate (1954–1957)” [“A primeira onda do debate sobre o mecanismo (1954-1957)”], Acta Oeconomica 29 (1982): 1–24; “The Second Wave of the Mechanism Debate in Hungary and the 1968 Reform in Hungary” [“A segunda onda do debate sobre o mecanismo na Hungria e a reforma húngara de 1968”], Acta Oeconomica 33 (1984): 43–67.
[123] Referindo a Iugoslávia, Rajko Tomaš escreveu, “as novas reformas econômicas anunciam uma mudança radical e buscam ser a primeira reforma econômica de sucesso no socialismo.” Rajko Tomaš, “Preduzetništvo i privredna reforma” [“Empreendedorismo e reforma econômica”], Naše Teme [“Nossos temas”] 33 (1989): 2880. Gligorov se referia às reformas de 1989 na Iugoslávia como sendo “a quinta reforma, verdadeiramente sistêmica.” Vladimir Gligorov, “Yugoslav Economics Facing Reform and Dissolution” [“Economia iugoslava encarando reforma e dissolução”] em Economic Thought in Communist and Post- Communist Europe [“Pensamento econômico na Europa comunista e pós-comunista”], ed. Hans- Jürgen Wagener (London: Routledge, 1998), 338.
[124] Em 1989, o especialista britânico na economia soviética Alec Nove se sentia perturbado pela popularidade dessas ideias no Leste Europeu: “pode ser tentador adotar uma filosofia ‘socialista-de-mercado- laissez-faire’, e havia algumas pessoas que acreditavam (acreditavam?) que o laissez faire funcionaria melhor no socialismo do que no capitalismo monopolista.” Alec Nove, “The Role of Central Planning under Capitalism and Market Socialism” [“O papel do planejamento centralizado no capitalismo e no socialismo de mercado”], em Alternatives to Capitalism [“Alternativas ao capitalismo”], ed. Jon Elster and Karl Ove Moene (Cambridge: Cambridge University Press, 1989), 105.
[125] Economistas de formação neoclássica também escreveram um número surpreendente de livros sobre o socialismo de mercado. Por exemplo, Pranab K. Bardhan e John E. Roemer, eds., Market Socialism: The Current Debate [“Socialismo de mercado: o debate atual”] (New York: Oxford University Press, 1993); Włodzimierz Brus e Kazimierz Laski, From Marx to the Market: Socialism in Search of an Economic System [“De Marx ao mercado: socialismo em busca de um sistema econômico”] (Oxford: Clarendon Press, [1989] 1991); Julian Le Grand e Saul Estrin, eds., Market Socialism [“Socialismo de mercado”] (Oxford: Clarendon Press, 1989); J. E. Meade, Agathotopia: The Economic Partnership [“Agathotopia: a parceria econômica”] (Aberdeen, UK: Aberdeen University Press, 1989); J. E. Meade, Liberty, Equality, and Eficiency: Apologia Pro Agathotopia Mea [“Liberdade, igualdade e eficiência: Apologia Pro Agathotopia Mea”] (New York: New York University Press, 1993); D. Mario Nuti, “Perestroika: Transition from Central Planning to Market Socialism” [“Perestroika: transição do planejamento central para o socialismo de mercado”], Economic Policy 3 (1988): 353–89; Christopher Pierson, Socialism after Communism: The New Market Socialism [“Socialismo depois do comunismo: o novo socialismo de mercado”] (University Park: Pennsylvania State University Press, 1995); Ota Šik, Socialism Today? The Changing Meaning of Socialism [“Socialismo hoje? O significado em transformação de socialismo”] (New York: St. Martin’s Press, 1991).
[126] Tamás Nagy, “What Makes a Market Economy Socialist?” [“O que torna socialista uma economia de mercado”] Acta Oeconomica 40 (1989): 259–264. Como observou O’Neil, por volta de 1988 uma nova oposição de massa no interior do Partido Comunista Húngaro estava “comprometida com salvar o socialismo por meio da oposição ao sistema ‘bolchevique’ soviético que claramente havia dado errado.” Patrick H. O’Neil, Revolution from Within: the Hungarian Socialist Workers’ Party and the Collapse of Communism [“Revolução a partir de dentro: o Partido dos Trabalhadores Socialistas Húngaros e o colapso do comunismo”] (Cheltenham, UK: Edward Elgar, 1998), xiii.
[127] Václav Klaus, “The Imperatives of Long- Term Prognosis and the Dominant Characteristics of the Present Economy” [“Os imperativos do prognóstico de longo prazo e as características dominantes da economia presente”], Eastern European Economics 28 ([1989] 1990): 45. De maneira semelhante, o reformador russo Yegor Gaidar se recorda de que na década de 1960 ele percebeu que o sistema soviético era “um sistema excessivamente estável, que nenhuma mera alfinetada jamais seria capaz de colocar em movimento.” Yegor Gaidar, Days of Defeat and Victory [“Dias de derrota e de vitóra”] (Seattle: University of Washington Press, 1999), 16.
[128] János Kornai, The Socialist System: The Political Economy of Communism [“O sistema socialista: a economia política do comunismo”] (Princeton, NJ: Princeton University Press, 1992), 377–379.
[129] Mihály Laki, “What Is the Solution?” [“Qual é a solução?”] Acta Oeconomica 40 (1989): 251.
[130] Nessa época, economistas reviveram uma noção anterior de desenvolvimento do “grande empurrão.” Por examplo, ver Kevin M. Murphy, Andrei Shieifer, e Robert W. Vishny, “Industrialization and the Big Push” [“Industrialização e o grande empurrão”], The Journal of Political Economy 97 (1989): 1003–26.
[131] Mudge, “What is Neo- liberalism?” [“O que é neo-liberalismo”] 723.
[132] Leszek Balcerowicz, “On the ‘Socialist Market Economy’” [“Sobre a ‘economia de mercado socialista’”], Acta Oeconomica 40 (1989): 184–89.
[133] Leszek Balcerowicz, “The ‘Socialist Calculation Debate’ and Reform Discussions in Socialist Countries” [“O ‘debate do cálculo socialista’ e as discussões de reforma nos países socialistas”], em Reform and Transformation in Eastern Europe: Soviet- Type Economics on the Threshold of Change [“Reforma e transformação no Leste Europeu: economia do tipo soviético na fronteira da mudança”], editado por János Mátyás Kovács and Márton Tardos (London and New York: Routledge, 1992), 11n13.
[134] Béla Csikós- Nagy, “Personal Comments on the Socialist Market Economy” [“Comentários pessoais sobre a economia de mercado socialista”], Acta Oeconomica 40 (1989): 218.
[135] A. Hegedus, “Merely a Beauty- Spot” [“Apenas um ponto de beleza”] Acta Oeconomica 40 (1989): 225.
[136] Os economistas poloneses Brus e Laski defendiam que, “devemos chamar de socialismo de mercado (SM) apropriadamente um sistema consistentemente reformado, o qual embora ainda esteja basedo na propriedade estatal em uma ou outra forma, inclua um mercado de capitais junto de mercados de produtos e de mão de obra.” Brus e Laski, From Marx [“De Marx”], 105.
[137] Jason McDonald, “Transition to Utopia: A Reinterpretation of Economics, Ideas, and Politics in Hungary, 1984 to 1990,” [“Transição para a utopia: uma reinterpretação da economia, ideias e da política na Hungria, 1984 a 1990”] East European Politics and Societies 7 (1993): 219.
[138] O economista italiano e especialista na economia polonesa D. Mario Nuti também criticava o modelo de Lange por criar um “capitalismo sem capitalistas”. Nuti, “Perestroika,” 383. Kornai criticava severamente a simulação: “ouso dizer que não sou o único por aí que está farto com a prática da simulação. Já tentamos colocar as mãos na simulação de uma série de coisas […] As adições mais recentes a essa lista são companhias de ações conjuntas simuladas, mercados de capitais simulados, e bolsas de valores simuladas. Juntos, esses avanços se somam para formar a Wall Street Húngara — feita de plástico!” János Kornai, By Force of Thought: Irregular Memoirs of an Intellectual Journey [“Pela força do pensamento: lembranças irregulares de uma jornada intelectual”] (Cambridge, MA: MIT Press), 419.
[139] Balcerowicz, “The ‘Socialist Calculation Debate’ ” [“O ‘debate do cálculo socialista’”] 13–14.
[140] Marangos discute duas formas de socialismo de mercado como modelos de transição. John Marangos, Alternative Economic Models of Transition [“Modelos econômicos de transição alternativos”] (Farnham, UK: Ashgate, 2004).
[141] Steven Roseielde, “Beyond Catastroika: Prospects for Market Transition in the Commonwealth of Independent States” [“Para além da Catastroika: perspectivas da transição de mercado na Comunidade de Estados Independentes”], Atlantic Economic Journal 20 (1992): 8.
[142] Balcerowicz, “The ‘Socialist Calculation Debate’ ” [“O ‘debate do cálculo socialista’”], 14n20.
[143] Segundo Estrin, para cada ano entre 1952 e 1973, “pode-se observar o impressionante registro de desenvolvimento iugoslavo, com o crescimento do produto industrial excedendo 10% ao ano em média, com base em 9% de média anual de aumentos no estoque de capital, 5% no emprego e produtividade, e proporções modestamente crescentes de capital-mão-de-obra.” Saul Estrin, “The Effects of Self-Management on Yugoslav Industrial Growth” [“Os efeito da autogestão sobre o crescimento industrial iugoslavo”], Soviet Studies 34 (1982): 73.
[144] John R. Lampe, Yugoslavia as History: Twice There was a Country [“Iugoslávia como história: duas vezes houve um país”] (Cambridge: Cambridge University Press, 1996); Harold Lydall, Yugoslavia in Crisis [“Iugoslávia em crise”] (Oxford: Clarendon Press, 1989); Susan Lampland Woodward, Balkan Tragedy: Chaos and Dissolution after the Cold War [“Tragédia nos Balcãs: caos e dissolução após a Guerra Fria”] (Washington, DC: Brookings Institution, 1995).
[145] Nuti escreveu, “o único modelo genuinamente novo — ou seja, diferente de variadas versões do modelo básico do tipo soviético — já em existência, é o modelo iugoslavo,“ ainda que ele achasse que o experimento iugoslavo não tinha um bom desempenho e que ‘ele pode muito bem vir a se provar um desvio [temporário].“ Nuti, “Perestroika,” 357, 383.
[146] Kornai, The Socialist System [‘O sistema socialista“], 473.
[147] Károly Attila Soós, “Privatization, Dogma- Free Self- Management, and Ownership Reform” [‘Privatização, autogestão livre de dogma e reforma de propriedade“], Eastern European Economics 28 ([1989] 1990): 68.
[148] Na Polônia, a autogestão dos trabalhadores desempenhou um papel central no Solidariedade: “ainda que compreendesse o socialismo de maneira diferente — como democrático, descentralizado e participativo — a ala esquerda do Solidariedade também enxergava a economia futura como sendo socializada, mas sob a autogestão da classe trabalhadora.” Voytek Zubek, “The Reassertion of the Left in Post- Communist Poland” [“A reafirmação da esquerda na Polônia pós-comunista”], Europe- Asia Studies 46 (1994): 802.
[149] Balcerowicz, “On the ‘Socialist Market Economy’ ” [“Sobre a ‘economia de mercado socialista’”] 185–86. A economista francesa e especialista em Leste Europeu Marie Lavigne observou de maneira semelhante que, “um socialismo de mercado não é equivalente a uma “economia mista” do tipo que se pode ter em países onde há um forte setor estatal lado a lado com um setor privado.” Marie Lavigne, “A Note on Market Socialism” [“Uma nota sobre o socialismo de mercado”], Acta Oeconomica 40 (1989): 251.
[150] Paczynska argumentou que, na Polônia, os direitos reafirmados “solidificaram a opinião entre os trabalhadores de que as empresas pertenciam aos empregados. Portanto, os trabalhadores assumiram que a privatização significava que os direitos formais de propriedade seriam transferidos diretamente para eles que no mínimo eles teriam uma voz decisiva no projeto e na implementação da reestruturação.” Agnieszka Paczynska, State, Labor, and the Transition to a Market Economy: Egypt, Poland, Mexico, and the Czech Republic [“Estado, mão de obra e a transição para uma economia de mercado: Egito, Polônia, México e República Tcheca”] (University Park, PA: Pennsylvania State University Press, 2009), 135. Em 1987–1988, as reformas soviéticas deram mais direitos aos coletivos de trabalhadores, encorajaram cooperativas e arrendaram ativos para os coletivos de trabalhadores John Logue, Sergey Plekhanov, e John Simmons, eds., Transforming Russian Enterprises: From State Control to Employee Ownership [“Transformando as empresas russas: do controle estatal à propriedade dos empregados”] (Westport, CT: Greenwood Press, 1995).
[151] Gligorov, “Yugoslav Economics” [“Economia Iugoslava‘] 341.
[152] Ibid.
[153] Por exemplo, ver Gianpaolo Baiocchi, Militants and Citizens: The Politics of Participatory Democracy in Porto Alegre [“Militantes e cidadãos: a política da participação democrática em Porto Alegre”] (Stanford: Stanford University Press, 2005); J. K. Gibson- Graham, A Postcapitalist Politics [“Uma política pós-capitalista”] (Minneapolis: University of Minnesota Press, 2006); Michael A. Lebowitz, Build it Now: Socialism for the Twenty- First Century [“Construir agora: socialismo para o século XXI”] (New York: Monthly Review Press, 2006); David Schweickart, After Capitalism [“Após o capitalismo”] (Lanham, MD: Rowman & Littleield, 2002); Erik Olin Wright, Envisioning Real Utopias [“Imaginando utopias reais”] (New York: Verso, 2010).
Sobre os autores
Johanna Bockman
é professora do departamento de Relações Internacionais da Universidade George Mason, onde pesquisa globalização, sociologia econômica, urbanização e o Leste Europeu. No momento, trabalha em um livro sobre as múltiplas globalizações e gentrificação em uma região da cidade de Washington, DC, e em outro sobre a crise da dívida da década de 1980 a partir do ponto de vista do "Segundo" e do "Terceiro Mundo". Seu principal trabalho publicado é <i>Markets in the name of socialism: the left-wing origins of neoliberalism</i> (“Mercados em nome do socialismo: as origens do neoliberalismo na esquerda”, Stanford University Press, 2011).